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{ Tag Archives } literatura

SOBRE LEITURAS

Depois de ler “A Sombra do Vulcão” e “Cáustico Lunar” de Malcolm Lowry e “O Sonho dos Heróis” de Adolfo Bioy Casares, estou lendo “Kind of Blue – A Histórica Obra Prima de Miles Davis” de Ashley Kahn (tradução Patrícia de Cia e Marcelo Orozco), que fala sobre o genial disco que Miles gravou com Bill Evans, Wynton Kelly, John Contrane, Cannonball Adderley, Paul Chambers e Jimmy Cobb … fiquem com o texto da capa do LP, escrito por Bill Evans:

“Existe uma arte visual japonesa na qual o artista é forçado a ser espontâneo. Ele tem de pintar sobre um fino pergaminho esticado usando um pincel especial e tinta a água na cor preta, de tal forma que qualquer pincelada afetada ou suspensa pode destruir o traço ou rasgar o pergaminho. Correções ou mudanças são impossíveis. Esses artistas têm que praticar uma disciplina particular, de permitir à idéia expressar-se por si só em comunicação com as suas mãos, de uma maneira direta tal que a deliberação não possa interferir.
As imagens resultantes carecem de composição complexa e das texturas da pintura comum, mas diz-se que pessoas de visão irão encontrar algo capturado que escapa à explicação.
Esta convicção de que a ação direta é a reflexão mais plena de significado, creio eu, instigou a evolução de disciplinas extremamente severas e ímpares dos músicos de jazz ou improvisadores.”

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Tenho o costume de ler diversas coisas ao mesmo tempo e muitas vezes noto semelhanças entre textos diferentes. No caso estou lendo lentamente “Textos Recobrados” ( que ficaram de fora das “Obras Completas” ) de Jorge Luis Borges ( em espanhol – Editora Emecê ) e semana passada comprei uma revista da Biblioteca EntreLivros sobre Machado de Assis … Vejam como um artigo do “Brujo de Palermo Viejo” – publicado na revista espanhola “Cosmópolis” em 1922 – versa sobre assunto semelhante a que se refere a crítica que João Adolfo Hansen tece sobre o “Bruxo de Cosme Velho” :

“Recordemos que Lichtenberg chamou o homem das rastlose Ursachentier, a infatigável besta causal. E se o princípio da causualidade fosse um mito, e cada estado de consciência – percepção, recordação ou idéia – não suspeitasse de nada, não tivesse esconderijos nem raizames com os demais nem significação profunda, e fosse unicamente o que parece ser em absoluta e confidencial inteireza?
(…) Nem o tempo é uma corrente onde se banham todos os fenômenos, nem o eu é um tronco que cingem com rotação pertinaz as sensações e idéias. Um prazer, por exemplo é um prazer, e defini-lo como o resultado de uma equação cujos termos são o mundo externo e a estrutura fisiológica do indivíduo, é um pedantismo incompreensível e prolixo. O céu azul, é céu e é azul (…)
Melhor dito: tudo está e nada é.”

( Jorge Luís Borges – tradução: José Geraldo de Barros Martins )

“A disposição descontínua contrapõe-se à narrativa tradicional de ‘começo-meio-fim’ e contraria a disposição positivista da história, que pressupõe a linearidade da ordem e do progresso. (…)
A técnica torna estranha a familiaridade do princípio de causalidade com que os romances do tempo fundamentam e legitima a memória e o reconhecimento do leitor, pois atinge sua ‘capacidade de recordar para a frente’ “

( João Adolfo Hansen – sobre os romances de Machado de Assis )

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“Jantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamente Otelo, que eu não vira nem lera nunca; sabia apenas o assunto, e estimei a coincidência. Vi as grandes raivas do mouro, por causa de um lenço. – um simples lenço!- e aqui dou matéria à meditação dos psicólogos deste e de outros continentes, pois não me pude furtar à observação de que um lenço bastou a acender os ciúmes de Otelo e compor a mais sublime tragédia deste mundo.
(…)
O último ato mostrou-me que não eu, mas Capitu devia morrer. Ouvi as súplicas de Desdêmona, as suas palavras amorosas e puras, e a fúria do mouro, e a morte que este lhe deu entre aplausos frenéticos do público.
– E era inocente, vinha eu dizendo rua abaixo; – que faria o público, se ela deveras fosse culpada, tão culpada como Capitu?”

