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{ Monthly Archives } dezembro 2011

GUERRA DOS BÔERES

ANJO

NOSSA SENHORA

SIGNIFICAÇÕES SAMBANTES

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FELIZ NATAL!!!

TROPICAIS VARIAÇÕES CROMÁTICAS SECUNDÁRIAS

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“Soy argentino, pero no he nacido en Buenos Aires.
Nací el Día de los Muertos de año 22.
Música, para mi, la de Bach y la de Beethoven. Y el “cante jondo”.
Bailar no sé,nadar no sé, beber sí sé. Coche no tengo.
Prefiero la noche. Prefiero el silencio.”

( Antonio Di Benedetto )

Agora estou lendo as obras de Antônio Di Benedetto… para muitos que não sabem um dos maiores escritores sul-americanos, elogiado por Borges, amigo por correspondência de Roberto Bolaños (leiam o conto “Sensini” do livro de Bolaños ainda não lançado em Pindorama, denominado “Llamadas Telefonicas) e muito mais… para começar li “Os Suicidas” (Tradução: Maria Paula Gurgel Ribeiro – 2005 – Editora Globo – 164 páginas) … agora estou lendo uma edição argentina chamada “Cuentos Completos” Editora Adriana Hidalgo – 2009 – 705 páginas)… o romance é bom, mas como contista Di Benedetto revela-se melhor (ainda não li “Zama”, considerado seu melhor romance, de modo que esta última opinião pode ser modificada)… porém seja como contista, seja como romancista, trata-se de um importante criador… dica: existe um livro de contos de Antonio Di Benedetto lançado em português: “Mundo Animal” … leiam!!!

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UM OÁSIS MUITO ESTRANHO

A campainha tocou: eram Arlésio Siqueira e Anísea Mariette. Eles entraram no sobrado de Zillyo Edelberto e Zulmira Marília, onde tomaram aperitivos… Zillyo preparou um “Dry-Martini” para Arlésio, um “Mojito” para Zulmira e um “Old-Fashioded” para si, só Anísea que tomou agua com gás porque ia dirigir naquela noite…

O plano inicial era ir a um restaurante de um amigo deles, na Av. Lins de Vasconcelos, porém o lugar estava fechado, “Então onde iremos?” perguntou um deles… resolveram procurar um lugar nos arredores e enquando percorriam as ruas do Cambuci, Zillyo começou a discursar sobre a exibição total nos perfis das redes sociais: os gostos emboabas, o orgulho da jeguice tecnologizada: “o aparelho mais moderno a mostrar o vazio espiritual de uma geração aparício-narcisita: um lago de cristal líquido a refletir almas deslumbradas com suas vidinhas boçalizadas” exclamava ele orgulhoso da metáfora ligando o mito de narciso a se admirar em um lago da cristal líquido às pessoas deslumbradas com a própria imagem no “fêice”….

Arlésio concordava com seu amigo e acrescentava discorrendo sobre as novas revoltas populares a disseminar: novos ‘maio de 68’ as explodir de forma globalizada: os superáfits fiscais, os destinos individuais sendo arrastados pelas fétidas marés dos planos macro-econômicos: – “aqui era o fim do mundo, agora o fim do mundo é lá, mas nada impede que dentro de alguns meses, aqui volte a ser de novo o fim do mundo…nos anos setenta o capitalistas eram identificados como dráculas que sugavam o sangue dos pobrezinhos operários… agora os capitalistas mais parecem doctors Franksteins a criar monstros que escapam de seus controles… não existe mais a lógica maniqueísta…” retrucava contente pois também fizera uma metáfora brilhante referenciando o sistema capitalista com personagens de filmas de terror…

Anísea e Zulmira nada falavam, esperavam achar um restaurante onde pudesem combinar detalhes da próxima viagem: os casais iriam passar um fim de semana (emendando em um feriado) em Buenos Aires e estava combinado que uma tarde Arlésio e Zillyo iriam percorrer os sebos da Calle Corriente e tomar alguns copetins enquanto suas esposas iriam comprar sapatos, bolsas, botas, capas, malhas, calças e camisas na Calle Santa Fé…

