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E O DRAMA CONTINUA …

Dolores Otálora nascera em solo portenho , passando a infância no bairro do Retiro . Uma semana antes dela completar sete aniversários sua família deixou Buenos Aires as pressas pois seu pai encontrava-se repentinamente muito endividado , devido ao fato de ter apostado com o bairro inteiro que Oscar “Ringo” Bonavena nocautearia Muhamad Ali naquela luta em sete de dezembro de 1970 no Madison Square Garden ( o norte-americano ganhou após derrubar o argentino três vezes no décimo quinto assalto ).

Rumando para a capital paulista e após perambular pela Bela Vista , Penha , Pirituba , Santo Amaro e Freguesia do Ó , fixaram-se em um bairro , mais por superstição do que por terem se encantado com suas ruas : o Bom Retiro . A partir dalí seu pai , sempre se referiria ao bairro onde diversos credores o aguardavam do outro lado do Rio da Prata , como o Mau Retiro .

O contato com o novo idioma foi traumático para nossa protagonista , que relutando em assimilar a lingua daquela terra estranha , trancou-se no quarto com antigas e taciturnas marionetes deixadas pela tia-avó e começou a fazer teatrinhos nos quais representava dramas amorosos com finais estranhíssimos …

Uma noite após assistir um destes filmes de terror em preto e branco cujo personagem central era um ventríoloquo , resolveu treinar aquela técnica em frente aos diversos espelhos da casa ( seu pai achava qua os espelhos mutiplicavam a perspectiva , portanto , uma casa com bastante espelhos traria fartura a seus ocupantes ) , descobrindo que tinha jeito para a coisa . Na verdade tinha mais do que previra , pois em pouco tempo já estava fazendo seus showzinhos sem ter que abrir a boca .

Com o passar do tempo ela foi se abrasileirando , conseguindo falar um português fluente , porém com sotaque , pois jamais conseguiria deixar de dizer : “Nao fiacha na maiônesse” como acontece com todo imigrante de lingua hispânica . Como era muito simpática e possuia uma sillhueta exuberante , fez muito sucesso nos circulos sociais e suas apresentações ( nas quais adotara o nome artístico de Dolores Odete ) começaram a se tornar famosas . O sucesso inicial , ao contrário de torná-la indolente , fez com que se aprofundasse em sua técnica , conseguindo fazer um número no qual os dois bonecos falavam simultaneamente .

Em pouco tempo passou a ser requisitada em diversos programas de auditório , e chegou a receber propostas para um programa exclusivo . Porém uma paixão repentina por um riquíssimo estanciero ( fazendeiro ) uruguaio fez com que abandonasse a paulicéia para residir no pampa , levando sua família . Seu pai ficou entusiasmado em descobrir que seu marido Diego Goyneche , na verdade era argentino da região de entre-rios e fora boxeur , chegando a conquistar o título mundial dos médios ligeiros , perdendo-o em seguida quando tentou a unificação contra o brasileiro Moacyr Cosme .

A monotonia do pampa gerou um tédio depressivo em nossa querida ventríloqua , aborrecimento este que pouco a pouco foi vencendo a atração inicial pela sua cara metade .

Em uma calorenta noite de sete de dezembro , Dolores Odete abandonou a tudo e a todos retornando de ônibus para São Paulo com uma pequena valise e suas marionetes … Trajava tênis , calça jeans e uma camiseta na qual estava escrito o título deste conto …

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O TRIUNFO DE UM BAIXINHO BOÇAL

João Jonas Domenico Donizete sempre se envegonhou secretamente de sua baixa estatura , compensando seu complexo de inferioridade com um comportamento agressivamente vulgar : suas gargalhadas eram altas ; suas piadas , do mais surpreendente mau-gosto ; seu discurso político , mescla de frases feitas contra a corrupção salpicadas por lampejos de pensamento reacionário ; sua diversão predileta , assistir televisão palitando os dentes ; sua profissão , taxista .