( Machado de Assis )

Segundo a americana Helen Caldwell, esta é a chave para a compreensão de Dom Casmurro … a identificação Desdêmona-Capitu, mostra que inconscientemente que Bentinho sabia que Capitu era inocente … e qual o sobrenome de Bentinho ??? – Santiago … vejam as quatro últimas letras : IAGO (*) : a chave = Bentinho era Iago de si mesmo …
E sabem onde eu ouvi tal teoria : no programa Saia Justa
Pois é, existem programas femininos de altíssimo nível , ao contrário daquele programa fútil , superficial e idiotizado estrelado pela americana magrela que faz propaganda de shopping de emboaba novo-rico … aliás depois que vi ela fazendo aquele comercial terceiro mundista e o Stalone fazendo aquele outro de carro popular, cheguei a conclusão que o império americano está indo pelo beleléu … mas isto já é outra estória …
Parabéns mulheres do Saia Justa !!!

(*) Para quem nunca leu Shakespeare, Iago era o criado de Otelo que através de intrigas terríveis convence o mouro de Veneza que sua esposa Desdêmona o traía ( o que era uma enorme mentira )

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DE UM LIVRO A OUTRO , A TRAVESSIA DA CATALUNHA MEXICANIZADA À BANDA ORIENTAL DO URUGUAY

“Não era difícil reconhecer de longe a barraca das duas mulheres, o lixo, melhor dizendo, uma série inclassificável de objetos usados e inúteis, não propriamente jogados fora, se amontoava formando cones de trinta centímetros de altura ao longo do perímetro da barraca, como ameias de uma fortaleza miserável.”

( Roberto Bolaño – tradução : Eduardo Brandão )

Depois de “Putas Assassinas”, terminei de ler outro livro de Roberto Bolaño, “Pista no Gelo”… enquanto o primeiro é uma série de contos ( geniais, por sinal ), “Pista no Gelo” foi o romance de estréia deste excepcional romancista chileno ( que viveu no México e na Espanha ), que apresenta a mesma agilidade e estrutura fragmentária que depois apareceria em “Detetives Selvagens” …
Agora estou lendo “O Cavalo Perdido e Outras Histórias” livro de contos do uruguayo Felisberto Hernández, leiam um pouquinho:

“Dentro de um quadro havia duas ovais com as fotografias de um casal de parentes de Celina. A mulher tinha a cabeça inclinada bondosamente, mas a garganta, aumentada, me fazia pensar num sapo. Uma das vezes em que olhava para ela, fui atraído, não sei como, pelo olhar do marido. Por mais que o observasse com rabo de olho ele me olhava de frente e no meio dos olhos. Até quando eu caminhava de um lugar para outro da sala e tropeçava numa cadeira, seus olhos se dirigiam ao centro de minhas pupilas. E era fatalmente eu quem tinha que baixar o olhar. A esposa expressava doçura não só com a inclinação, mas com todas as parte da cabeça: até com o penteado alto e a garganta de sapo. Deixava que todas as suas partes fossem boas: era como uma grande sobremesa, gostosa por qualquer lado que se provasse. Mas havia algo que ela não somente deixava que fosse bom, mas que estava dirigido a mim: isso estava nos olhos. Quando eu tinha a preocupação de não poder olhar para ela à vontade porque ao lado estava o marido, os olhos dela tinham uma expressão e uma maneira de entrar nos meus que equivalia a me aconselhar: “não ligue para ele, eu te entendo, meu querido”.

