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{ Monthly Archives } dezembro 2020

FECHANDO O ANO

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A MONTANHA MÁGICA – Thomas Mann – Tradução: Herbert Caro – Revisão da tradução e posfácio: Paulo Astor Soethe – Companhia das Letras

Este ano li (ou reli) muitos autores bons: Valeria Luiselli, Malcolm Lowry, João Cabral de Melo Neto, Rodrigo Rey Rosa, Andrés Caicedo, William Faulkner, Thomas Pynchon, Herman Melville, Agustín Fernández Mallo, Angélica de Barros, W. G. Sebald, Xavier de Maistre, entre outros… para fechar o ano com chave de ouro, acabei de ler “A Montanha Mágica” de Thomas Mann… meu pai havia me emprestado a primeira edição de 1952 (Editora Globo), mas acabei comprando esta edição recente pois, apesar de ambas serem traduzidas pelo Herbert Caro, na revisão da tradução, Paulo Astor Soethe traduziu os muitos diálogos em francês, que não foram traduzidos na primeira edição…

Para quem não sabe, trata-se da estória de um estudante de engenharia, Hans Castorp, que resolve visitar seu primo em uma luxuosa casa de recuperação em Davos (Suiça) e acaba ficando por lá por sete anos, até que estoura a Primeira Guerra Mundial. Mas na verdade, este é um livro sobre o tempo, ou melhor sobre a ausência dele, uma vez que naquele sanatório alpino, isolado da correria da civilização, o tempo transcorre de outra maneira… Na verdade como eu já havia percebido em “Fausto” (o de Thomas Mann, é claro), o tempo em suas obras se desdobra em quarto frentes distintas: temos o tempo da estória, o tempo da histórico, o tempo do autor e o tempo do leitor….

“A Montanha Mágica” é um daqueles livros que devemos ler várias vezes e a cada leitura obter uma nova dimensão da obra… como por exemplo o “Ulisses” de James Joyce, mas ao contrário deste que possui uma série de livros explicativos, “A Montanha Mágica” não possui guias que ajudem na travessia de suas 827 páginas…  mas talvez possa haver um: o livro de Thomas Mann sobre o pensamento de Schopenhauer… é possível que  na “A Montanha Mágica”, um romance de formação (bildungsroman), Thomas Mann desejasse que o jovem engenheiro recebesse uma educação schopenhauriana, mas ao invés de adotar uma solução óbvia de criar um personagem que ensinasse a doutrina mastigadinha ao jovem aprendiz, preferiu decompor o “pessimismo humanista guiado pela vontade” de Schopenhauer, em vários personagens e fazer com que Hans Castorp ao travar conhecimento com cada um destes personagens, absorvesse seus saberes e amalgasse dentro de si a síntese destas características, descobrindo empiricamente e por si só, a filosofia de Schopenhauer… teríamos então um pessimista (Leo Naphta) , um humanista (Ludovico Settembrini), um personagem hedonista que representa a Vontade-motriz (Mynheer Peeperkorn) e uma personagem que representa o objeto da vontade de Hans Castorp (Claudia Chaucat)…

Talvez esta seja uma chave… vale lembrar que Mann ao falar aos estudantes americanos em Pinceton, em 1939, sugere que se leia “A Montanha Mágica”  duas vezes seguidas, em uma citação a Schopenhauer, que no prefácio de “O mundo como vontade e representação” sugere ao leitor uma segunda leitura da obra.  Seja como for, embora tenha adorado “A Montanha Mágica” , não vou lê-lo de novo agora, como sugere seu autor, mas com certeza irei relê-lo mais tarde, pois é um grande livro…

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No final de 1998 fiz uma viagem por Lisboa, Roma, Firenze e Veneza, na qual fiz uma série de estudos em lápis sobre papel… chegando em Pindorama colori estes estudos com tinta acrílica… eis o resultado

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ENQUANTO O NAVIO AFUNDA OS EMBOABAS FESTEJAM (SEI QUE IREI AFUNDAR JUNTO, MAS PREFIRO FICAR NA MINHA CABINE LENDO ALGO QUE PRESTE)

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DESFILE DE NULIDADES RESFOLEGANTES ATROCIDADES

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UMA POESIA DE MALCOLM LOWRY

E minhas andanças pelas livrarias portenhas, adquiri um livro de poemas de Malcolm Lowry traduzidos para o espanhol “Malcolm Lowry Poemas – Editora Visor Livros (Espanha) 1995 – Tradução Mariano Antolín Rato”. Ao lê-lo, me impressionou o poema “El Faro Atrae La Tormenta”, no qual a idéia de um farol que atrai uma tempestade e a ilumina, resume uma concepção de arte na qual o artista chama para si os tormentos cósmicos e os banha com a luz de sua arte…

EL FARO ATRAE LA TORMENTA

El faro atrae a la tormenta y la ilumina.