Uma noite apanhou uma bela passageira na Av. Consolação , a dama trajava um taileur púrpura sobre uma camisa de seda verde turquesa . A estonteante exuberância da mulher fez com que nosso protagonista permanecesse mudo até o final da corrida , em uma rua arborizada do bairro do Alto da Boa Vista . Voltou para casa ( era a última viagem do dia ) sentindo extasiado o perfume deixado pela beldade , pois jamais sentira aroma semelhante…

No dia seguinte notou que a saudosa passageira esquecera um livro , guardou-o no porta- luvas . Devolveria a noite , para dar tempo de ler um pouco a tarde e poder comentar algo . Após uma manhã mais ou menos movimentada , parou em uma padaria , a após comer a tradicional refeição composta por arroz , feijão lingüiça e macarrão , resolveu folhear o livro olvidado que se intitulava : “O Principe” de auroria de um tal de Nicolau Maquiavel . Havia na página marcada com uma fita vemelha o seguinte texto :

“Não gostaria de que fosse tido por presunção um homem de baixa e ínfima condição ousar discorrer sobre e regular o governo dos príncipes ; porque , assim como aqueles que desenham as paisagens se postam lá embaixo das planíces para observar a natureza dos montes e dos lugares altos , e, para observar os lugares baixos se postam no alto dos montes , assim também para conhecer bem a natureza dos povos é preciso ser príncipe , e para conhecer bem a dos príncipes é preciso ser popular .”

Jonas João , ou melhor , João Jonas anotou o texto supracitado em um guardanapo , e ficou a tarde (enquanto percorria os mais distantes bairros) a tecer considerações a respeito do que lera . A noite voltou à residência da mulher de taileur porém foi friamente recebido por uma empregada gorda . Devolveu o livro e saiu cabisbaixo .

Se a fisionomia da passageira não lhe saíra da memória , o conteúdo do texto também ficara a latejar em sua mente imbecilizada , a ponto que semanas mais tarde , o taxista Donizete , escreveu uma carta ao presidente da república citando o trecho retro-mencionado do Maquiavel e salientando que devido a baixa estatura física e a condição de oriundo dos baixos estratos sociais , era a pessoa recomendada para pleitear o cargo de conselheiro supremo do chefe da nação … e não é que conseguiu …

No dia seguinte de sua posse uma , moradora do bairro do Alto da Boa Vista se surpreendeu a ver uma limosine estacionar defronte sua residência …

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O ORGULHO DE UM SAMBISTA

Rinaldo Ribas Ribeiro , auto-intitulado o último dos sambistas clássicos , possuia uma excelente memória e sendo um profundo conhecedor de sambas antigos , conseguia sempre se sair bem nas discussões amorosas , utilizando frases retiradas de músicas alheias …

No morro da Formiga deixou Fátima sem resposta ao dizer : “Mas se eu for condenado , a sua consciência será meu advogado” (1) , no Estácio repreendeu Estela com a frase : “Seu egoísmo me libertou” (2) e na Vila Isabel humilhou Raquel com : “Se eu lhe perdoar , fará depois pior” (3) .

Porém , em um crepúsculo abafado pelo calor úmido , ao procurar uma mesa no tradicional bar da Maria , na R. Anita Garibaldi ( bairro da Muda ) , encontrou uma dama solitária trajando um vestido de seda vermelho com estampas negras …

O nosso protagonista , pedindo licença , sentou-se ao lado da criatura exótica perguntando se ela não desejava beber algo . Esta respondeu : “- Só tomava chá …quase que forçada vou tomar café” .

O ilustre sambista , achou aquela resposta meio estranha , porém providenciou uma xícara de café para aquela beldade e um cálice de vermute tinto para si . Após o segundo gole , Rinaldo ia fazer uma pergunta qualquer quando ela interrompeu-o dizendo : “- Quisera ter a coragem de dizer , que é bem grande o meu amor , mas não sei o que acontece , minha voz desaparece quando ao seu lado estou” . Ele confuso , tentou lembrar-se de algum fragmento de Noel Rosa ou Wilson Batista , porém antes que se decidisse ela emendou : “- Tanto amor perfeito existe no meu peito eu vou lhe dar agora e pra começo de assunto chega mais pra junto vem comigo que eu quero é cantar”.

Ribas Ribeiro , perplexo com aquelas frases , por fim perguntou : “- Mas afinal quem é você ?” . A dama exótica sorrindo respondeu : “- Sou a garota papo-firme que o Roberto falou …”. (4)

(1) Fragmento de “Errei Erramos”( Ataulfo Alves / Arthur Alves Jr )

(2) Fragmento de “A Fonte Secou” ( Monsueto de Meneses / Tufi Lauar / Marcléo )

(3) Fragmento de “Acabou a Sopa” ( Geraldo Pereira / Augusto Garcez )

(4) As frases pronunciadas pela dama exótica sào provenientes das músicas “Comunicação” ( interrpretada por Vanusa ) , “Te amo”( interpreteda por Wanderléia ) , “Prá começo de assunto” ( interpretada por Elizabeth ) e “Garota papo-firme ( interpretada por Waldirene ) .