( Felisberto Hernández – tradução : Davi Arrigucci Jr. )

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“A transpiração inspira, tanto quanto a inspiração transpira”

( Mário Chamie )

Sempre achei muito simplista a idéia de que “arte é 10% de inspiração e 90% de transpiração” … acho a supracitada frase de Chamie de uma felicidade ímpar … li ela em uma entrevista que o criador da Poesia Praxis concedeu a revista do SESC deste mês , matéria por sinal muito esclarecedora … é curiosa a rixa dele com os concretos , bem como os grupos de artistas e veículos de imprensa que tomaram partido, tanto de um grupo como de outro … Quanto a mim , sigo as sábias palavras do saudoso Arnaldo Xavier : ” Num país de analfabetos como o nosso , não podemos jogar pedras em quem escreve bem , seja de um lado seja de outro” …

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Nem só de passear, comer e beber se resume uma viagem … Estou lendo Textos Recobrados de Borges, em espanhol é claro, pois quando viajo para países de lingua espanhola nao costumo ler livros em português … Fiquem com uma frase :

“Existen dos estéticas: la estética pasiva de los espejos y la estética activa de los prismas. Guiado por la primera, el arte se transforma en una copia de la objetividad del medio ambiente o de la historia psíquica del individuo. Guiado por la segunda, el arte se redime, hace del mundo su instrumento, y forja- mas allá de las cárceles espaciales y temporales- su visión personal.”

( Jorge Luis Borges )

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Existem escritores que falam de comida e bebida , e existem os que não falam … Uma carne assada com vinho é descrita minuciosamente em algum romance de Eça de Queiroz a receita da carne o tipo de vinho, a sobremesa, etc. … esta mesma refeição é descrita de outra forma, bem mais genérica em alguma obra de Machado de Assis.
Nas biografias é a mesma coisa. Li “Só numa multidão de amores” a biografia de Maysa de Lira Neto ( editora Globo ) a acho que ele joga no time do Machado, ou seja descreve os hábitos etílicos e alimentares de forma superficial . Não sabemos se a autora de “Ouça” bebia whisky puro, com gelo ou com club soda … nem o que ela comia , nem o que ela cozinhava …

Na biografia de Ary Barroso (escrita por Sergio Cabral – Lumiar Editora ) descobrimos que o autor de “Aquarela do Brasil” gostava de bebidas gasosas: gin-tônica à tarde, depois whisky com club-soda à noite e uma cerveja de madrugada, acompanhada sempre de um frango assado … Na biografia de Torquato Neto ( escrita por Toninho Vaz – Editora Casa Amarela ) descobrimos que o letrista da música “Geléia Geral” preparava uma farofa de ovo usando leite na mistura com farinha … Na biografia de James Joyce ( escrita por Richard Ellmann – Editora Globo ) descobrimos que o autor de “Ulisses” só bebia vinho branco e champagne, rejeitando os vinhos tintos ( detalhe: ele morou duas décadas em Paris, um paraíso para os apreciadores da bebida de baco ) … Na biografia da Antônio Maria escrita por Joaquim Ferreira dos Santos – Editora Relume Dumará descobrimos que o letrista de “Manhã de Carnaval” gosta de comer: o sanduíche de carne assada no Cervantes, ou o porco assado no restaurante Calypso, ou então o bacalhau ao Zé do Pipo no restaurante Corridinho.

Pois bem, mas não vamos depreciar a biografia de Maysa só por isto, existem outras biografias muito boas que li e que não primam pelo requinte gastronômico … apesar disto e de algumas pequenas incorreções (*) o livro de Lira Neto é muito bom, descreve com minúcia como cada album foi gravado ( quem fez os arranjos, como o repertório foi formado, etc.) revela trechos dos diários da cantora, o paradeiro dela no exterior, mostra a futilidade da imprensa , enfim é um retrato de uma artista trágica e atormentada em meio a emboabice de São Paulo e Rio, entre a década de cinquenta e a de setenta, enfim … Leiam !!!
Se quiserem ver a homenagem que eu fiz para Maysa vejam aqui e procurem pelo postado em 21 de Janeiro de 2007 .

