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{ Tag Archives } literatura

POETA CHILENO – Alajandro Zambra – Companhia das Letras – Tradução: Miguel Del Castillo

Este é um livro sobre a relação entre um padrasto e um enteado, suas reservas, suas cumplicidades, seus afetos seus silêncios…

Este é um livro sobre o mundinho dos escritores de um país sul-americano: suas mesquinharias, suas panelinhas, suas pequenas vaidades…

Este é um livro sobre o desencanto das mulheres com o mundo masculino: seu egoísmo, sua falta de diálogo, seu machismo…

Este é um livro sobre a cidade de Santiago: suas esquinas, suas livrarias, suas praças, seus bares e restaurantes…

Este é um livro sobre as pessoas que não venceram na vida (aliás sobre este conceito absurdo, fica aqui uma observação do cronista Antônio Maria que dizia que “a vida não é um páreo para ter vencedores e mesmo que fosse, todos os corredores chegariam empatados”).

Mas acima de tudo, este é um livro sobre a poesia chilena, afinal um país com dois prêmios Nobel em literatura, ambos poetas, é como um país Bicampeão Mundial em poesia… quem ler não só a estória do livro , mas pelo menos três poemas de cada autor citado, será contemplado com uma porção da produção poética de um país Bicampeão Mundial em poesia… e isto não é pouco…

Além dos contemplados com o Prêmio Nobel, Gabriela Mistral e Pablo Neruda, são citados Miguel Arteche, Gonzalo Rojas, Gonzalo Muñoz, Gonzalo Millán, Carlos Pezoa Véliz, Pablo de Rokha, Oscar Hahn, Claudio Bertoni, Verónica Jiménez, Elvira Hernández, Yanko González Henry Lihn, Raúl Zurita, Vicente Huidobro, etc. 

Também temos citações de outros poetas não chilenos como as americanas Marianne Moore e Emily Dikson, o boliviano Jaime Sáenz, o grego Yorgo Seferis, o peruano Luiz Hernández, o argentino Santiago Llach e até o brasileiro Haroldo de Campos…

Por fim, este livro é também uma homenagem ao escritor chileno Roberto Bolaño… a certa altura a personagem Pru (uma jornalista norte-americana) afirma que os personagens Vicente e Pato parecem personagens de Bolaño… quem já leu “Detetives Selvagens” irá perceber a semelhança com a dupla de personagens Arturo Belano e Ulisses Lima… 

Roberto Bolaño (para mim o maior romancista e contista chileno) também era poeta… Pato achava que Bolaño era um poeta menor… Vicente per sua vez achava-o bom, porém não na categoria de um Henrique Lihn… 

Saiu recentemente em Pindorama o único livro de poemas de Bolaño “A Univeridade Desconhecida”… leiam também este livro e vejam quem tem razão: Pato, Vicente ou nenhum dos dois…

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AS IF THE SEA SHOULD PART AND SHOW A FURTHER SEA

O título foi inspirado em um poema de Emily DIckson… adorei a imagem de um mar rompido mostrando outro mar.

Como se o Mar rompesse
Mostrando um outro Mar ―
E fosse ― um outro ― nesse
Mar ainda pré-formar ―

Mares do Mar ― que invade
As Praias singulares
De outros futuros Mares ―
Nestes ― a Eternidade ―

As if the Sea should part
And show a further Sea ―
And that ― a further ― and the There
But a presumption be ―

Of Periods of Seas ―
Unvisited of Shores ―
Themselves the Verge of Seas to be ―
Eternity ― is Those ―

(Tradução Augusto de Campos)

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I’m Nobody! Who are you?
Are you — Nobody — too?
Then there’s a pair of us!
Don’t tell! they’d advertise — you know!

How dreary — to be — Somebody!
How public — like a Frog —
To tell one’s name — the livelong June —
To an admiring Bog!

(Tradução Augusto de Campos)

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YO SIEMPRE REGRESSO A LOS PEZONES Y AL PUNTO 7 DEL TRACTATUS – Agustin Fernández Mallo – Editora Alfaguara

Em um hotel vazio devido ao final da temporada de turismo em Mahón, a capital de Menorca (uma das ilhas Baleares da Espanha)… um homem dialoga com o fantasma da mulher que o abandonou…  O relato, um discurso amoroso fraturado através de uma série de poemas em prosa narrados de maneira fragmentária, em um tom estóico no qual se destacam alguns oxímoros (*) e paradoxos (**) em que alguns trechos escritos reaparecem ao longo da obra (como na música clássica serialista), mostra a cidade abandonada devido ao final da temporada turística, relembra as horas de amor, os porres de gin, os passeios pela ilha, a paisagem portuária, etc.