Após percorrer diversas vias eles foram parar na R. Teodureto Souto onde acharam um restaurante único: ED CARNES: a churrascaria do Ed Carlos, para quem não sabem “o astro precoce da Jovem Guarda”, que gravou sucessos como “Edifíco de Carinho” e comandou um programa de TV denominado “Mini-Guarda” … ao entrar repararam em um senhor (vestindo jeans, camisa grená, gravata, corrente prateada indicando um relógio de bolso e óculos ray-ban, com pinta de delegado) que recepcioná-los: era o próprio Ed, em carne e osso… o aspecto do restaurante era genial: as paredes era repletas de figuras, pra começar havia um brasão medieval pintado sobre fundo de madeira, onde uma luva metálica de armadura segurava um espeto de churrasco fumegante… depois avistaram mais objetos: capas de discos, pinturas retratando o ídolo e pricipalmente fotos, muitas fotos do dono ao lado das mais diversas celebridades, principalmente fotos ao lado de Roberto Carlos… no lado esquerdo ao fundo, um palco, onde um outro cantor cantava a canção: “Canzone Per Te”…

Pediram costela, a especialidade da casa, e beberam cerveja gelada… o cantor continuava cantando clássicos da Jovam Guarda com destaque para “Rio Amarelo” (uma versão do clássico “Yellow River” que foi gravado em português pelos “Os Carbonos”) eles adoravam a situação inusitada: nada de restaurantes moderninhos com cardápios estilizados, pratos enfeitados servidos por garçons universitários em roupas negras e gel nos cabelos que atendem os clientes com ar blasé… o lugar era diferente um ambiente familiar: a esposa do dono vinha até a mesa perguntar se estava tudo bom, a garçonete simpática simples e parcialmente desdentada e o cantor que no palco ao fundo desfilava clássicos como “Maria Izabel” e “Eu Quero Voltar Para a Bahia”…

Enquanto comiam a carne (descrita como “sedosa” em um dos cartazes da casa) e tomavam as cervejas trazidas pela simpática e desdentada garçonete os quatro constataram que existem diversos restaurantes e bares que são iguais em qualquer lugar do mundo, bistrôs que tanto podem estar na Rive Gauche parisiense como na Recoleta portenha, pubs muito parecidos que tanto podem estar situados na Southeast Dublin quanto no bairro paulistano de Pinheiros, cantinas italianas que se mutiplicam pelo mundo… porém existe um outro tipo de restaurante… aquele que só pode existir em um único local, os verdadeiros oásis que se encontram em meio aos monótonos desertos da globalização… então eles compeenderam que estavam em um destes locais e por alguns instantes pararam de conversar e ficaram somente ouvindo a música e apreciando o ambiente…

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Já saiu a mais nova TUDA. Tudo muito bom!!! Uma coisa interessante é uma página mostrando todas as capas anteriores da revista…

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Citações do dia:

 

“Montmartre

E os moinhos do frio

As escadas atiram almas ao jazz de pernas nuas

 

Meus olhos vão buscando

Como gravatas achadas

 

Nostalgias brasileiras

São moscas na sopa de meus itinerários

São Paulo de bondes amarelos

E romantismos sob árvores noctâmbulas

 

Os portos de meu país são bananas negras

Sob palmeiras

Os poetas de meu país são negros

Sob bananeiras

As bananeiras de meu país

São palmas calmas

Braços de abraços desterrados que assobiam

E saias engomadas

O ring das riquezas

 

Brutalidade jardim (*)

Aclimatação

 

Rue de La Paix

Meus olhos vão buscando gravatas

Como lembranças achadas.”

 

( Oswald de Andrade – Memórias Sentimentais de João Miramar )

 

(*) Reparem que o termo “Brutalidade Jardim”  foi novamente utilizado,desta vez como citação, na letra que Torquato Neto fez para a canção “Geléia Geral”, musicada e gravada por Gilberto Gil no álbum da Tropicália

 

“É a mesma dança na sala

No Canecão, na TV

E quem não dança não fala

Assiste a tudo e se cala

Não vê no meio da sala

As relíquias do Brasil

Doce mulata malvada

Um LP de Sinatra

Maracujá, mês de abril

Santo barroco baiano

Super poder de paisano

Formiplac e céu de anil

Três destaques da Portela

Carne seca na janela

Alguém que chora por mim

Um carnaval de verdade

Hospitaleira amizade

Brutalidade, jardim (…)

 

( Gilberto Gil – Torquato Neto / Geléia Geral )

 

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