Llevado por la tempestad se inclina el gran carguero

Bajo la rompiente donde la indómita ave marina revolotea,

Y encendiendo de espuma rocas, las hace arder.

¡Oh! , aves de la tinieblas del invierno que hace difícil

El vuelo con niebla, cuando el hielo congela

Alas de volar limitado por sellos de acero,

¿Qué espíritu benévolo te hace ondular aún como vilanos

Que los niños defienden del frio azul ?

(Malcolm Lowry – Tradução: Mariano Antolín Rato)

Sempre quis traduzir este poema, o problema era que não achava a poesia original… buscas e buscas na internet não davam em nada… Até que achei uma edição em inglês : “Select Poems of Malcolm Lowry – City Lights Books -2017)”

Ao ler o poema original, reparei que o mesmo continha uma série de rimas (lights it/ignites it/ flights it), (heels/ wheels), (congeals/ seals) que na tradução espanhola haviam sido suprimidas…

THE LIGHTHOUSE INVITES THE STORM

The lighthouse invites the storm and lights it.

Driven by tempest the tall freighter heels

Under the crag where the fiery seabird wheels,

And lightning of spume over rocks ignites it.

Oh, birds of darkness of winter whose flights it

Importunes with frost, when ice congeals

On wings bonded for flight by zero´s seals;

hat good spiritgnites it.

What good spirit undulates you still like kites that

Children are guardians of in cold blue?…

(Malcolm Lowry )

Então me propûs a uma tradução na qual estas rimas forrem mantidas, mesmo que tivesse que sacrificar singulares por plurais e alterar substantivos para um significado não tão literal… eis aqui minha tradução… espero que depois destas venham muitas outras aperfeiçoando este trabalho pioneiro:

O FAROL ATRAI AS TORMENTAS

O farol atrai as tormentas e as ilumeiam.

Levado pela tempestade os navios tombam

Sob o penhasco onde aves marinhas rondam

Raios de espuma as rochas incendeiam.

Pássaros das trevas do inverno que avoeiam

Importunados com a névoa congelante

Em asas coladas para seu voo avante;

Que bom espírito te faz ondular como pipas que

Crianças empinam em um gélido azul? …

(Malcolm Lowry – Tradução: José Geraldo de Barros Martins)

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VIDA TODA LINGUAGEM

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FELIZ NATAL

VIAGEM AO REDOR DO MEU QUARTO – Xavier de Maistre – Tradução: Veresa Moraes – Editora 34

Nesta época de pandemia, esta é uma ótima sugestão de leitura: após participar de um duelo em 1794, com um oficial piemontês, Xavier de Maistre foi obrigado a passar 42 dias em prisão domiciliar em Turim, quando escreveu este relato divertido e bem-humorado, que mostra que um simples quarto pode ser um local riquíssimo em experiências, enfim, um pequeno universo… Xavier de Maistre nasceu em 1763 em Chambéry (hoje na França, na época pertencente ao reino da Sardenha), dedicando-se à literatura, pintura e balonismo, além do serviço militar, quando participou da campanha contra as forças revolucionárias francesas… exilado foi para a Rússia, onde ingressou no exército, lutando contra Napoleão e chegando a patente de general… sua obra não foi extensa, mas só as 71 páginas deste livro bastam para o colocar como um dos grandes mestres da literatura… o sujeito era tão bom escritor que foi citado por Machado de Assis no prólogo de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e por Jorge Luis Borges no conto “Aleph”, ou seja, em duas das melhores obras da literatura sul-americana… Além disso, pode-se dizer que foi um precursor da psicanálise… Esta edição ainda tem um belo pósfácio de Enrique Vila-Matas… Leia este livro e viaje ao redor de seu quarto!