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{ Monthly Archives } outubro 2023

REVENDO AMIGOS

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INFINITUDE OCÂNICA

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SWEETS SOUNDS OF HEAVEN

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BILLY BUDD – Herman Melville – Tradução: Bruno Gambarotto – Editora Grua

Embora seja uma obra menos conhecida do autor de “Moby Dick”, “Barterbly” e ”Benito Cereno”, bem como de apresentar uma trama bem mais simples que estes escritos, “Billy Budd” é uma novela que depois de lida, revela camadas ocultas e significados inesperados, após o texto ser devidamente digerido.

A trama se passa em um navio de guerra inglês, H. M. S: Bellipotent, no período entre a revolta armada em Nore, em1797, conhecida como “O Grande Motim” e aquela que talvez seja o maior triunfo da marinha britânica, “A Batalha de Trafalgar”, em 1805, ou seja, uma época na qual os comandantes da esquadra inglesa, assombrados com o que ocorrera na França um pouco antes (a queda da Bastilha ocorreu em 1789) estavam empenhados na manutenção da disciplina… 

Neste contexto,a interação entre os três personagens – Billy Budd, o marinheiro bonitão e simpático, querido pelos companheiros; o capitão Edward Fairfax Vere, experiente, resoluto e ao mesmo tempo apreciador de bons livros, respeitado pela tripulação; e o mestre-d’armas (responsável pela disciplina dos marinheiros) John Claggart, que embora eficiente, ingressara na marinha em idade avançada (o que os marinheiros atribuíam a uma vida pregressa) – leva a novela a um desenlace que antecipa um gênero que seria criado muito tempo depois pelo cinema norte-americano: um julgamento, no qual os argumentos das diversas partes , bem como o veredito proferido, são a parte mais importante da obra. 

Aqui fica o comentário de Leon Howard no livro “Herman Melville” (coleção escritores norte americanos – Livraria Martins Editora – tradução da minha querida avó, Edith Pestana Martins):

“ ‘Billy Bud’ tem quase tantos significados para quantos leitores quanto Moby Dick e talvez pelas mesmas razões. Este livro tem a ambivalência oculta de qualquer obra de arte que se desenvolva pela acreação e não pelo desígnio, a ambiquidade que é encontrada em qualquer tentativa inteligente e honesta para resolver o profundo problema da conduta humana, e a força que um autor só transmite à sua obra quando conseque capturar em seu próprio ser as principais tensões de sua idade. Pois o problema que angustiou Melville em Billy Bud não foi o problema do conhecimento, que tanto o preocupou na mocidade. Foi o problema do homem. É ele um ser social responsável pelo bem estar da sociedade a que pertence? Ou é ele, um indivíduo moral independente, responsável para com sua consciência privada por sua culpa ou inocência?”

Mais um adendo: reparem na diferença no qual o personagem Billy Bud é descrito na narrativa, no jornal de assuntos navais e na balada popular. Onde estará a verdade? Será que a narrativa não é mentirosa? Será que o Billy Bud “verdadeiro” é o do jornal? Ou será o da canção popular?

DISRUPÇÕES URBANAS

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NARRATIVAS INQUIETAS

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MANTINI

Esta receita eu aprendi na coluna de meu colega de ginásio, colegial e faculdade Daniel Benevides

3 partes de gin

1 parte de cerveja british bitter ale (de acordo com o guia Difford’s, eu utilizei uma Indian Pale Ale)

Coloque uma em uma coqueteleira com gelo e mexa. Sirva em uma taça previamente gelada. Adicione uma azeitona.

É interessante que a cerveja é usada como tempero.