Várias destas situações são comentadas por um personagem insólito: o pictograma masculino na porta do banheiro  do bar frequentado pelo narrador, vejam um exemplo: 

“Quando a mulher que te espera sentada naquela mesa ali, te abandonar , você vai acessar um lugar inconcebível até então, como apertar simultâneamente as teclas Enter e Escape, como eu, que por escrever grosserias nas paredes fui condenado a morrer e a não morrer aqui crucificado (parafusado como eles dizem), me disse o bonequinho do banheiro.” (a tradução é minha)

Na minha opinião este é o fator mais revolucionário desta obra: o pictograma masculino na porta do banheiro (el monigote de la puerta W.C.)… na poesia concreta os pictogramas foram incorporados como elementos gráficos na estrutura do poema… nesta obra, porém o pictograma não é mais aquele elemento gráfico, mas sim um personagem, na verdade o único interlocutor com o narrador… Quem conhece um pouco semiótica irá perceber até onde Agustín Fernández Mallo chegou… Muito provavelmente Décio Pignatari não leu este livro (***) mas se lesse iria adorar…

(*)“Pássaros sem céu, chuva sem céu, planetas sem céu…”

(**) “te busco e te encontro. Não te busco e também te encontro”

(***) Esta obra foi publicada originalmente em 2001 em uma tiragem reduzida sem distribuição em livrarias e só foi republicado em 2012 (ano do falecimento de Décio Pignatari).

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CAMPO SANTO – W.G. Sebald – Companhia das Letras – Tradução: Kristina Michahelles

Estes escritos póstumamente publicados de Sebald provem de duas fontes distintas: a primeira são esboços de um livro nunca concluído, misto de relato de viagem e ensaios filosóficos, na mesma linha do “Os Anéis de Saturno”, só que no lugar do litoral sudoeste da Inglaterra, o local visitado foi a Córsega… a segunda fonte são críticas literárias que foram lançadas em diversas revistas literárias e agora vem à tona agrupadas…

Da segunda parte, valem as observações sobre as pinturas de Peter Weiss, o resumo sobre a livro “Tinset” de Wolfgang Hildesheimeiner (que dificilmente irei ler em face não haver tradução na lingua portuguesa), sobre o livro “Kafka vai ao Cinema” de Hans Zischler, sobre a obra de Bruce Chatwin, cujo livro”Patagônia” pretendo ler, em breve…

Da parte inicial o destaque fica por conta do texto que dá nome ao livro: “Campo Santo”, um ensaio sobre o passeio que o escritor fez ao cemitério de Piana, descrevendo sua vegetação com herbários autocónes, a disposição das sepulturas segundo as classes sociais, os rituais de luto elaborados, bem como o costume dos locais de trajar roupas de luto por um longo periodo, o que fazia com que a paisagem local lembrasse as pinturas de Nicolas Poussin (“A Morte de Germânico”, “Massacre dos Inocentes”). Mas o mais impressionante são as lendas sobre os agrupamentos formados pelas pessoas falecidas a “communitá dei defunti” que vagavam pelos campos sussurando em voz de falsete, em uma conversa na qual única coisa que os humanos normais conseguiam distiguir era o nome da próxima pessoa que viria a integrar o tenebroso grupo… Outra lenda interessante é sobre os “acciatori”, pessoas que durante a noite deixavam seus corpos (em uma espécie de viagem astral) e ficavam agachados junto a rios ou fontes e esganavam coelhos ou raposas que vinham beber água e reconheciam no rosto dos animaizinhos agonizantes, o rosto do próximo membro da comunidade que iria falecer… porém, hoje está tudo mudado… e no final do texto Sebald dá sua explicação sobre o motive da mudança:

“Para onde vão os mortos de Buenos Aires e São Paulo, da Cidade do México, de Lagos e do Cairo, de Tóquio, Xangai e Mumbai? Pouquíssimos irão para uma tumba fria. E quem ainda se lembrará deles? Quem é que se lembra, de maneira geral? Memória, conservação e manutenção, escreveu Pierre Bertaux sobre a mutação da humanidade trinta anos atrás, tinham importância vital apenas numa época em que a densidade demográfia era reduzida, os objetos produzidos mais escassos e o espaço, abundante. Não se podia abrir mão de ninguém, mesmo que já tivesse morrido. Já nas paisagens urbanas do final do século XX, em que qualquer um pode ser substituído e, na verdade já é excedente desde a hora em que nasceu, importa em descartar continuamente tudo de que podemos nos lembrar, esquecendo-nos sem piedade da juventude, da infância, da origem, dos antepassados e dos ancestrais.”