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O SÉTIMO ASSALTO

Soou o gongo anunciando o final do sexto round … e Moacyr Cosme caminhou em direção ao seu coorner preferindo ficar em pé , uma vez que achava que tal procedimento humilhava moralmente o adversário , que sentado no canto oposto do ringue recebia curativos e advertências da sua equipe .

Ele a conhecera na rodoviária de Teófilo Otoni , e encantado com seus cabelos encaracolados ofereceu um misto quente com presunto acizentado e um suco de caju … e assim começou seu romance .

A luta valia pela unificação do título mundial dos médios ligeiros e o nosso protagonista , apelidado de “Carlos Monzón da Mooca” levava certa sobre seu adversário argentino Diego Goyneche , o “Éder Jofre de Entre-rios”.

Depois da chegada a capital paulista , moraram separados por cerca de quatro meses , mantendo um relacionamento intenso . Porém a necessidade de constituirem um lar fez que fossem morar juntos no bairro da Mooca , uma vez que lá Moacyr passara a infância antes que seus pais mudassem para a região das alterosas . Nosso amigo sempre evitava marcar a data do casamento , conseguindo adiar por três anos a decisão do enlace .

Moacyr ouve as instruções de seu técnico , que referem-se a usar o jogo de pernas no início do próximo assalto , rodando em redor do oponente e aplicando alguns golpes no fígado para tirar a mobilidade , para então tentar um direto ou mesmo um gancho derradeiro .

Um dia Danideise , sua companheira ameaçou : – Se não casarmos até sete de setembro , eu pego as minhas coisas e volto para Minas Gerais . Pela primeira ele teve que assistir o desfile da independência sozinho … ação que repetiu por vários anos .

O assistente passa um pouco de vaselina em seus supercílios , que embora um pouco vermelhos , não apresentam cortes . O “Carlos Monzón da Mooca” respira sem dificuldade enquanto recoloca seu protetor bucal .

No dia anterior , nosso protagonista recebeu através de uma ligação a cobrar da rodoviária de Teófilo Otoni , a agradável informação que sua ex-companheira estava embarcando para São Paulo … com a família !!!

O juiz anuncia : – Segundos fora (*) !!! .

(*) Expressão que os juízes de boxe utilizam para advertir os pugilistas que faltam cinco segundos para reiniciar o combate .

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NAVEGAIRE DE NOVO

Pedro Antônio Almada Pessoa nasceu em Sintra , no dia em que completou sete anos de idade , subiu até o topo do farol do Cabo da Roca (*) e contemplando o oceano azul-esverdeado , jurou que iria ser marinheiro , o que logo foi cumprido na juventude , quando ingressou na marinha mercante portuguesa .

O nosso protagonista percorreu os locais mais recônditos do planeta , porém foi em Santos que seu destino o surprendeu . Pedro Antônio percorrendo a zona de meretríco daquela cidade , notou uma mulher que possuia traços finos ( embora tivesse o semblante corroído pelo remorso ) , que diante de seu atento olhar , parecia que não pertencera sempre a aquela classe …Ao conversar com a dama descobriu sua triste estória : nascida no Panamá e educada no Brasil por uma famíla relativamente abastada , entrara na prostituição devido a choque emocional surgido com a descoberta que seu ex-namorado se suicidara atirando-se do bondinho de Mont-Serrat .

Almada Pessoa achou aquele relato estarrecedor e sem saber o que fazer , pediu a mão dela em casamento . Por coincidência no rádio do bar estava tocando “Eu vou tirar você deste lugar” ( Odair José ) .

No retorno a Portugal , Pedro Antônio desligou-se da marinha , mandou dinheiro para que Felícia Fangal ( o nome de sua futura esposa ) comprasse as passagens , pois tinha planos para montar uma lavanderia na cidade de Setúbal . A nossa protagonista rumou para sua nova pátria , casando-se logo em seguida , porém por fatores diversos o casal veio estabelecer um restaurante de cozinha mineira em Sezimbra .

