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{ Monthly Archives } maio 2004

Quando falei que iria ler “Finnegans Wake” no nordeste , quase fui apedrejado … diziam que não tinha nada a ver a leitura de tal obra com o ambiente tropical … Ledo engano … James Joyce , ficou famoso , entre outras coisas , pelo uso de palavras compostas …É claro que ele não foi o único : o alemão Arno Holtz , o americano Lewis Caroll e os brazucas Filinto Elísio , Odorico Mendes e Joaquim de Sousândrade , já empregavam semelhante artifício , bem antes do escritor irlandês … e vários outros continuaram a usar tais palavras depois de Joyce ( de Guimarães Rosa a Arnaldo Xavier , passando pelos concretos )…

Pois é , aqui a maioria dos nomes proprios são compostos … Uma tarefa maluca seria reunir uma exagese destes nomes em um livro …

Um exemplo , é um nome que ouvi : Kenislan … segundo a pessoa assim denominada , trata-se de uma homenagem ao politico americano “Kennedy” e ao jogador do selecionado italiano “Lancelotti” , que disputou a copa de 1978 …uma dúvida : Por que é que foram escolher alguém da esquadra azzurra , uma vez que aquele escrete alcançou apenas o quarto lugar ??? Lembrando daquela copa , surge uma hipótese : na primeira fase a Itália derrotara os donos da casa ( a Argentina ) e era a sensação do certame , perdendo depois a vaga na final para a Holanda e posteriormente o terceiro lugar para a seleção de Pindorama … é possivel que ela tenha nascido antes da derrota para os holandeses … será ???

Mistérios do terceiro mundo …

Está difícil postar imagens … Paciência …

Enqüanto leio a tradução de Finnengans Wake ( de James Joyce ) feita por Donaldo Sücher , complemento a leitura com “Panaroma de Finnegans Wake” dos irmãos ( Augusto e Haroldo de Campos ). Desta vez eu não errei na digitação , pois é PANAROMA ( palavra extraída do livro supra-citado ) e não “panorama” .

Leia este fragmento :

“what roserude and oragious grows gelb and greem, blue out of the ind of it. Violet´s dyed! (que rugirosa ouranja ou âmbars, é de ver de azul da anihilina. Violeta ex tinta. Notar a sutileza do jogo homonímico da palavra dyed (tingir) e die (morrer) e que a tradução tentou recriar com o trocadilho ex tinta.”

( James Joyce – Tradução: Augusto e Haroldo de Campos )

Aqui em Jericoacoara parece que estou dentro de um quadro do Pancetti …

Citação do dia :

” Minha loucura, outros que me a tomem.

Com o que nela ia.

Sem a loucura que é o homem

Mais que a besta sadia,

Cadáver adiado que procria?”

( Fernando Pessoa )

Caminhado na praia da Fontes ( a leste de Fortaleza ) , ao observar as falésias lembrei-me deste escrito :

” A audácia mais bela é a do fim da vida. Admiro-a em Joyce , como admirei em Mallarmé , em Beethoven e nalguns raríssimos artistas cuja obra terminam em falésias e que apresentam ao futuro a face mais abrupta do gênio.”

( André Gide )

A TAPIOCA TAPUIA

Para um paulistano , uma viagem ao nordeste é ao mesmo tempo um choque e um reencontro com algumas partes de sua cidade natal … da mesma forma que uma visita a Roma é uma redescoberta do Brás e do Bexiga e uma viagem a Tóquio deve ser ( pois nunca fui lá ) uma volta à Liberdade , uma ida às metrópoles nordestinas é um retorno ao Largo de Pinheiros , ao Largo 13 de Maio , etc …

Um aspecto da cultura nordestina que me surpreendeu positivamente foi ouvir mais uma vez a música de Luiz Gonzaga … após escutar axé , música sertaneja e outras coisas , estive em um bar a ouvir o velho Lua e fiquei pensando na riqueza de suas composições …

Tal como blues , o baião é uma música modal , ou seja com poucos acordes , em comparação com a música tonal ( jazz , bossa nova , jovem guarda , samba , etc ) , porém a restrição harmônica , paradoxalmente , permite uma maior liberdade melódica … não liberdade no sentido de usar mais notas ( ao contrário , pois a música modal só utiliza uma única escala ) , mas uma liberdade de combinar notas sem ter que mudar de escala ( pois a melodia não fica mais enjaulada pela harmonia ) …É mais ou menos o mesmo processo que realizo ao escolher poucas cores ( economia cromática ) : É QUANDO O MENOS TORNA-SE MAIS !!!

Este lugar é um centro cultural chamado Dragão do Mar onde a arquitetura neoclássica se integra com um edifício pós-moderno , com um bonito mural em pastilhas cerâmicas feito por Aldemir Martins . Vou ver se encontro por aqui algum painel de outro pintor cearense : Antônio Bandeira …

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