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{ Monthly Archives } janeiro 2006

TRIBUTO A MAURÍCIO NOGUEIRA LIMA

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Um dia desses , amigos e amigos bebericavam em minha casa quando coloquei no toca-discos um vinil de Adiléa da Silva Rocha , mais conhecida como Dolores Duran , cantando “My Funny Valentine” ( Richard Hodges & Lorenz Hart ) : silêncio geral … todos ficaram boquiabertos com o timbre , afinação , modulação e demais qualidades desta cantora de Pindorama que anda esquecida … Na ocasião , disse para os presentes sobre minha admiração pelo sucesso do CD de Rod Stewart cantando clássicos do fox … Se estas pessoas que admiram a maneira de interpretar do escocês , ouvirem uma vez , uma única vez , esta dama da canção brasileira , iriam entender a razão pela qual a ilustre cantora Ella Fitzgerald disse uma vez , que era a melhor intepretação desta canção que já ouvira na vida , após ouvir Dolores cantar esta música , na boate Baccarat , que um dia existiu na cidade maravilhosa …

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TROMBONES E ALEGRIAS

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Citação do dia :

“Mas a juventude é apenas quando nos comportamos tipo assim como os animais. Não, não é bem tipo assim ser um animal, mas ser um daqueles brinquedos malenks (*) que você videia (**) sendo vendidos nas ruas, como pequenos tcheloveks (***) feitos de lata e com uma mola dentro e uma chave de corda do lado de fora e você dá corda nele e grr grr grr e ele vai itiando (****), tipo assim andando, Ó, meus irmãos. Mas ele itia numa linha reta e bate direto em coisas bang bang e não pode evitar o que está fazendo. Ser jovem é como ser uma dessas máquinas malenks.”

Glossário :
(*) malenk = pequeno
(**) videar = observar
(***) tchelovek = sujeito
(****) itiar = ir, andar

( Anthony Burgess – tradução : Fábio Fernandes )

Este fragmento foi extraído do último capítulo do livro “Laranja Mecânica” de Anthony Burgess … o que aqueles que só viram o filme não sabem , é que no livro tem um parte a mais … explico : é que Stanley Kubrick se baseou na versão americana do livro , na qual os editores cortaram o último capítulo . As versões que sairam em Pindorama não foram mutiladas ( ainda bem ) , pois se baseiam na versão inglesa com os 21 capítulos originais … outra coisa é a idade do protagonista … no filme , o ator que interpretou Alex ( Malcom McDowell ) tinha 28 anos , no livro ele tem 15 … Leiam , pois o livro é ao mesmo tempo fácil de ler , muito sofisticado em termos de linguagem e a tradução está muito boa …

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TU RAZÓN Y MI RAZÓN

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ALMOÇANDO COM TROGLODITAS

Silvestre Malaquias sabia que não deveria ir àquele almoço com seus companheiros de escritório , mas era aniversário do gerente e não havia maneira de escapar , uma vez que ele mesmo sabia que deveria melhorar sua imagem dentro do ambiente de trabalho , afinal não conversava com ninguém de seu meio profissional , com exeção do pessoal da limpeza e porteiros … não que fosse tímido , pelo contrário , mas simplesmente , não se sentia à vontade no convívio cotidiano em meio aquelas pessoas toscas , com visões de mundo tão tacanhas , que não liam nada , que só iam ao cinema ver as mesmas coisas de sempre , que davam apelidos aos outros baseados em personagens de novelas ou reality-shows , que ( mesmo gastando um bom dinheiro ) se vestiam mal , que reclamavam dele quando ele pedia um prato com curry ( achavam que o tempero indiano fedia ) , que enfim , eram despreparadas para um entendimento pleno da vida.
Mas foi . E não gostou , não gostou da churrascaria chique moderninha ( com piso de granito e uma hosstess emboaba que usava um taileur sofrível ) , não gostou das auxiliares administrativas tomando Amarula achando que estavam abafando , não gostou dos garçons que não paravam de chegar oferecendo as mais variadas coisas , não gostou do encarregado financeiro dizendo com orgulho que só comia carne bem passada , não gostou da secretária-assistente que comeu casquinho-de-siri e depois linqüiça calabresa , não gostou das conversas altamente fúteis ( sobre se uma pessoa que estava em outra mesa da churrascaria era ou não era uma atriz de novela ) , não gostou dos comentários maliciosos e do ar de espertinho da pessoa que proferiu tais comentários , não gostou dos batuques com os talheres ( em ritmo frenético ) , não gostou da brincadeira esperta das pessoas presentes ficarem ligando uns para os outros nos celulares , não gostou da baixa criatividade das pessoas presentes ao escolherem os temas para as músicas de seus celulares , não gostou da funcionária do departamento pessoal que se achava elegante vestindo blusa com estampa de pele de onça & calça preta de fuseau & sapato salto 12 cm ( para provocar o Supervisor de Produção ) … enfim aquela vulgaridade , aquela bestialidade , o agredia …
Mas o pior era a guerra de bolinhas de papel e de palitos de dente em meio aos gritinhos histéricos das funcionárias e as gargalhadas boçais dos funcionários … não aquilo era demais … Silvestre Malaquias então respirou fundo , estalou o dedo três vezes , se levantou calmamente e disse aos berros : – “Chega !!! Chega !!! Eu não agüento mais esta nojeira !!! Eu não agüento !!! Chega !!! Chega !!! De palhaçada já chega !!!” E então , ele puxou a toalha rápidamente derrubando pratos copos e talheres … A churrascaria ficou muda , todos paralisados , silêncio sepulcral …
De repente , um sujeito de meia idade se aproximou do nosso protagonista e trocou algumas palavras em alemão … Silvetre Malaquias se levantou e os dois se retiraram rápidamente do recinto …
Na verdade o sujeito de meia idade era um diretor consagrado do Cinema Alemão , cujo nome não me recordo , mas que tendo observado o ato deseperado de um pobre ser pensante ( em meio aquele festival de atrocidades que costumam ser as comemorações de firma ) percebeu que Silvestre Malaquias seria o ator ideal para seu próximo longa , “Verklärte Nacht” . A película ( baseada no poema de Richard Dehmel , na música de Arnold Schoenberg e filmada no litoral norte de São Paulo , mais precisamente na barra do Una ) foi premiada no festival de Cannes e o nosso amigo recebeu o prêmio de melhor ator …
Mas , naquele fatídico escritório ninguém soube deste fato , porque não passou no Fantástico … nem no Faustão …