A casa fez enorme sucesso , uma vez que servia de contraponto aos outros restaurantes que serviam basicamente peixes e frutos do mar . Porém em meio a tutus-de feijão e leitões a pururuca , regados a doses de ginginha e de bagaçeira , começaram a surgir os conflitos emocionais , sendo que nenhum dos dois sabia o motivo verdadeiro que estaria a causar os soluços constantes e choramingos diários da senhora Fangal Pessoa .

Embora ignorado por ambos , a causa do comportamento de nossa protagonista deveria ser algo bem grave , uma vez que no exato dia em que completara quarenta anos Pedro Antônio , retornando da capital ( onde fora passar o dia cuidando de negócios ) encontrou apenas restos de incêndio no local que fora seu restaurante . Ao penetrar pelos destroços perguntando pela esposa , foi informado pelos vizinhos que Felícia partira com destino ignorado após por fogo no próprio estabelecimento comercial . A única coisa restante que o nosso amigo encontrou , foi um recorte de jornal milagrosamente intacto , no qual havia uma reportagem com fotos sobre a descoberta de um tesouro marinho na costa venezuelana , realizada por um brasileiro .

O sr. Almada Pessoa atualmente passa os dias a percorrer as regiões portuárias de várias cidades lusitanas com um cartaz solicitando uma oportunidade de voltar a conduzir navios pelos verdes mares bravios .

(*) O local mais a oeste do continente europeu .

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A FADA DA BOATE VOGUE

Vanessa Van Nassau era um dos legados que a colonização holandesa deixara para a Recife dos anos 50 . Bonita e culta circulava com desenvoltura pela noite da capital pernambucana . Porém uma paixão repentina por um jornalista americano fez com que juntasse suas economias e deixasse sua casa no bairro de Imbiribeira , rumando para a então capital da nação com apenas poucas peças de roupa e um antigo álbum de gravuras que gostava de folhear na infância .

Ao chegar a cidade maravilhosa a nossa protagonista , se dirigiu para o apartamento de seu amado no bairro da Tijuca , em uma das travessas da R. Conde do Bonfim , e verificou que o endereço que o seu yankee queridinho lhe fornecera , simplesmente não existia …

Sentindo-se lograda e sem possuir o dinheiro para a passagem de volta , tomou um taxi para Copacabana acreditando que a sorte lhe compensaria a humilhação que acabara de sofrer .

Recém-instalada em um hotel pequeno porém aconchegante , Vanessa saiu para caminhar sob o crepúsculo e encontrou um conhecido conterrâneo que estava morando no Rio de Janeiro onde exercia as funções de radialista , locutor de futebol , compositor e jornalista ( também ) . O seu amigo contou que acabara de compôr uma canção intitulada “O Amor e a Rosa” , e que uma famosa cantora havia incluído-a no repertório do show que realizava diariamente na mais badala boate da cidade .

A srta. Van Nassau se mostrou bastante interessada , uma vez que aquele sujeito gordo e suado era uma das pessoas mais inteligentes com quem conversara . Diante de tal interesse o cidadão explicou que aquela boite pertencia a um barão austríaco , sendo um lugar onde coisas boas aconteciam . Combinaram de encontrar-se no dito local , situado na R. Princesa Isabel , horas mais tarde .

No meio da apresentação , os holofotes da boate focalizaram a mesa onde Vanessa e seu amigo tomavam whisky , e então para o espanto dela , a crooner apontando para seu copanheiro anunciou : “A maoiria desses compositores de hoje não valem dez paus !!! Porém este aí é diferente …” . A seguir a dama do Encantado olhou para a dama de Imbiribeira , fez uma pequena pausa e começou a cantar “O Amor e a Rosa” : aplausos gerais !!!

Uma extrema comoção apoderou-se da nossa protagonista que dirigindo-se ao toillete , apanhou no meio do caminho , uma rosa de um vaso qualquer , colocando-a na bolsa . Dentro do banheiro Vanessa quis examinar melhor a rosa e notou em seu centro um pequeno rosto minúsculo . Sem saber se era um delírio etílico ou coisa diversa , ela tornou a colocar a rosa dentro da bolsa , decidindo aproveitar a noite para só pensar naquilo depois .

No quarto de hotel , verificou que era um rostinho mesmo e em poucos instantes iniciou-se um contato telepático , no qual a pequenina face afirmou ser uma entidade denominada A Fada da Rosa , adivinhando a falta de recursos da Srta. Van Nassau , aconselhou-a ir nas melhores livrarias da cidade oferecer o livro de gravuras que trouxera , pois ele valia muito dinheiro . Disse também que ficaria muito agradecida se fosse posta em uma taça com champagne francês ao invés de um copo d’água .

