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{ Tag Archives } literatura

MRS. DALLOWAY – Virginia Woolf – Tradução: Gabriela Maloucaze – Editira Mediafashion Travelling é aquela técnica cinematográfica na qual a câmera se movimenta fazendo vários enquadramentos sem cortes. Foi usada magistralmente por Orson Welles na abertura de “Marca da Maldade” (Touch of Evil) ou naquela cena no estádio do Racing Club de Avellaneda em “Segredo dos Seus Olhos” de Juan José Campanella… existem até filmes feitos com um único travelling como “Festim Diabólico” (Hope) de Hitchcock… O que poucos sabem, foi que o travelling na verdade, começou na literatura em 1925, quando o cinema apenas engatinhava… Neste romance, o foco narrativo muda de personagem para personagem, na medida que os mesmos se encontram (ou ao menos se avistam) ao longo do dia em que se passa a narrativa, como se fosse uma câmera/gravador que registrasse suas ações e pensamentos. Na minha opinião esta é a maior qualidade deste livro: a invenção do travelling, técnica que seria depois absorvida pela industria cinematográfica… mas tem mais: o livro faz uma crítica, seja da hipocrisia social da classe alta, seja do ressentimento boçalizado das classes empobrecidas… seja da insensibilidade dos médicos, seja da falta de amparo à multidão de soldados que participaram de Primeira Guerra Mundial e ficaram com sequelas mentais… Virginia Woolf também explora a técnica do monólogo interior, sem contudo radicalizar para a técnica do fluxo da consciência, utilizada três anos antes por James Joyce em “Ulisses” (outro romance que também se passa em um único dia)… Embora seja evidente a influência de Joyce, Virginia Woolf não gostava de “Ulisses”; definindo-o como “obra de um homem frustrado, que sente que para ser capaz de respirar, precisa quebrar as janelas”… Mas não cabe aqui polemizar, sobre quem é mais criativo do que quem… Virginia Woolf, para mim, é uma das melhores escritoras que existiram, no nível de Hilda Hilst e Valéria Luiselli… E “Mrs Dalloway” é seu melhor livro… Leiam e se puderem, acompanhem suas andanças pelas ruas de Londres através deste site: http://mrsdallowaymappingproject.weebly.com/

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POETAS PAULISTAS DA SEMANA DE ARTE MODERNA – Mário da Silva Brito – Editora Martins No ano que vem a Semana de Arte Moderna fará 100 anos… pensando nisso resolvi me informar melhor, pois além de “Macunaíma”, “Juca Mulato”, “Memórias Sentimentais de João Miramar”, “Serafim Ponte Grande”, “O Perfeito Cozinheiro das Almas Deste Mundo”, “Klaxon” e o manifesto Antropofágico e Pau Brasil, não havia lido nada sobre a literatura modernista… Neste livro, editado pela editora do meu avô (Livraria Martins Editora), podemos ler uma seleção feita pelo poeta Mário da Silva Brito, dos poetas paulistas da Semana de Arte Moderna (foram excluídos o carioca Ronald de Carvalho e o pernambucano Manuel Bandeira) com poesias de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia, Ribeiro Couto, Sérgio Milliet, Luís Aranha, Tácito de Almeida e Plínio Salgado. Toda a coletânea é polêmica… após a leitura do livro, procurei ler outros poemas desta turma e verifiquei que na minha opinião, outras poesias deveriam ser incluídas nesta coletânea: como por exemplo “Cocktail” de Luís Aranha, “O Poema-Instante” de Guilherme de Almeida, “O Vôo” de Menotti Del Picchia, “O Poeta e a Guerra” de Sérgio Milliet, etc., porém toda seleção é pessoal, cada pessoa faria a sua própria escolha… Novesfora estas pequenas divergências, este livro apresenta poemas como “A Meditação Sobre o Rio Tietê” (para mim, o melhor poema de Mário de Andrade), “Noturno” (Oswald de Andrade), “Mormaço” (Guilherme de Almeida), “Unidade” (Sérgio Millet), “Poema Pitágoras” (Luís Aranha) e um poema (na época da edição inédito) de Tácito de Almeida (irmão de Guilherme de Almeida e pai do arquiteto Eduardo de Almeida (que foi meu professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) denominado “O Túnel”. Confiram… se não acharem este livro nos sebos, leiam ao menos os Manifestos de Oswald de Andrade e os poetas modernistas… 2022 está chegando…