(*) Por exemplo, no livro o filme “Matou a Família e Foi ao Cinema” é descrito como filmado por Rogério Sganzerla, quando na verdade foi realizado por Júlio Bressane.

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Após terminar “Moby Dick” ( Herman Melville ) li “Noturno do Chile” escrito pelo chileno-mexicanizado Roberto Bolaño … Não é tão genial como “Detetives Selvagens” , mas vale a pena ler … Hoje vejo no jornal que estão lançando em Pindorama outra obra deste grande escritor , desta vez um livro de contos , chamado “Putas Assassinas” , vamos conferir … Fiquem com um fragmento de “Noturno do Chile” :

“(…) e então o entardecer dos arredores de Avignon se tingia de um vermelho intenso, como o vermelho dos crepúsculos que você vê da janela de um avião, ou o vermelho dos amanheceres, quando você acorda suavemente com o ruído dos motores assobiando nos ouvidos, corre a cortininha do avião e distingue no horizonte uma linha vermelha como uma veia, a femoral do planeta, a aorta do planeta, que pouco a pouco vai inchando, essa veia de sangue, foi a que vi nos céus de Avignon (…)”

( Roberto Bolaño – tradução : Eduardo Brandão )

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Citação do dia :

“E sem dúvida minha ida nessa viagem baleeira fazia parte do grande programa da Providência, escrito há muito tempo. Veio como uma espécie de breve interlúdio e solo entre apresentações mais amplas. Suponho que parte do programa devia dizer mais ou menos o seguinte:

Grande e disputada eleição para a Presidência dos Estados Unidos.
Viagem baleeira por um certo Ismael.
SANGRENTA BATALHA DO AFEGANISTÃO.

Embora eu não possa dizer exatamente por que foi que esses empresários teatrais, os Fados, me escolheram para esse papel insignificante de uma viagem de pesca à baleia, quando outros foram selecionadaos para papéis magníficos em sublimes tragédias, pontas fáceis em elegantes comédias e divertidas partes em farsas.”

( Herman Melville – Tradução : Péricles Eugênio da Silva Ramos )

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NOTÍCIAS, NOTICIAS, NOTÍCIAS

– Fui assistir “Quando Os Deuses Adormecem” de José Mojica Marins … torno a repetir: dois minutos de um filme destes são melhores que duas horas de um enlatado que passa na TV a cabo …
Noto em Mojica uma coisa peculiar: a feiúra das faces dos atores (geralmente escolhida a dedo entre os tipos populares) confere um caráter expressionista que diferencia o cinema deste gênio do resto dos ditos diretores de filmes de terror … é como que se ele quisesse dizer : nosso povo é que é o verdadeiro terror !!!

– Fiquei sabendo que o boteco que existe em frente de casa ganhou o segundo lugar no concurso Petisco Bohemia com o saborosíssimo “Escondidinho de Bacalhau” uma criação genial da Dona Rosa, a dona de bar mais ranzinza e mais simpática das terras de lingua portuguesa. O vencedor do concurso foi a Cestinha de Pernil do “Famoso Bar do Justo” localizado em Santana (mais precisamente na R. Voluntáris da Pátria) boteco que visitei aproximadamente há quinze anos…

– Terminei de ler “Um Jogador” de Fiódor Dostoiévsky um romance divertido no qual o escritor russo zomba do capitalismo alemão, do verniz francês, e da irracionalidade russa… começo agora “Mob Dick” de Hermam Melville, logo mais irei querer rever o filme homônimo dirigido por John Huston …

– Pra finalizar fiquem com a foto das capas dos Lps de duas grandes damas da canção brasileira : Dolores Duran e Maísa

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