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{ Tag Archives } literatura

Citação do dia :

Que te demores, que me persigas
Como alguns perseguem as tulipas
Para prover o esquecimento de si.
Que te demores
Cobrindo-me de sumos e de tintas
Na minha noite de fomes.
Reflete-me. Sou teu destino e poente.
Dorme.

( Hilda Hilst )

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RICHIAMI

Quando dal sole sul mare di squame
scendono faville, mi fermo ed ascolto
il lento sciacquio dell’onda sonora.
L’onda si rompe sui gradi del molo
a spruzzi, a riccioli sparsi, danzante,
ora bianca, or rilucente… La terra
essa bacia e dice dolci parole;
indi si volge a un ignoto richiamo.

Odo pur io una voce lontana…
Mi sono dinanzi I dolci occhi pensosi
vivi di lampi improvvisi fugaci.
Tremo alla gioia allora e al pianto. Ardo
tutta nel cuore nei polsi nel viso.
Mi rivolgo. Il vento m’offende, sperde
le lacrime e irride crudele.

DESEJOS

Quando do sol sobre o mar de escamas
descem fagulhas, paro e escuto
o lento sacudir da onda sonora.
Quebra-se a onda nos degraus do cais
com borrifos, melenas esparsas, dançando
ora branca, ora reluzente… A terra
beija a onda e diz palavras doces:
depois retrai-se num desejo ignoto.

Escuto eu também uma voz distante…
Vejo adiante doces olhos pensativos
relampejantes improvisos fugazes.
Tremo de alegria então e choro. Ardo
tôda no coração, nos pulsos, no rosto.
Volto-me. Me ofende o vento e espalha
as lágrimas e gargalha, cruel.

( Úrsula Cottone – tradução : Oliveira Ribeiro Neto )

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“POLÍTICA LITERÁRIA

O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual dêles é capaz de bater o poeta federal.

Enquanto isso o poeta federal
Tira ouro do nariz”

( Carlos Drummond de Andrade )

Este poema de Drummond , escito há setenta anos , só não é mais profético pelos simples fato de que Serra , Alkmin e Lula não são poetas , são apenas prefeito , governador e presidente.

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Tive um tio-avô que era artista , chamava-se Pedro : poeta , ceramista , tradutor , aquarelista … foi diretor do Museu de Arte Sacra … hoje vou publicar um poema dele publicado no nº 89 da Revista da Academia Paulista de Letras , depois publico algumas traduções de poesias italianas que ele realizou …

SACI

Vento,
Vento,
Vento
Vento zumbe, vento zune, vento passa.
Vento. O campo é um turbilhão.
No meu cavalo alazão,
cavalo de cinco patas,
corto o campo, venço matas,
montado no meu destino
de ser aquele que sou.
A perna que está sobrando
no meu cavalo alazão,
é a perna que me faltou;
a perna que se tornou
audácia de saltar valos,
novo sentido de cego
que não vê mas que pressente,
de mim e do meu cavalo.
Vento
Vento
Vento
Vento zumbe, vento zune, vento passa.
Minha voz é um assobio
sem som, guiando o corrupio
em perpétuo desafio
às coisas do mundo. Fio
frio e fino com que guio
o corrupio do vento
nos campos em que sou rei.
Vento quente,vento frio,
Vento
Vento,
Vento.
Eu assobio, assobio
Montado no meu cavalo
Passo-passando-passei.

( Oliveira Ribeiro Neto )

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Citação do dia :

“O viajante

Eu sempre que parti, fiquei nas gares
Olhando, triste, para mim…”

( Mário Quintana )

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Citação do dia :

“O ventre de Maia confunde-se com o Sono, com o silêncio que precede a escrita, abrigo em que se renovam todos os Budas da terra, seio que gera visões oníricas e literárias (…) A noite completa o dia. Este não apaga o que a noite produz, mas traz à luz da consciência o que noite gera. No agora a noite revém. (…) A paz alcançada no budista bosque de bambu ou na tranqüilidade do sono não cobre a realidade toda. Temos que haver-nos, além da luz que brota da unidade, com os sentimentos múltiplos perdidos ou extraviados ao longo da vida. Tentar ordenar fragmentos é o jogo indeclinável do pensamento e da arte. Emergem as urgências que a luz tinha ofuscado, o livre exercício da sexualidade.”

