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Existem escritores que falam de comida e bebida , e existem os que não falam … Uma carne assada com vinho é descrita minuciosamente em algum romance de Eça de Queiroz a receita da carne o tipo de vinho, a sobremesa, etc. … esta mesma refeição é descrita de outra forma, bem mais genérica em alguma obra de Machado de Assis.
Nas biografias é a mesma coisa. Li “Só numa multidão de amores” a biografia de Maysa de Lira Neto ( editora Globo ) a acho que ele joga no time do Machado, ou seja descreve os hábitos etílicos e alimentares de forma superficial . Não sabemos se a autora de “Ouça” bebia whisky puro, com gelo ou com club soda … nem o que ela comia , nem o que ela cozinhava …

Na biografia de Ary Barroso (escrita por Sergio Cabral – Lumiar Editora ) descobrimos que o autor de “Aquarela do Brasil” gostava de bebidas gasosas: gin-tônica à tarde, depois whisky com club-soda à noite e uma cerveja de madrugada, acompanhada sempre de um frango assado … Na biografia de Torquato Neto ( escrita por Toninho Vaz – Editora Casa Amarela ) descobrimos que o letrista da música “Geléia Geral” preparava uma farofa de ovo usando leite na mistura com farinha … Na biografia de James Joyce ( escrita por Richard Ellmann – Editora Globo ) descobrimos que o autor de “Ulisses” só bebia vinho branco e champagne, rejeitando os vinhos tintos ( detalhe: ele morou duas décadas em Paris, um paraíso para os apreciadores da bebida de baco ) … Na biografia da Antônio Maria escrita por Joaquim Ferreira dos Santos – Editora Relume Dumará descobrimos que o letrista de “Manhã de Carnaval” gosta de comer: o sanduíche de carne assada no Cervantes, ou o porco assado no restaurante Calypso, ou então o bacalhau ao Zé do Pipo no restaurante Corridinho.

Pois bem, mas não vamos depreciar a biografia de Maysa só por isto, existem outras biografias muito boas que li e que não primam pelo requinte gastronômico … apesar disto e de algumas pequenas incorreções (*) o livro de Lira Neto é muito bom, descreve com minúcia como cada album foi gravado ( quem fez os arranjos, como o repertório foi formado, etc.) revela trechos dos diários da cantora, o paradeiro dela no exterior, mostra a futilidade da imprensa , enfim é um retrato de uma artista trágica e atormentada em meio a emboabice de São Paulo e Rio, entre a década de cinquenta e a de setenta, enfim … Leiam !!!
Se quiserem ver a homenagem que eu fiz para Maysa vejam aqui e procurem pelo postado em 21 de Janeiro de 2007 .

(*) Por exemplo, no livro o filme “Matou a Família e Foi ao Cinema” é descrito como filmado por Rogério Sganzerla, quando na verdade foi realizado por Júlio Bressane.

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