Sobre
Recomendo
TAGUES
amigos aquarelas arquitetura artes plásticas Assis Bares boxe caricaturas cinema Citações coquetéis críticas culinária desenhos desenhos em computador Digigrafia digigrafias família futebol gouaches literatura Livraria Martins mini-contos música Neruda outros escritos paisagens digitais pinturas Pinturas em luz negra poesia pop-art Programação Visual quadrinhos traduções tuda Viagens vinhosARQUIVO
- dezembro 2025
- novembro 2025
- outubro 2025
- setembro 2025
- agosto 2025
- julho 2025
- junho 2025
- maio 2025
- abril 2025
- março 2025
- fevereiro 2025
- janeiro 2025
- dezembro 2024
- novembro 2024
- outubro 2024
- setembro 2024
- agosto 2024
- julho 2024
- junho 2024
- maio 2024
- abril 2024
- março 2024
- fevereiro 2024
- janeiro 2024
- dezembro 2023
- novembro 2023
- outubro 2023
- setembro 2023
- agosto 2023
- julho 2023
- junho 2023
- maio 2023
- abril 2023
- março 2023
- fevereiro 2023
- janeiro 2023
- dezembro 2022
- novembro 2022
- outubro 2022
- setembro 2022
- agosto 2022
- julho 2022
- junho 2022
- maio 2022
- abril 2022
- março 2022
- fevereiro 2022
- janeiro 2022
- dezembro 2021
- novembro 2021
- outubro 2021
- setembro 2021
- agosto 2021
- julho 2021
- junho 2021
- maio 2021
- abril 2021
- março 2021
- fevereiro 2021
- janeiro 2021
- dezembro 2020
- novembro 2020
- outubro 2020
- setembro 2020
- agosto 2020
- julho 2020
- junho 2020
- maio 2020
- abril 2020
- março 2020
- fevereiro 2020
- janeiro 2020
- dezembro 2019
- novembro 2019
- outubro 2019
- setembro 2019
- agosto 2019
- julho 2019
- junho 2019
- maio 2019
- abril 2019
- março 2019
- fevereiro 2019
- janeiro 2019
- dezembro 2018
- novembro 2018
- outubro 2018
- setembro 2018
- agosto 2018
- julho 2018
- junho 2018
- maio 2018
- abril 2018
- março 2018
- fevereiro 2018
- janeiro 2018
- dezembro 2017
- novembro 2017
- outubro 2017
- setembro 2017
- agosto 2017
- julho 2017
- junho 2017
- maio 2017
- abril 2017
- março 2017
- fevereiro 2017
- janeiro 2017
- dezembro 2016
- novembro 2016
- outubro 2016
- setembro 2016
- agosto 2016
- julho 2016
- junho 2016
- maio 2016
- abril 2016
- março 2016
- fevereiro 2016
- janeiro 2016
- dezembro 2015
- novembro 2015
- outubro 2015
- setembro 2015
- agosto 2015
- julho 2015
- junho 2015
- maio 2015
- abril 2015
- março 2015
- fevereiro 2015
- janeiro 2015
- dezembro 2014
- novembro 2014
- outubro 2014
- setembro 2014
- agosto 2014
- julho 2014
- junho 2014
- maio 2014
- abril 2014
- março 2014
- fevereiro 2014
- janeiro 2014
- dezembro 2013
- novembro 2013
- outubro 2013
- setembro 2013
- agosto 2013
- julho 2013
- junho 2013
- maio 2013
- abril 2013
- março 2013
- fevereiro 2013
- janeiro 2013
- dezembro 2012
- novembro 2012
- outubro 2012
- setembro 2012
- agosto 2012
- julho 2012
- junho 2012
- maio 2012
- abril 2012
- março 2012
- fevereiro 2012
- janeiro 2012
- dezembro 2011
- novembro 2011
- outubro 2011
- setembro 2011
- agosto 2011
- julho 2011
- junho 2011
- maio 2011
- abril 2011
- março 2011
- fevereiro 2011
- janeiro 2011
- dezembro 2010
- novembro 2010
- outubro 2010
- setembro 2010
- agosto 2010
- julho 2010
- junho 2010
- maio 2010
- abril 2010
- março 2010
- fevereiro 2010
- janeiro 2010
- dezembro 2009
- novembro 2009
- outubro 2009
- setembro 2009
- agosto 2009
- julho 2009
- junho 2009
- maio 2009
- abril 2009
- março 2009
- fevereiro 2009
- janeiro 2009
- dezembro 2008
- novembro 2008
- outubro 2008
- setembro 2008
- agosto 2008
- julho 2008
- junho 2008
- maio 2008
- abril 2008
- março 2008
- fevereiro 2008
- janeiro 2008
- dezembro 2007
- novembro 2007
- outubro 2007
- setembro 2007
- agosto 2007
- julho 2007