( Donaldo Schüler )

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Citação do dia :

“Mas a juventude é apenas quando nos comportamos tipo assim como os animais. Não, não é bem tipo assim ser um animal, mas ser um daqueles brinquedos malenks (*) que você videia (**) sendo vendidos nas ruas, como pequenos tcheloveks (***) feitos de lata e com uma mola dentro e uma chave de corda do lado de fora e você dá corda nele e grr grr grr e ele vai itiando (****), tipo assim andando, Ó, meus irmãos. Mas ele itia numa linha reta e bate direto em coisas bang bang e não pode evitar o que está fazendo. Ser jovem é como ser uma dessas máquinas malenks.”

Glossário :
(*) malenk = pequeno
(**) videar = observar
(***) tchelovek = sujeito
(****) itiar = ir, andar

( Anthony Burgess – tradução : Fábio Fernandes )

Este fragmento foi extraído do último capítulo do livro “Laranja Mecânica” de Anthony Burgess … o que aqueles que só viram o filme não sabem , é que no livro tem um parte a mais … explico : é que Stanley Kubrick se baseou na versão americana do livro , na qual os editores cortaram o último capítulo . As versões que sairam em Pindorama não foram mutiladas ( ainda bem ) , pois se baseiam na versão inglesa com os 21 capítulos originais … outra coisa é a idade do protagonista … no filme , o ator que interpretou Alex ( Malcom McDowell ) tinha 28 anos , no livro ele tem 15 … Leiam , pois o livro é ao mesmo tempo fácil de ler , muito sofisticado em termos de linguagem e a tradução está muito boa …

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HAICAI PARA DUBLIN

the banishment.
loneliness does not disturb
but vastness.

o desterro.
não me incomoda solidão
mas vastidão.

( Eduardo Miranda )

O poema é do meu amigo Eduardo Miranda ( que está morando naquela cidade em que Leopold Bloom passou um dia memórável , uns tempos atrás ) , a tradução é minha.
Por falar em assuntos irlandeses , saiu hoje no jornal aquele ditado popular irlandês que diz : “a pint of Guinness a day , keeps the Doc away” ( Uma ampola de Guinness diária, mantém o médico longe da área ).

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Citação do dia :

” Das leis da natureza

Falar contra as mulheres…
Que ingenuidade a tua!
Dize-me, acaso queres
Ironizar as variações da lua? “

( Mário Quintana )

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Estou lendo “Mamíferos” ( Companhia das Letras ) , o quarto romance escrito por Pierre Mérot , em que um personagem denominado “o tio” perambula de emprego em emprego enquanto enche a cara nos botequins parisienses . Nesta obra o autor discorre sobre a sexualidade, o consumo, o comunismo , a arte conceitual , entre outras coisas . Aqui vão alguns fragmentos :

“O que é uma editora? Em O Pêndulo de Foucault você encontra uma definição interessante: a atividade essencial de uma editora consiste em extraviar manuscritos. O tio, que teve a honra de exercer este cargo antes de ser demitido, está cem por cento de acordo com Umberto Eco. Essa definição merece ser completada, porém: além de extraviá-los, uma editora sente-se no dever de empilhá-los sem nunca lê-los. Também é uma espécie de teatro em que os oficiais de justiça entram por uma porta enquanto o dono sai pela outra.”

“Visto de certa altura, o bulevard periférico, que circunda Paris, vira uma coisa interessante. À noite tem faróis vermelhos num sentido, e no outro, faróis brancos. Os faróis vermelhos são os parisienses, os faróis brancos os moradores dos subúrbios. De manhã é o contrário. O extraterrestre que nos observar demoradamente constatará que somos uma espécie dotada de inteligência. À noite um bando alegre de trabalhadores volta para casa. Assobiam como em Branca de Neve e os sete anões De uma torre, avistam-se outra torres. Que lindo.
(…)A torre em que o tio trabalha é inteiramente composta de escritórios. Tem um nome bonito: chama-se Siamesa 1. E uma irmã bem ao lado: Siamesa 2. Tem um refeitório superpovoado num subsolo. Os neons são violentos. Os burocratas tem sorrisos artificiais. Os batons parecem feridas. As peles são macielentas. Até parece um abrigo atômico. De fato, o trabalho é uma catástrofe maior. A arquitetura é uma arte magnífica, social, cheia de esperança. Tem a ver diretamente com a vida cotidiana dos homens. No comum das vezes está na mão de assassinos.”

“O que é um bar noturno? Ou mais precisamente: o que é um bar noturno de bairro? É um estabelecimento que você freqüenta porque está mal e onde você percebe que os outros estão pior. Então você se sente particularmente bem por lá. É um hospital cheio de gente recebendo transfusões de alegria, um zoológico demasiado humano.”

( Pierre Mérot – tradução : Eduardo Brandão )

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