Na manhã seguinte vendeu seu exemplar de Gaspar Barleus (*) por uma quantia vultuosa , a tarde foi comprar uma caixa de champagne francês para que sua rosa não ficasse ressecada , a noite partiu para a felicidade …

(*) Físico e desenhista holandês que viera com Maurício de Nassau para o Brasil no final século 16 .

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FELÍCIA FANGAL E OS TESOUROS MARINHOS DE COISAS TRANSITÓRIAS

Felícia Fangal nasceu na cidade do Panamá , mas no exato dia em que completou três anos de idade , seu pai , que trabalhava em uma empresa de transporte marítimo , foi designado a gerenciar uma filial na cidade de Santos .

A família Fangal , logo se adaptou a nova paisagem , indo residir na R. Bolívar , perto do canal 4 . Durante a infância , nossa protagonista ficou fascinada com estórias de sereias , aprendendo cedo a nadar , atividadade que exerceu com entusiasmo até a adolescência , quando aconteceu um dos fatos que iriram mudar decisivamente sua vida .

Felícia nadava próxima a pedra da Feiticeira , mais ou menos na divisa entre Santos e São Vicente , quando foi apanhada por um redemoinho . Seus gritos logo foram ouvidos por um rapaz , que deveria ter a sua idade … O jovem prontamente se atirou ao mar , e resgatou a bela morena para as areias da praia de Itararé .

A señorita Sangal agradeceu o jovem , que disse que se chamava Bernardo Ferreira e que era descente de Baltazar Ferreira , o homem que após enfrentar os Tupinambás em Bertioga , matara a golpes de espada o Hipupiara * ( monstro marinho que assolou São Vicente ) no ano de 1564 .

Marcaram um encontro no Aquário Municipal , no qual o rapaz roubou um beijo da mocinha , enquanto esta contemplava as focas que se tornavam cada vez mais indolentes devido ao calor excessivo .

O namoro de Bernardo foi bem durante anos , porém logo começaram a surgir comentários nada elogiosos sobre o caráter de sua amada . Ao ouvir tais afirmações ele logo exclamava : “Que nada , ela é uma pessoa sensível , tanto que chora a cada vez que olha para o morro do José Menino .”

Porém um dia , nosso personagem descobriu a verdade : a dama panamenha estava indo para o Guarujá se encontrar com um praticante de esportes radicais , cujo pai havia enriquecido com dólares falsos . Marcaram um encontro em um antigo bar forrado de pastilhas em São Vicente . Ela negou a princípio , porém diante de provas irrefutáveis olhou-o com indiferença e saiu langüidamente cabisbaixa .

Sem saber o que fazer , Bernardo Ferreira rumou para Mont Serrat , para contemplar a zona portuária do alto e esperar que a intuição lhe dissesse o que fazer , porém esta não lhe forneceu nenhuma idéia brilhante . Na volta notou que no funicular ( bondinho ) que descia o morro , um turista etusiasmado , tentava fotografar a paisagem . Na metade do trajeto , um sacolejo inesperado atirou o forasteiro para embaixo dos trilhos , onde foi completamente destroçado .

Durante o tumulto que se seguiu , nosso amigo conseguiu colocar seus documentos no bolso do turista , fazendo com que as autoridades e toda a imprensa acreditassem ter sido ele a verdadeira vítima .

O remorso fez com que Felícia Fangal se mudasse para o bairro do Macuco ( indo morar naquela travessa da Av. Conselheiro Nébias que acaba na Praça Tamandaré ) e se tornasse prostituta .

Com relação a Bernardo Ferreira , há rumores que passou a se chamar Felix Felisberto e que enriqueceu ao descobrir um tesouro marinho ( de verdade ) na costa da Venezuela .

* ao acessar o outo site clique na palavra LENDAS à esquerda

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AS TRIGÊMEAS CANTORINHAS

Anna , Olívia e Plurabelle nasceram em Joaçaba (SC) , mas logo seus pais mudaram para Tampico (México) , onde cresceram e formaram um trio vocal , logo batizado de “Trio Deseperanza” , cujo repertório era constituído basicamente de boleros , como “Se Muy Bien Que Vendras” , “La Pretendida” , “Lágrimas De Sangre” , “Contigo En La Distancia” , etc.