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KHADJI-MURÁT – Lev Tolstói – tradução: Boris Schnaiderman – Editora 34 Este romance, a última obra de Tolstói, é a síntese de seu processo criativo… depois de escrever romances extensos como “Guerra e Paz” e “Ana Kariênina”, ele passa aos contos populares e depois às novelas, atingindo o mesmo grau de excelência neste gêneros. Porém no final da vida, ele resolveu voltar a escrever um romance baseado em suas experiências como oficial do exército russo na guerra do Cáucaso (1817-1864), em especial a passagem na qual o guerreiro tchetcheno Khadji-Murat (1796-1852) se entregou ao exército russo. Na época, Tolstói comentou esta história em uma carta ao seu irmão Serguei, depois em 1862 na escola rural que fundou em sua propriedade de Iásnaia Poliana, ele costumava contá-la aos camponeses… por fim, a partir de 1896, passa a escrever um romance, cujos rascunhos possuem 2.166 páginas… até que vai depurando e condensando o texto para chegar a versão final com 159 páginas… O romance está incluso na categotoria designada por Cortázar como construção esférica, definição dada a obras que começam e acabam no mesmo ponto… “Khadji-Murát” inicia e termina com a imagem de um tufo que fora esmagado por uma roda de carroça, mas que se reerguera… uma erva que não se rende a ação destruidora do ser humano… esta imagem (metáfora da luta de povos que se rebelam contra o despotismo e a submissão), lembra ao narrador uma velha história de um guerreiro caucasiano… Na narrativa, através de uma linguagem que antecipa tanto os movimentos de camera quanto a montagem cinematográfica; a ocupação russa no Cáucaso e a resistência dos povos islâmicos, são mostrados sob diferentes pontos de vista (dos povos montanheses, dos soldados, das mulheres que habitavam os quartéis, dos oficiais, etc.). Também são habilmente expostos os aspectos geográficos da região, bem como o contraste cultural entre os povos, acentuado pelos trajes, pela culinária e pelos hábitos cotidianos… Um aspecto que faz com que a leitura deste livro tenha uma forte relação com os dias atuais, é a descrição que Tolstói faz do Czar Nicolau I… vejam como o escritor definiu o tirano em um dos rascunhos preliminares desta obra: “Para que, naquele tempo, um homem que estivesse à testa do povo russo, precisava ter perdido todos os atributos humanos: tinha de ser uma criatura mentirosa, ateia, cruel, ignorante e estúpida, e precisava, não apenas sabê-lo, mas, também, estar convencido de ser o paladino da verdade e da honra e um sábio governante, benfeitor de seu povo” Você, caro leitor, ao examinar os diversos governantes atuais, consegue reconhecer alguma criatura semelhante? Alguém que perdeu todos os atributos humanos?

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A MORTE DE IVAN ILITCH – Lev Tolstói – Tradução: Boris Schnaiderman –Editora 34

De todos os livros que reli, este com certeza foi o que mais me surpreendeu… na primeira vez que li, achei esta obra um tanto quanto maçante, uma espécie de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” sem senso de humor… e não entendia porque muitos a consideram como uma das maiores novelas escritas em todos os tempos… muitas vezes uma tradução ruim arruina um livro, caso que ocorre muitas vezes na literatura russa em português, onde muitas vezes o tradutor não traduz direto do russo, mas de outras traducões, principalmente as francesas… mas não foi este o caso… a outra tradução era de Irineu Franco Perpetuo que também era direta do russo… talvez eu não tenha lido com a devida atenção…

Agora relendo, verifiquei que o amargor no qual o magistrado moribundo relembra sua vida, que me aborrecera na primeira leitura, é uma cr a ﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽te  o final do livroeiturao campo) e que serºa critas em todos os tempos…ítica a futilidade burguesa, a mediocridade corporativa da coni-convivência dos funcionários públicos, ao cinismo com que os “saudáveis” tratam os doentes crônicos… Após verificar o desdém pelo qual os médicos pouco explicam a ele a sua real condição, percebe que muitas vezes procedera da mesma forma ao proferir suas sentenças no tribunal… Ivan Ilitch sabe que sua doença é mortal e percebe que o seu apego à vida é no fundo um apego a ideais vazios, sem significado…