Penso que só este conceito de que “hoje somos excedentes desde a hora que nascemos” já vale o livro, mas para quem nunca W. G, Sebald eu recomendo que antes leiam “Os Anéis de Saturno” ou “Austerlitz” que foram obras concebidas em integridade, seja em um relato de viagem filosófico, seja em uma obra de ficção… porém quando o escritor tem talento, qualquer “catadão de textos” já vale a pena…

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AUSTERLITZ – W. G. Sebald – Tradução: José Marcos Macedo – Editora: Companhia das Letras

Este é um daqueles livros em que o narrador encontra uma pessoa que narra a sua estória… porém diferentemente de “A Sonata de Kreutzer” (Tostói) ou “Grande Sertão Veredas” (Guimarães Rosa) onde o personagem conta sua vida em uma só tacada, no livro de Sebald a estória é contada aos solavancos… no início o narrador encontra o personagem, Austerlitz, por acaso na estação ferroviária de Antuérpia, onde divagam primeiro sobre a arquitetura daquela estação projetada por Louis Delacenserie, passando a conversar sobre a arquitetura militar, em especial sobre a fortificação em forma de pentágono construída para defender Antuérpia projetada pelo engenheiro italiano Francesco Paciotto. Tempos depois, voltam a se encontrar por acaso em Liége e em Zeebruge, quando o narrador descobre que Austerlitz é um professor de história da arte residente em Londres e passa a visitá-lo sempre que vai para capital inglesa… Porém eles perdem o contato por duas décadas e só voltam a se encontrar por acaso na estação ferroviária de Liverpool, onde a conversa é retomada do ponto em que tinha sido interrompida …

Diferentemente também dos livros retomencionados, é que neste caso Austerlitz a princípio não sabe bem qual é a sua própria estória, pois fora criado no País de Gales por pais adotivos e aos quatorze anos descobre que seu nome verdadeiro não era Dafydd Elias, mas Jacques Austerlitz… e enquanto vai esporadicamente se encontrando com o narrador e discutindo os mais diversos assuntos, Austerlitz vai descobrindo seu passado e para tal, percorrendo outros países e aprendendo outras línguas …

Em meio esta narrativa, temos considerações sobre os cercos de Antuérpia (em 1832 e em 1914), a batalha de Austerlitz (onde Napoleão derrotou as forcas russas e austríacas em 1805), uma aquarela de Turner (“Funeral at Lausanne”), a arquitetura de diversas estações ferroviárias, a história de Terezín (uma fortificação tcheca construída e no século XVIII que se tornou um campo de concentração na Segunda Guerra Mundial), a construção da Biblioteca Nacional da França (um monstrengo projetado por Dominique Perrault, na série de monumentos horrorosos que a gestão de Mitterand impingiu à cidade-luz como aquela pirâmide medonha no Louvre), com o respectivo fechamento da Biblioteca Richilieu (*) muito mais charmosa e aconchegante, a cidade balneário de Mariembad (Mariánské LáznÄ›), o pintor italiano Gastone Novelli (que chegou a residir no Brasil entre 1950 e 1954, participando das duas primeiras Bienais de São Paulo), etc.

Enfim, trata-se de uma grande obra, misto de ficção, ensaio e relatos de viagem, ilustrada com uma série das mais estranhas fotografias (que o personagem teria doado ao narrador)… vale a pena ler, principalmente pela noção de um capitalismo nebuloso e crepuscular no qual a opressão, a crueldade, a ganância e uma demência disfarçada de racionalidade, permeiam uma suposta ordenação do espaço urbano e rural, gerando cenários de abandono e desolação em ambientes desumanos supostamente glamurarizados… Leiam!!!

(*) Construída em 1635 a Biblioteca Richilieu estava fechada em 2001 (quando Sebald escreveu este livro, mas felizmente foi reaberta em 2016).

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RICARDO II – William Shakespeare – Tradução: Barbara Heliodora – Editora Nova Fronteira

Outro dia, lendo “A Sombra do Vulcão” de Malcolm Lowry, deparei-me com uma citação de Shakespeare sobre um “cormorão (*) insaciável”. Fui pesquisar e descobri que a frase do bardo inglês estava na peça Ricardo II:

“A vaidade, cormorão insaciável, devorando seus meios, devora a si próprio.”