O trio começou a excursionar pelo interior do país fazendo enorme sucesso em cidades como San Luis Potosí , Zacatenas , Cuernavaca , Chilpaneingo , etc , sendo que após alguns anos , vieram os convites para shows em outros países , e entre eles o Brasil .

A perpesctiva do retorno à terra natal encheu-as de alegrias e esperanças , porém a temporada brasileira constituiu-se em estrondoso fracasso . Na primeira cidade da turné ( São Paulo ) o local designado para as apresentações era uma casa de shows denominada “Boate Azul” , próxima ao Largo Treze , no bairro de Santo Amaro . Ao examinar o local de seus primeiros espetáculos , as trigêmeas , compreenderam que aquela excursão era a mais completa arapuca , impressão que confirmou-se verdadeira , quando dias após , o empresário fugiu com todo o dinheiro .

Apesar da situação desesperadora em que estavam, Anna , Olívia e Plurabelle , não perderam a calma , e ao caminharem em uma praça que ficava perto do hotel que estavam ( Praça Susana Rodrigues ) avistaram três anões que pareciam ser trigêmeos (*) . Estes , vestiam roupas orientais e carregavam cartazes com os dizeres “LIXO” , “COM LIXO” e “SE PAGA” . As trigêmeas logo puxaram conversa com os anões que disseram que trabalhavam para um político denominado Viriato Malaquias , que poderia empregá-las , pois tinha a mania de utilizar em sua propaganda política , pessoas parecidas entre si carregando cartazes , nos quais expunha sua plataforma eleitoral (aqueles dizeres referiam-se a uma proposta de lei , através da qual quem fosse com um saquinho de lixo em um estabelecimento de fast-food receberia um hambúrguer em troca) .

Anna , Olívia e Plurabelle , por indicação dos anões , logo arrumaram o emprego , e passaram a desfilar pelos principais locais da região (Largo do Socorro , Praça Vitor Manzinni , Av. Adolfo Pinheiro , etc) com os cartazes “SORRIA” , “MEU BEM” e”SORRIA” , em uma campanha de valorização cultural para que a Praça Floriano Peixoto , se passasse a chamar Praça Evaldo Braga (**) .

As nossas protagonistas não conseguiam disfarçar o mau humor , pois o trabalho era cansativo e mal pago . Porém um dia , um senhor parou-as para perguntar as horas , e elas verificaram que ele falava espanhol . Foram então conversar em um botequinho , onde o cavalheiro contou que se chamava Ramirez Rebozo , que havia sido técnico de futebol e após desentendimentos com uma filha passou a a cantar boleros em português , percorrendo todo o interior do continente (***) . Ao descobrir que as trigêmeas cantavam boleros , o homem elegante , convidou-as a acompanhá-lo .

A mistura de um vocalista cantando a melodia em português , com um trio fazendo o coral em espanhol , revelou-se uma fórmula explosiva e em poucos meses “Ramirez Rebozo & Trio Desesperanza” despontou para o sucesso internacional .

Apesar de serem sul-americanos (ele paraguaio e elas brasileiras) , os quatro receberam recentemente o título de cidadões mexicanos em cerimônia que teve a participação de Robero Gómez Bolanõs (****) .

(*) Cantor e compositor da época pós-jovem guarda , com inúmeros sucessos : “Sorria” , “A Cruz Que Eu Carrego” , “Eu Não Sou Lixo” , etc

(**) Ver “A VERDADEIRA ESTÓRIA DOS ANÕES BOÇAIS” publicada em 2 de novembro neste bolg . (Para acessar clique no período 11-01-01/11-30-01 , no banco de dados existente bem embaixo à esquerda) .

(***) Ver “JÁ NÃO ESTÁS MAIS AO MEU LADO CORAÇÃO” publicada em 8 de novembro neste bolg . (Para acessar clique no período 11-01-01/11-30-01 , no banco de dados existente bem embaixo à esquerda)

(****) Comediante mexicano que interpreta os pesonagens Chaves e Chapolin .

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CAVEIRINHA MY FRIEND E JONGO , O ANÃO MAU CARÁTER

Espoleta e Ardidinho eram dois palhaços , que faziam um enorme sucesso com o publico do Circo Aimoré . Já haviam percorrido todo o o noroeste do estado de São Paulo , o triângulo mineiro , e estavam no interior de Goiás , mais precisamente em Ipameri . Nossos protagonistas iriam realizar o famoso número no qual duelavem , porém , as armas que utilizavam em cena pertenciam aos motoristas do circo , que se esqueceram de substituir a munição tradicional por balas de festim .