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SOY CUBA

A câmera mostra mulheres de biquini e chapéus de palha dançando mambo em um terraço onde se avista o mar de um lado e uma piscina ( uns dois andares abaixo ) no outro … a câmera vai descendo em plano-seqüência ( isto é , movendo-se sem cortes ) até o nível da piscina , onde acompanha um garçon servindo pessoas bem vestidas … depois deixa de acompanhar o garçon e focaliza uma moça que mergulha na piscina … a câmera entra junto na água e filma as pessoas nadando por baixo d água …
Tudo isto para mostrar para a juventude socialista como era Cuba antes da revolução …

Estou falando sobre uma cena de “Soy Cuba” obra dirigida por Mikhail Kalatazov , que mostra uma visão eslava do comunismo tropical revolucionário e mesmo tendo sido feita com enormes recursos caiu no mais profundo esquecimento e agora ressurge com uma cópia restaurada por Martin Scorsese e Francis Ford Coppola e também em um documentário chamado “Soy Cuba – O Mamute Siberiano” dirigido pelo brasileiro Vicente Ferraz .
O filme mesmo , ainda não passou em Pindorama , sei que existe em DVD , mas ainda não vi … porém , o documentário entrou em cartaz esta semana , e mostra alguns planos-seqüência geniais de Kalatazov ( que vencera a palma de ouro em Cannes em 1957 com “Quando as Cegonhas Voam” ) . A fotografia a cargo de Yevgeny Yevtushenko ( que influenciou Glauber Rocha e o pessoal do Cinema Novo ) é primorosa … realizada com negativos infra-vermelhos ( que só eram usados pelas forças armadas soviéticas ) e revelada com um processo químico especial , ela mostra imagens muitíssimo bem definidas , nas quais têm-se a impressão que a luz emana dos objetos ( como nos quadros de El Greco ) . Só a aula de técnica cinematográfica já vale o filme , mas há mais : há o registro da diferença entre o temperamento eslavo e o temperamento latino , o deslumbramento russo pelas paisagens caribenhas e pelas nativas desfilando de uniformes militares , o registro de personalidades visitando a ilha ( Sartre , Godard , etc. ) e até uma versão espanhola de “Crazy Love” ( música de Paul Anka que em Pindorama recebeu uma versão de Ferd Jorge e foi interpretada por Carlos Gonzaga )
Não Percam !!!

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Citação do dia :

“Os sábios não te ensinam nada,
Mas ao acarinhares os longos
Cílios de tua bem-amada
Sentirás a felicidade
Não te esqueças que tens os dias
Contados. Assim compra vinho,
Busca um retiro sossegado
E no vinho a paz, o consolo.”

( Ghiyáthuddin Abulfath Omar bin Ibráhim Al-Khayyámi ,
mais cohecido como Omar Khayyam – tradução : Manuel Bandeira )

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Citação do dia :

“Como é bom tirar uma sesta com uma nega enroscada aos pés, sono leve de conchinha, colherzinha e quetais. Mas os dois precisam estar no espírito da sesta. Uma alma em desassossego acaba com qualquer sesta, sesta-de-favor não vale, sesta carece de savoir faire(…)
Numa sesta não vale sonhos épicos, apenas sonhos pequenos, daqueles que a gente realiza num piscar de olhos. (…) Sonhos são filmes grátis, que vemos deitadinhos, sem o barulho ridículo das pipocas ou de gente.
– Ei morena linda que passa, vamos ao cinema?
Aí trago ela pra sesta. Cinema é travesseiro e pezinho colado.”

( Xico Sá )

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GNOSSIENNE

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