Após um tempo, finalmente li “Ricardo II”, peça histórica baseada no personagem homônimo, também conhecido como Ricardo de Bordeaux, que governou a Inglaterra entre 1377 e 1399. É a única peça de Shakespeare que trata sobre a deposição de um rei… No caso, Ricardo II, acusado de ter tramado o assassinato de seu tio para ususpar o trono, se vê obrigado a exilar seu primo Henrique de Bolingbroke, duque de Hereford, que havia se envolvido em um duelo com outro nobre, Mowbray, Duque de Norfolk.

Após a morte do Duque de Lancaster, Conde de Gaunt (pai de Bolingbroke e proclamador da frase retromencionada), Ricardo II usurpa os bens de seu primo e vai para a Irlanda combater os rebeldes. É interessante que como ele não tinha dinheiro para sustentar esta guerra, ele toma emprestado de outros poderosos e concede aos mesmos os direitos de cobrar impostos da população (ou seja, no século XIV já existiam as privatizações).

Henrique volta do exílio com um exército e os nobres descontentes com o governo de Ricardo II, decidem se unir a ele… quando o rei retorna da Irlanda, verifica que não possui mais apoio e abdica em favor de seu primo, que passa a se chamar Henrique IV.

Quando na prisão, entre momentos de loucura e arrependimento, Ricardo II profere vários discursos que são o ponto alto da obra:

“Gastei meu tempo, e hoje o tempo me gasta; O tempo fez de mim o seu relógio: Idéias são minutos, que suspiram Marcando em meu olhar, o mostrador, A hora que o meu dedo, que é ponteiro, Fica indicando, ao me limpar as lágrimas.”

Talvez o ponto mais interessante desta peça (e talvez de todas as obras históricas de Shakesperare) seja o distanciamento entre a figura histórica de Ricardo II (que jamais teria a capacidade de elaborar um discurso tão requintado) e o personagem shakesperiano Ricardo II… ou seja, uma obra de arte é uma uma obra de arte e não uma biografia: a grandeza de um autor, seja escritor, dramaturgo, cineasta ou ator é enriquecer e dar complexidade ao personagem histórico… não fazer igualzinho, tim-tim por tim-tim.

Seja como for,como diria Harold Bloom, é lendo Shakespeare é que nos tornamos civilizados.

(*) cormorão: corvo-marinho, no Brasil também é conhecido como biguá

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A TEMPESTADE – William Shakespeare – Tradução: Barbara Heliodora – Editora Nova Fronteira Confesso que sou um daqueles leitores que cabularam a aula… já li toda (ou praticamente toda) a obra de Machado de Assis, James Joyce, Edgar Allan Poe, Charles Baudelaire, Jorge Luis Borges, Antonio Di Benedetto, Roberto Bolaño, Malcolm Lowry, Almada Negreiros, porém, de Shakespeare só tinha lido Hamlet e Macbeth… uma vergonha… Outro dia li a seguinte frase da Oscar Wilde: “A aversão do século XIX ao Realismo é a cólera de Caliban ao ver seu próprio rosto no espelho. A aversão do século XIX ao Romantismo é a cólera de Caliban ao não ver seu próprio rosto no espelho.” Ao verificar que Caliban é um dos personagens da última peça de Shakespeare, resolvi ler “A Tempestade”. Além de ser uma obra diferenciada do bardo inglês (os personagens estão todo o tempo encantados com os poderes que o personagem principal – Próspero – obtém dos seus livros de magia… e o mais surpreendente em uma obra shakesperiana: ninguém morre) é também a mais polêmica: alguns dizem que seria uma crítica ao colonialismo na qual Próspero faz o papel do colonizador, Ariel o papel dos intelectuais (ou da elite colonizada) e Caliban das massas oprimidas; outros dizem que seria uma alegoria do processo artístico com Próspero representando a condição do artista, Ariel representando a relação do artista com seu próprio talento, Caliban representando o papel auto-destrutivo do artista e Miranda (a filha de Próspero) seria o espectador… Vitor Hugo disse que “A Tempestade” era um complemento do Gênese bíblico… por fim, das várias interpretações, a que mais prefiro é aquela que diz que ninguém morre nesta peça porque todos os personagens já estão mortos, sendo aquela ilha do mediterrâneo, uma das estâncias do além… Na verdade o que importa é você ler e tirar suas próprias conclusões, talvez descobrir uma nova interpretação, ou talvez mandar toda esta teoria literária para aquele lugar e descobrir que um bom texto, é simplesmente um bom texto e que propiciará ao leitor uma abertura de consciência, seja lá o que signifique… ou seja, que se lasque o significado, o importante é o significante!