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ADÁN BUENOSAYRES – Leopoldo Marechal – Ediciones Corregidor

Leopoldo Marechal é um dos autores mais injustiçados da literatura argentina… Colaborador de revistas literárias como Proa e Martin Fierro, era amigo de Jorge Luis Borges, Vitoria Ocampo e demais escritores… Porém sua adesão ao peronismo e a forma irônica com que expôs a intelectualidade portenha em seu romance de estréia editado em 1948, colocou-o em um ostracismo… na época, somente um jovem escritor elogiou o livro… um tal de Julio Cortázar…

Este livro nunca foi traduzido em português…. Uma falha gravíssima de nossas editoras (inclusive da Livraria Martins Editora, que pertenceu a meu avô, que lançou Antônio Cândido, Lygia Fagundes Telles e Jorge Mautner, mas não lançou Leopoldo Marechal em solo brasileiro)…

O livro começa com “O Prólogo Indispensável” onde um narrador denominado L.M. descreve o enterro do personagem Adán Buenosayres e informa que irá narrar seus derradeiros dias e também dois textos escritos por Adán: “O Caderno de Capas Azuis” e “A Viagem  a Obscura Cidade de Cacodelphia”       . Na verdade nesta parte inical já está prefigurado o final do livro, como bem observa Javier de Navascués no prólogo do livro, citando “East Coker” de T. S. Eliot: “In my beginning is in my end, in my end is my beginning.”

Depois do prólogo, temos sete livros, os cinco primeiros descrevem os últimos dias do escritor: o despertar do protagonista, sua conversa com seu vizinho de quarto de pensão, Samuel Tesler (baseado no escritor Jacobo Fijman), as andanças em Vila Crespo, onde avista a igreja do Cristo de mãos quebradas, sua incursão em uma tertúlia literária no bairro de Saavedra onde ele entrega sua obra literária “O Caderno de Capas Azuis” àquela a quem tanto ama, Solveig Amundsen… esta, recusa a leitura e lhe devolve a obra… a partir daí uma serie de acontecimentos se sucedem com o protagonista e seus amigos, todos baseados em pessoas reais: além da similaridade de Samuel Tesler/Jacobo Fijman, Jorge Luis Borges é Luis Pereda, Xul Solar é  Schultze, Raúl Scalabrini Ortiz é Bernini, Norah Lange é Solveig Amundsen, etc. Estes cinco livros são narrados em tom de epopéia com um paralelismo com a Odisséia, numa clara referência a Ulisses de James Joyce.

Já no sexto livro “O Caderno de Capas Azuis”, o tom muda, uma vez que não é uma obra escrita por Leopoldo Marechal, mas por seu personagem Adán Buenosayres… o estilo rebuscado lembra as obras do Século de Ouro da literatura espanhola, e em alguns momentos parece“O Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa, embora seja muito improvável que Leopoldo Marechal tivesse contato com a obra do escritor português.

O último livro é uma descida a Cidade de Cacodelphia, uma região infernal, onde Adan guiado por Schultze é conduzido aos círculos infernais em uma clara referência à Divina Comédia de Dante Alighieri, e também no final a Metamorfose de Kafka…

Adán Buenosayres é uma livro em que uma série de lacunas e elipses deixam uma obra em aberto, sujeita a uma série de conjecturas, por exemplo: não fica claro se “O Caderno de Capas Azuis” foi escrito antes ou depois de “A Viagem a Obscura Cidade de Cacodelphia”, e tanto uma quanto outra hipótese alteram significativamente o sentido da obra… Tive a felicidade de adquirir este exemplar na Feira do Livro de Buenos Aires, mas quem encomendá-lo e se aveturar a lê-lo será recompensado com um tipo de obra que foge do cânone da literatura latino-americana reconhecida, e que avança por territórios desconhecidos dentro um sofisticado contexto filosófico composto por Pseudo-Dionísio Areopagita, Leão Hebreu (Judá Abravanel), Plotino, Santo Agostinho, São Boaventura, etc. Segue um pequeno exemplo: 

“A verdade é infinita – disse –. E me parece que há duas maneira de abordá-la: uma é do vidente que, ao reconhecer a importância de sua finitude ante ao infinito, pede para ser assimilado pelo infinito pela virtude do Outro e pela morte de si mesmo – meu Caderno de Capas Azuis! -; a outra é a do cego que trata de abarcar o infinito com sua própia finitude, a qual é matematicamente impossível.” (Leopoldo Marechal, a tradução é minha).

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