LIVRO , MISTERIOSO LIVRO …
Naquela tiritantemente gélida manhã de julho , Jacinto Pirilo acordou sobressaltado : havia sonhado com um ser vestido elegantemente em tons de verde , que empunhava um livro com uma capa de cor alaranjada com losangos purpúreos . A certa altura o personagem onírico abria o referido livro e de dentro tirava um livro menor , azul com listras vermelhas , e proferia a seguinte frase – “Este livro que está dentro do outro contém tudo que aconteceu , acontece e acontecerá , todas as coisas do universo estão dentro dele , e você jamais imagina que possui ambos …”
Duas coisas intrigavam o nosso protagonista , a primeira era a configuração cromática da capa dos volumes : onde é que ele tinha visto tais cores ??? Laranja com polígonos arlequinescos roxos… anil com escarlate listrado … tinha certeza que já vira aquelas estampas anteriormente . Onde … quando … e porquê eram questões que ficavam exigindo respostas que escorriam pelo esquecimento …Outra coisa que intrigava profundamente o nosso amigo era a estória de um livro dentro de um livro : Edgar Allan Poe falava sobre sonhos dentro de sonhos , agora livros dentro de livros … que estória era aquela ???
Achando que a questão das cores das capas seria metafórica , Jacinto Pirilo passou a vasculhar sua enorme biblioteca , começou com H.G. Wells … passou a Eça de Queirós … daí a E.E. Cummings … indo para Júlio Cortázar , Emanuel Swedenborg , José Agripino de Paula , G.K. Chesterton , Antoin Artaud , Walt Whitman , Oswald de Andrade , Herman Melville , Cesário Verde , James Joyce , Gustave Flaubert , Guimarães Rosa , Rudyard Kipling , Velimir Khlénnikov , William Blake , William Burroughs , William Faulkner , etc … Mas nada , não conseguia achar sentido em nada.
Leu outros autores , e mais outros e outros e outros … Esgotada a biblioteca , ele desceu até o porão de sua antiga residência no bairro de Campos Elíseos na esperança de encontrar algum tomo esquecido … mas de repente se deparou com um caixote alaranjado com losangos purpúreos e recordou que era o local onde costumava guardar seus brinquedos na infância . Abrindo a caixa encontrou somente um pião de cor azulada com tarjas vermelhas …Sem titubear Jacinto rodou o brinquedo e em seu movimento centrífugo vislumbrou todas as épocas , todos os objetos , sentimentos , paisagens , configurações estelares , verdades cósmicas e até todos os gols de todas as copas do mundo , enfim tudo , tal qual a visão moribunda do Brás Cubas montado em um rinoceronte ou a do personagem borgiano contemplando o Aleph … Sim , sim , ele vira tudo , tudo , tudo … Até que o pião parou de girar …
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