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MRS. DALLOWAY – Virginia Woolf – Tradução: Gabriela Maloucaze – Editira Mediafashion Travelling é aquela técnica cinematográfica na qual a câmera se movimenta fazendo vários enquadramentos sem cortes. Foi usada magistralmente por Orson Welles na abertura de “Marca da Maldade” (Touch of Evil) ou naquela cena no estádio do Racing Club de Avellaneda em “Segredo dos Seus Olhos” de Juan José Campanella… existem até filmes feitos com um único travelling como “Festim Diabólico” (Hope) de Hitchcock… O que poucos sabem, foi que o travelling na verdade, começou na literatura em 1925, quando o cinema apenas engatinhava… Neste romance, o foco narrativo muda de personagem para personagem, na medida que os mesmos se encontram (ou ao menos se avistam) ao longo do dia em que se passa a narrativa, como se fosse uma câmera/gravador que registrasse suas ações e pensamentos. Na minha opinião esta é a maior qualidade deste livro: a invenção do travelling, técnica que seria depois absorvida pela industria cinematográfica… mas tem mais: o livro faz uma crítica, seja da hipocrisia social da classe alta, seja do ressentimento boçalizado das classes empobrecidas… seja da insensibilidade dos médicos, seja da falta de amparo à multidão de soldados que participaram de Primeira Guerra Mundial e ficaram com sequelas mentais… Virginia Woolf também explora a técnica do monólogo interior, sem contudo radicalizar para a técnica do fluxo da consciência, utilizada três anos antes por James Joyce em “Ulisses” (outro romance que também se passa em um único dia)… Embora seja evidente a influência de Joyce, Virginia Woolf não gostava de “Ulisses”; definindo-o como “obra de um homem frustrado, que sente que para ser capaz de respirar, precisa quebrar as janelas”… Mas não cabe aqui polemizar, sobre quem é mais criativo do que quem… Virginia Woolf, para mim, é uma das melhores escritoras que existiram, no nível de Hilda Hilst e Valéria Luiselli… E “Mrs Dalloway” é seu melhor livro… Leiam e se puderem, acompanhem suas andanças pelas ruas de Londres através deste site: http://mrsdallowaymappingproject.weebly.com/

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POETAS PAULISTAS DA SEMANA DE ARTE MODERNA – Mário da Silva Brito – Editora Martins No ano que vem a Semana de Arte Moderna fará 100 anos… pensando nisso resolvi me informar melhor, pois além de “Macunaíma”, “Juca Mulato”, “Memórias Sentimentais de João Miramar”, “Serafim Ponte Grande”, “O Perfeito Cozinheiro das Almas Deste Mundo”, “Klaxon” e o manifesto Antropofágico e Pau Brasil, não havia lido nada sobre a literatura modernista… Neste livro, editado pela editora do meu avô (Livraria Martins Editora), podemos ler uma seleção feita pelo poeta Mário da Silva Brito, dos poetas paulistas da Semana de Arte Moderna (foram excluídos o carioca Ronald de Carvalho e o pernambucano Manuel Bandeira) com poesias de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia, Ribeiro Couto, Sérgio Milliet, Luís Aranha, Tácito de Almeida e Plínio Salgado. Toda a coletânea é polêmica… após a leitura do livro, procurei ler outros poemas desta turma e verifiquei que na minha opinião, outras poesias deveriam ser incluídas nesta coletânea: como por exemplo “Cocktail” de Luís Aranha, “O Poema-Instante” de Guilherme de Almeida, “O Vôo” de Menotti Del Picchia, “O Poeta e a Guerra” de Sérgio Milliet, etc., porém toda seleção é pessoal, cada pessoa faria a sua própria escolha… Novesfora estas pequenas divergências, este livro apresenta poemas como “A Meditação Sobre o Rio Tietê” (para mim, o melhor poema de Mário de Andrade), “Noturno” (Oswald de Andrade), “Mormaço” (Guilherme de Almeida), “Unidade” (Sérgio Millet), “Poema Pitágoras” (Luís Aranha) e um poema (na época da edição inédito) de Tácito de Almeida (irmão de Guilherme de Almeida e pai do arquiteto Eduardo de Almeida (que foi meu professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) denominado “O Túnel”. Confiram… se não acharem este livro nos sebos, leiam ao menos os Manifestos de Oswald de Andrade e os poetas modernistas… 2022 está chegando…

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