Nesta obra Tosltói sintetiza a sua teoria mística, uma espécie de novo cristianismo, criada no final da sua vida, alterando não só o significado (o conteúdo), mas também o significante (a forma), quando cessa de escrever extensos romances, como “Guerra e Paz” ou “Anna Kariênina”, e passa a produzir novelas mais concisas com uma linguagem mais sintética…

Enfim, nesta época de pandemência, quando muitos e muitos Ivanilitixês, Ivanislédsons e Ivanisleides agonizam nesta triste Pindorama e qualquer um de nós pode assumir este trágico papel a qualquer momento, este é um livro duro porém puro; contundente porém transcendente! Leiam!

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APRENDENDO A VIVER – CARTAS A LUCÍLIO – Sêneca – tradução: Lúcia Sá Rebello e Ellen Itanajara Neves Vranas – L&PM Editores

Ganhei este livro recentemente de um colega no trabalho… A capa e o título lembram um destes livros de auto-ajuda, porém seu autor é Sêneca, nascido em Córdoba em 4 a.c. e falecido em Roma em 65 d.c. Este andaluz tornou-se uma das pessoas mais influentes do Império Romano: filósofo, dramaturgo, conselheiro do imperador… confesso que eu não conhecia sua obra, só via seu nome citado em um outro texto (como no poema “Ewigkeit” de Jorge Luis Borges) e sabia que ele havia sido preceptor de um tal de Nero…

Este livro é uma coletânea das cartas que ele escreveu ao seu amigo Lucílio (que não sabemos se realmente existiu ou se era um interlocutor imaginário), nas quais Sêneca professa sua filosofia, um misto de estoicismo com epicurismo… Temos cartas sobre os mais variados assuntos: “Da qualidade de vida comparável com sua duração”, “Da futilidade de planejar o futuro”, “Do encontrar a morte com alegria”, “Dos enganos do mundo”, “Do ler e escrever”, etc.

Deixo aqui dois exemplos, o primeiro está na carta Do consolo ao enlutado”:

 “Caso tivesse  perdido um amigo, a maior das perdas, deverias ainda assim ficar feliz porque o tivesse, e não porque o perdeste.”

O segundo exemplo está na carta “Da economia do tempo”:

Podes me indicar alguém que dê valor ao  seu tempo, valorize o seu dia, entenda que se morre diariamente? Nisso, pois, falhamos: pensamos que a morte é coisa do futuro, mas parte dela já é coisa do passado. Qualquer tempo que já passou pertence à morte.

Então, caro Lucílio, procuras fazer o que me escreves: aproveita todas as horas; serás menos dependente do amanhã, se te lançares ao presente. Enquanto adiamos, a vida se vai. Todas as coisas, Lucílio, nos são alheias, só o tempo é nosso.”

Nesta época de pandemia demencial, as frases dele sobre o aproveitar o presente momento soam tremendamente atuais… aliás na idéia de “trata de viver cada dia como se fosse uma vida inteira” está a base de um dos maiores romances do Século XX: “Ulisses” de James Joyce, no qual o autor traça um paralelo entre um dia comum de um cidadão comum com a Odisséia de Homero, como se naquele 16 de Junho de 1094, o corretor de anúncios de jornal Leopold Bloom pudesse vivenciar toda uma epopéia…

Vamos vivenciar uma epopéia a cada dia! Neste mês, que será o mais obscuro da nação brasileira, que a leitura de Sêneca nos ajude a enfrentar estes dias difíceis!

