APRENDENDO A VIVER – CARTAS A LUCÍLIO – Sêneca – tradução: Lúcia Sá Rebello e Ellen Itanajara Neves Vranas – L&PM Editores
Ganhei este livro recentemente de um colega no trabalho… A capa e o título lembram um destes livros de auto-ajuda, porém seu autor é Sêneca, nascido em Córdoba em 4 a.c. e falecido em Roma em 65 d.c. Este andaluz tornou-se uma das pessoas mais influentes do Império Romano: filósofo, dramaturgo, conselheiro do imperador… confesso que eu não conhecia sua obra, só via seu nome citado em um outro texto (como no poema “Ewigkeit” de Jorge Luis Borges) e sabia que ele havia sido preceptor de um tal de Nero…
Este livro é uma coletânea das cartas que ele escreveu ao seu amigo Lucílio (que não sabemos se realmente existiu ou se era um interlocutor imaginário), nas quais Sêneca professa sua filosofia, um misto de estoicismo com epicurismo… Temos cartas sobre os mais variados assuntos: “Da qualidade de vida comparável com sua duração”, “Da futilidade de planejar o futuro”, “Do encontrar a morte com alegria”, “Dos enganos do mundo”, “Do ler e escrever”, etc.
Deixo aqui dois exemplos, o primeiro está na carta Do consolo ao enlutado”:
“Caso tivesse perdido um amigo, a maior das perdas, deverias ainda assim ficar feliz porque o tivesse, e não porque o perdeste.”
O segundo exemplo está na carta “Da economia do tempo”:
“Podes me indicar alguém que dê valor ao seu tempo, valorize o seu dia, entenda que se morre diariamente? Nisso, pois, falhamos: pensamos que a morte é coisa do futuro, mas parte dela já é coisa do passado. Qualquer tempo que já passou pertence à morte.
Então, caro Lucílio, procuras fazer o que me escreves: aproveita todas as horas; serás menos dependente do amanhã, se te lançares ao presente. Enquanto adiamos, a vida se vai. Todas as coisas, Lucílio, nos são alheias, só o tempo é nosso.”
Nesta época de pandemia demencial, as frases dele sobre o aproveitar o presente momento soam tremendamente atuais… aliás na idéia de “trata de viver cada dia como se fosse uma vida inteira” está a base de um dos maiores romances do Século XX: “Ulisses” de James Joyce, no qual o autor traça um paralelo entre um dia comum de um cidadão comum com a Odisséia de Homero, como se naquele 16 de Junho de 1094, o corretor de anúncios de jornal Leopold Bloom pudesse vivenciar toda uma epopéia…
Vamos vivenciar uma epopéia a cada dia! Neste mês, que será o mais obscuro da nação brasileira, que a leitura de Sêneca nos ajude a enfrentar estes dias difíceis!
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