- junho 2007
- maio 2007
- abril 2007
- março 2007
- fevereiro 2007
- janeiro 2007
- dezembro 2006
- novembro 2006
- outubro 2006
- setembro 2006
- agosto 2006
- julho 2006
- junho 2006
- maio 2006
- abril 2006
- março 2006
- fevereiro 2006
- janeiro 2006
- dezembro 2005
- novembro 2005
- outubro 2005
- setembro 2005
- agosto 2005
- julho 2005
- junho 2005
- maio 2005
- abril 2005
- março 2005
- fevereiro 2005
- janeiro 2005
- dezembro 2004
- novembro 2004
- outubro 2004
- setembro 2004
- agosto 2004
- julho 2004
- junho 2004
- maio 2004
- abril 2004
- março 2004
- fevereiro 2004
- janeiro 2004
- dezembro 2003
- novembro 2003
- outubro 2003
- setembro 2003
- agosto 2003
- julho 2003
- junho 2003
- maio 2003
- abril 2003
- março 2003
- fevereiro 2003
- janeiro 2003
- dezembro 2002
- novembro 2002
- outubro 2002
- setembro 2002
- agosto 2002
- julho 2002
- junho 2002
- maio 2002
- abril 2002
- março 2002
- fevereiro 2002
- janeiro 2002
- dezembro 2001
- novembro 2001
- outubro 2001
- setembro 2001
- agosto 2001
- julho 2001
Já saiu a nova TUDA…
Confesso que estava extremamente preguiçoso em meus últimos comentários sobre os lançamentos anteriores… tudo na base do copy&paste… uma vergonha… agora que li “Envie Meu Dicionário” – Editora 34, sobre as cartas que Paulo Leminnski escreveu para Régis Bonvicino, me dou conta da séria de revistas literárias foram publicadas nas décadas de 60 e 70: Invenção, Navilouca, PoesiaemGreve, Qorpo Estranho, Muda, Pólo, Inventiva, Código,etc… é interessante a produção deste movimento, o grande problema é que para as gerações posteriores estas publicações são inacessiveis… alguma alma santa poderia digitalizar estas publicações… Uma das vantagens das revistas eletrônicas é esta… a memória!!!
Leiam a nova TUDA, e reparem na poesia de Arnaldo Xavier, no relato de Roniewalter Jatobá sobre “Os Sertões” (é curioso o fato deste livro ter sido escrito em São José do Rio Pardo…
Há um mini-conto já publicado aqui em 09/08/2007, que fala sobre a mesa composta pelos artistas Fábio Casarini, Flávio Pinto Teixeira de Carvalho, Javé Nardini e Milton Carlos Silvério. O mais curioso é que pensei em botar como epígrafe uma brincadeira que fiz transcrevendo um poema de Leminski… originalmente o poema fala sobre poetas, mas coloquei nomes de pintores para ver no que ia dar:
uma dia
a gente ia ser michelângelo
a obra nada menos que uma sistina
depois
a barra pesando
dava aí pra ser um
um pancetti um nogueira lima qualquer
um aguillar um oiticica um krajcberg
por fim
acabamos o pequeno pintor de província
que sempre fomos
por trás de tantas máscaras
que o tempo tratou como as flores
leiam o poema em sua forma original:
uma dia
a gente ia ser homero
a obra nada menos que uma ilíada
depois
a barra pesando
dava aí pra ser um rimbaud
um ungaretti um fernando pessoa qualquer
um lorca um éluard um gingsberg
por fim
acabamos o pequeno poeta de província
que sempre fomos
por trás de tantas máscaras
que o tempo tratou como as flores
( Paulo Leminski )
Tagged tudaA citação de hoje é uma homenagem que o poeta Alfred de Vigny (1997-1863) fez a um garoto de 14 anos, Henri Mondeux (1826-1862), que ficou famoso na época, pois mesmo analfabeto e cuidando de ovelhas, era capaz de efetuar cálculos complicadíssimos…
LA POÉSIE DES NOMBRES
Les nombres, jeune enfant, dans le ciel t’apparaissent
Comme un mobile chÅ“ur d’esprits harmonieux,
Qui s’unissent dans l’air, se confondent, se pressent
En constellations faites pour tes grands yeux
Nos chiffres sont pour toi de lents degrés informes,
Qui gênent les pieds forts de tes nombres énormes,
Ralentissent leur pas, embarrassent leurs jeux.