Não podemos deixar de admitir que o número fora um sucesso , uma vez que , quando os dois braços , foram despedaçados pelas balas ( de verdade ) , a criançada pensando que se tratara de um truque , gargalhou com entusiasmo e aplaudiu frenéticamente .

A partir daquela noite , as apresentações da supracitada companhia circense passaram a serem enormes fracassos , uma vez que a figura de dois palhaços manetas , afugentava a platéia , Assim foi em Orizona ( a grafia é assim mesmo ) , Pires do Rio , Silvânia , Interlândia e Jaraguá .

Ao chegar em Ceres e Rialma ( cidades vizinhas ) , Viriato Malaquias , o dono do Circo Aimoré , decidiu demitir Espoleta e Ardidinho . Quando iria conversar com eles , entrou em seu escritório um próspero fazendeiro , que ofereceu uma quantia em dinheiro para que os integrantes do circo se fantasiassem de índios , e à noite fingissem atacar sua fazenda . O latifundiário sairia então à varanda de sua casa , e daria tiros com balas de festim , impressionando assim seus hóspedes estrangeiros ( que trabalhavam em uma mutinacional ) .

Viriato aceitou a proposta , e em seguida demitiu os dois bufões deficientes . Estes caminhavam indignados , quando , passando sobre a ponte que divide as duas cidades e olhando para o rio das Almas , Espoleta teve a seguinte idéia : enquanto o pessoal do circo estivesse na fazenda dando o showzinho combinado , ele e Ardidinho roubariam as armas ( as mesmas do incidente ) que os motoristas guardavam nos caminhões , e no instante que o fazendeiro disparasse tiros de festim , eles , por trás , disparariam com balas de verdade e eliminariam todos os integrantes do circo . Assim todos achariam que teria sido um equivoco do latifundiário , que teria , sem querer , usado munição verdadeira .

Assim começou a carreira criminosa de Caveirinha My Friend ( Espoleta ) e Jongo , o Anão Mau Caráter ( Ardidinho ) .

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A INCRÍVEL ESTÓRIA DE XÊNYA CHAPOLETTE

Nascida em solo francês , nossa protagonista chegou ao Brasil na infância , mas precisamente ao quatro anos de idade . Xênya Chapolette era descendente de Elisa Alicia Lynch , a irlandesa que fôra para o Paraguai , após o casamento com Solano López , e regressara à Europa , após enterrar ( com suas próprias mãos ) o ditador em solo guarani , em 1870 , falecendo em Paris na mais completa miséria .

Esta heranças do inconsciente genético talvez explicassem a mania de mademoiselle Chapolette , chorar copiosamente cada vez que ouvia antigas guarânias ( Anahí , Lejania , Mis noches sin ti , etc ) . A outra coisa que a fazia verter lágrimas eram as canções de Roberto e Erasmo Carlos , no mais era uma mulher forte & decidida , requintada & esclarecida ( tal qual a antecessora ) .

Xênya , que sempre tratara os homens com superioridade , se apaixonou ao avistar o cidadão apelidado Sabará , em uma padaria perto de sua residência . Após um ano de flertes entre os sucos de laranja , os cafés expressos e os pães-com manteiga-sem-miolo na chapa , ela se aproximou perguntando : “Olá , eu sou a Xênya Chapollete !!! Como você se chama ???”

O malandro de padaria olhou-a lentamente e após instantes de reflexão exclamou :”Eu sou o Sabará… escuta você é Tchutchuca , preparada ou cachorra ?”

Mademoiselle Chapolette retirou-se para voltar no dia seguinte , com terno-e-saia , gravata , chapéu e óculos escuros e cartazes com os dizeres “PELO AMOR DE DEUS” e “EU NÃO SOU CACHORRA NÃO” ; respondendo de forma Waldick Sorianesca as babaquices de Sabará . Este , obviamente não entendeu nada , ao vê-la desfilar com os cartazes na porta da padaria sob o olhar atônito e estarrecido dos frequentadores .

Xênya Chapolette , atualmente mora em um castelo em Galway ( Irlanda ) , pois casou-se com Leopold Dedalus , nobre que , em férias pelo Brasil , ficou comovido ao vê-la chorar após ouvir “Detalhes” ( Roberto Carlos/Erasmos Carlos ) em uma loja de CDs de um shopping qualquer .

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