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MEU NOME É ÉBANO – A VIDA E A OBRA DE LUIZ MELODIA – Toninho Vaz – Editora Tordesilhas

Adoro biografias, e esta eu não podia perder: sempre me surpreendi com a sintaxe nada ortodoxa de cada letra deste ilustre vascaíno, sempre o considerei o maior compositor de boleros de Pindorama (“Estacio Holly Estácio”, “Juventude Transviada”, “Amor”, “Decisão”, “Começar pelo Recomeço”, etc.), sempre admirei sua elegância de sambista/bluesman, sempre o respeitei como intérprete de outros autores (Pixinguinha, Noel Rosa, Sérgio Sampaio, Getúlio Cortes, etc.)…

Então minha dica para este pós-carnaval pandêmico é esta: leia este livro e ouça toda a discografia do Luiz Melodia… se você não pôde pular carnaval (sorte sua, pois quem pula é cabrito), então se intere das coisas sem haver engano…

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A CIDADE E AS SERRAS – Eça de Queirós – Editora Nova Cultural

Nada como ler este livro após a leitura de Schopenhauer… a crítica que o escritor português faz da filosofia pessimista é impagável… Nesta obra Eça zomba dos excessos tecnológicos, do falso refinamento cultural e da afetação gatronômica, enaltecendo a simplicidade da vida rural… Uma das coisas que mais admiro em sua literature é a descrição dos vinhos e dos pratos… vejam esta passagem na qual Jacinto, um português endinheirado que vive em Paris, resolve pedir para seu cozinheiro preparar um arroz-doce, e o chef de cuisine prepara o que nos dias de hoje seria um “arroz-doce gourmet”… veja como as palavras de Eça de Queirós ainda são atuais:

“Mas quando o arroz-doce apareceu triunfalmente, que vexame! Era um prato monumental de grande arte! O arroz, maciço, moldado, em forma de pirâmide do Egito, emergia de uma calda de cereja e desaparecia sob os frutos secos que o revestiam até o cimo, onde se equilibrava uma coroa de conde feita de chocolate e gomos de tangerina gelada! E a iniciais, a data tão lindas e graves na canela ingênua, vinham traçadas nas bordas da travessa com violetas pralinadas! Repelimos, num mudo horror, o prato acanalhado.”

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ENCONTRO VOCÊ NO OITAVO ROUND – Cauê Guimarães – Editora Record

Este romance ganhou o Prêmio SESC de literatura em 2020… os amantes da nobre arte irão gostar, é um pouco sentencioso, porém no final ganha ritmo… é um daqueles livros que, se adaptados ao cinema dariam bons filmes… Faço votos que este “Fat City” tupiniquim encontre logo seu John Huston…

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O PENSAMENTO VIVO DE SCHOPENHAUER – Thomas Mann – Tradução_ Pedro Ferraz do Amaral – Livraria Martins Editora/Editora da Universidade de São Paulo

Nada como iniciar o ano lendo (ou relendo) algo sobre Schopenhauer… No meu caso havia acabado de ler “A Montanha Mágica” de Thomas Mann e para digerir melhor a leitura, intuí que deveria reler um resumo que este autor havia feito sobre Schopenhauer, em 1938. Na verdade neste livro Thomas Mann não resume todo o pensamento de Schopenhauer, e sim somente seu livro mais famoso “O Mundo como Vontade e Representação” como bem observou Jorge Luis Borges quando escreveu o prólogo da edição espanhola em 1939 (o prólogo do argentino pode ser encontrado em seu livro “Biblioteca Pessoal. Prólogos”).

A filosofia de Schopenhauer numa forma muito simplificada seria esta: A vontade de vida ao se objetivar criou os planetas, minerais, animais e humanos a medida em que se objetivava, ou seja, nós somos a vontade objetivada em seu grau mais elevado, e cada um de nós seria apenas uma representação de um pedacinho desta vontade de vida… porém toda a vontade só leva ao sofrimento, pois esta ao ser satisfeita gera o tédio que induz a uma nova vontade, e assim por diante… assim o mundo seria uma série de vontades competindo entre si, não se satisfazendo nunca e gerando cada vez mais sofrimento… um modo de escapar desta roda-viva seria arte, ou seja, o artista é alguém que se desliga momentaneamente das exigências da vida e contempla e reproduz “o espetáculo da vontade em sua representação” através da claridade de sua consciência… A arte seria então a representação da representação, uma peça teatral dentro de outra peça teatral (como em Hamlet)… porém o artista não vai muito além, pois ao reproduzir uma vontade representada acaba se confundindo com ela…

A outra maneira de de escapar desta roda-viva seria assumir que todas as pessoas são máscaras de uma só vontade, que todos são “uma pessoa só” (como na música homônima dos Mutantes), então cada um de nós teria que admitir que o sofrimento dos outros é o seu sofrimento, que a vontade dos outros é a sua vontade, ou seja, teríamos que renunciar a toda vontade individual para cumprirmos a vontade universal (ou a vontade de Deus), teríamos que nos tornar santos… mas ao renunciar totalmente a vontade o que restaria para aqueles que o fizeram seria o NADA.