Quand ta main les écrit, quand pour nous tu les nommes,
C’est pour te conformer au langage des hommes,
Mais on te voit souffrir de peindre lentement
Ces esprits lumineux en simulacres sombres,
Et par de lourds anneaux d’enchaîner ces beaux nombres
Qu’un seul de tes regards contemple en un moment.
Va, c’est la poésie, encor, qui dans ton âme
Peint l’algèbre infaillible en symboles de flamme,
Et t’emplit tout entier du divin élément:
Car le poète voit sas règle
Le mot secret de tous les sphynx;
Pour le ciel, il a l’Å“il de l’aigle,
Et pour la terre l’Å“il du lynx.
( Alfred de Vigny )
A POESIA DOS NÚMEROS
Os números, criança, no céu te aparecem,
Móvel coro de espíritos harmoniosos
Que se unem no ar, se confundem, se parecem,
Constelações perfeitas pra teus grandes olhos.
Para ti, as cifras são lentos degraus informes,
Embaraçam os pés de teus números enormes,
Vão retardar teus passos, estragar seus gozos;
Se tua mão os escreve ou desenha seus nomes,
É pra te conformar à linguagem dos homens;
Mas te vejo penar ao pintá-los bem lento,
Espíritos de luz em imagens de sombra,
E ao encadear estes números de arromba
Que um só dos teus olhares vê num só momento.
Vai, é poesia ainda que, em tua alma,
Exata pinta a álgebra em frases de chama
E a preenche toda com o divino elemento:
Pois o poeta vê sem regra
O verbo oculto das esfinges;
Para o céu tem olho de águia
E para a terra olho de linces.
( Tradução Paulo Leminski )
Tagged CitaçõesLE VOYAGE
À Maxime du Camp
I
Pour l’enfant, amoureux de cartes et d’estampes,
L’univers est égal à son vaste appétit.
Ah! que le monde est grand à la clarté des lampes!
Aux yeux du souvenir que le monde est petit!
Un matin nous partons, le cerveau plein de flamme,
Le coeur gros de rancune et de désirs amers,
Et nous allons, suivant le rythme de la lame,
Berçant notre infini sur le fini des mers:
Les uns, joyeux de fuir une patrie infâme;
D’autres, l’horreur de leurs berceaux, et quelques-uns,
Astrologues noyés dans les yeux d’une femme,
La Circé tyrannique aux dangereux parfums.
Pour n’être pas changés en bêtes, ils s’enivrent
D’espace et de lumière et de cieux embrasés;
La glace qui les mord, les soleils qui les cuivrent,
Effacent lentement la marque des baisers.
Mais les vrais voyageurs sont ceux-là seuls qui partent
Pour partir; coeurs légers, semblables aux ballons,
De leur fatalité jamais ils ne s’écartent,
Et, sans savoir pourquoi, disent toujours: Allons!
Ceux-là dont les désirs ont la forme des nues,
Et qui rêvent, ainsi qu’un conscrit le canon,
De vastes voluptés, changeantes, inconnues,
Et dont l’esprit humain n’a jamais su le nom!
II
Nous imitons, horreur! la toupie et la boule
Dans leur valse et leurs bonds; même dans nos sommeils
La Curiosité nous tourmente et nous roule
Comme un Ange cruel qui fouette des soleils.
Singulière fortune où le but se déplace,
Et, n’étant nulle part, peut être n’importe où!
Où l’Homme, dont jamais l’espérance n’est lasse,
Pour trouver le repos court toujours comme un fou!
Notre âme est un trois-mâts cherchant son Icarie;
Une voix retentit sur le pont: «Ouvre l’oeil!»
Une voix de la hune, ardente et folle, crie:
«Amour… gloire… bonheur!» Enfer! c’est un écueil!