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A MONTANHA MÁGICA – Thomas Mann – Tradução: Herbert Caro – Revisão da tradução e posfácio: Paulo Astor Soethe – Companhia das Letras

Este ano li (ou reli) muitos autores bons: Valeria Luiselli, Malcolm Lowry, João Cabral de Melo Neto, Rodrigo Rey Rosa, Andrés Caicedo, William Faulkner, Thomas Pynchon, Herman Melville, Agustín Fernández Mallo, Angélica de Barros, W. G. Sebald, Xavier de Maistre, entre outros… para fechar o ano com chave de ouro, acabei de ler “A Montanha Mágica” de Thomas Mann… meu pai havia me emprestado a primeira edição de 1952 (Editora Globo), mas acabei comprando esta edição recente pois, apesar de ambas serem traduzidas pelo Herbert Caro, na revisão da tradução, Paulo Astor Soethe traduziu os muitos diálogos em francês, que não foram traduzidos na primeira edição…

Para quem não sabe, trata-se da estória de um estudante de engenharia, Hans Castorp, que resolve visitar seu primo em uma luxuosa casa de recuperação em Davos (Suiça) e acaba ficando por lá por sete anos, até que estoura a Primeira Guerra Mundial. Mas na verdade, este é um livro sobre o tempo, ou melhor sobre a ausência dele, uma vez que naquele sanatório alpino, isolado da correria da civilização, o tempo transcorre de outra maneira… Na verdade como eu já havia percebido em “Fausto” (o de Thomas Mann, é claro), o tempo em suas obras se desdobra em quarto frentes distintas: temos o tempo da estória, o tempo da histórico, o tempo do autor e o tempo do leitor….

“A Montanha Mágica” é um daqueles livros que devemos ler várias vezes e a cada leitura obter uma nova dimensão da obra… como por exemplo o “Ulisses” de James Joyce, mas ao contrário deste que possui uma série de livros explicativos, “A Montanha Mágica” não possui guias que ajudem na travessia de suas 827 páginas…  mas talvez possa haver um: o livro de Thomas Mann sobre o pensamento de Schopenhauer… é possível que  na “A Montanha Mágica”, um romance de formação (bildungsroman), Thomas Mann desejasse que o jovem engenheiro recebesse uma educação schopenhauriana, mas ao invés de adotar uma solução óbvia de criar um personagem que ensinasse a doutrina mastigadinha ao jovem aprendiz, preferiu decompor o “pessimismo humanista guiado pela vontade” de Schopenhauer, em vários personagens e fazer com que Hans Castorp ao travar conhecimento com cada um destes personagens, absorvesse seus saberes e amalgasse dentro de si a síntese destas características, descobrindo empiricamente e por si só, a filosofia de Schopenhauer… teríamos então um pessimista (Leo Naphta) , um humanista (Ludovico Settembrini), um personagem hedonista que representa a Vontade-motriz (Mynheer Peeperkorn) e uma personagem que representa o objeto da vontade de Hans Castorp (Claudia Chaucat)…

Talvez esta seja uma chave… vale lembrar que Mann ao falar aos estudantes americanos em Pinceton, em 1939, sugere que se leia “A Montanha Mágica”  duas vezes seguidas, em uma citação a Schopenhauer, que no prefácio de “O mundo como vontade e representação” sugere ao leitor uma segunda leitura da obra.  Seja como for, embora tenha adorado “A Montanha Mágica” , não vou lê-lo de novo agora, como sugere seu autor, mas com certeza irei relê-lo mais tarde, pois é um grande livro…

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