Chaque îlot signalé par l’homme de vigie
Est un Eldorado promis par le Destin;
L’Imagination qui dresse son orgie
Ne trouve qu’un récif aux clartés du matin.
Ô le pauvre amoureux des pays chimériques!
Faut-il le mettre aux fers, le jeter à la mer,
Ce matelot ivrogne, inventeur d’Amériques
Dont le mirage rend le gouffre plus amer?
Tel le vieux vagabond, piétinant dans la boue,
Rêve, le nez en l’air, de brillants paradis;
Son oeil ensorcelé découvre une Capoue
Partout où la chandelle illumine un taudis.
III
Etonnants voyageurs! quelles nobles histoires
Nous lisons dans vos yeux profonds comme les mers!
Montrez-nous les écrins de vos riches mémoires,
Ces bijoux merveilleux, faits d’astres et d’éthers.
Nous voulons voyager sans vapeur et sans voile!
Faites, pour égayer l’ennui de nos prisons,
Passer sur nos esprits, tendus comme une toile,
Vos souvenirs avec leurs cadres d’horizons.
Dites, qu’avez-vous vu?
IV
«Nous avons vu des astres
Et des flots, nous avons vu des sables aussi;
Et, malgré bien des chocs et d’imprévus désastres,
Nous nous sommes souvent ennuyés, comme ici.
La gloire du soleil sur la mer violette,
La gloire des cités dans le soleil couchant,
Allumaient dans nos coeurs une ardeur inquiète
De plonger dans un ciel au reflet alléchant.
Les plus riches cités, les plus grands paysages,
Jamais ne contenaient l’attrait mystérieux
De ceux que le hasard fait avec les nuages.
Et toujours le désir nous rendait soucieux!
— La jouissance ajoute au désir de la force.
Désir, vieil arbre à qui le plaisir sert d’engrais,
Cependant que grossit et durcit ton écorce,
Tes branches veulent voir le soleil de plus près!
Grandiras-tu toujours, grand arbre plus vivace
Que le cyprès? — Pourtant nous avons, avec soin,
Cueilli quelques croquis pour votre album vorace
Frères qui trouvez beau tout ce qui vient de loin!
Nous avons salué des idoles à trompe;
Des trônes constellés de joyaux lumineux;
Des palais ouvragés dont la féerique pompe
Serait pour vos banquiers un rêve ruineux;
Des costumes qui sont pour les yeux une ivresse;
Des femmes dont les dents et les ongles sont teints,
Et des jongleurs savants que le serpent caresse.»
V
Et puis, et puis encore?
VI
«Ô cerveaux enfantins!
Pour ne pas oublier la chose capitale,
Nous avons vu partout, et sans l’avoir cherché,
Du haut jusques en bas de l’échelle fatale,
Le spectacle ennuyeux de l’immortel péché:
La femme, esclave vile, orgueilleuse et stupide,
Sans rire s’adorant et s’aimant sans dégoût;
L’homme, tyran goulu, paillard, dur et cupide,
Esclave de l’esclave et ruisseau dans l’égout;
Le bourreau qui jouit, le martyr qui sanglote;
La fête qu’assaisonne et parfume le sang;
Le poison du pouvoir énervant le despote,
Et le peuple amoureux du fouet abrutissant;
Plusieurs religions semblables à la nôtre,
Toutes escaladant le ciel; la Sainteté,
Comme en un lit de plume un délicat se vautre,
Dans les clous et le crin cherchant la volupté;
L’Humanité bavarde, ivre de son génie,
Et, folle maintenant comme elle était jadis,
Criant à Dieu, dans sa furibonde agonie:
»Ô mon semblable, mon maître, je te maudis!«
Et les moins sots, hardis amants de la Démence,
Fuyant le grand troupeau parqué par le Destin,
Et se réfugiant dans l’opium immense!
— Tel est du globe entier l’éternel bulletin.»
VII
Amer savoir, celui qu’on tire du voyage!
Le monde, monotone et petit, aujourd’hui,
Hier, demain, toujours, nous fait voir notre image:
Une oasis d’horreur dans un désert d’ennui!
Faut-il partir? rester? Si tu peux rester, reste;
Pars, s’il le faut. L’un court, et l’autre se tapit
Pour tromper l’ennemi vigilant et funeste,
Le Temps! Il est, hélas! des coureurs sans répit,
Comme le Juif errant et comme les apôtres,
À qui rien ne suffit, ni wagon ni vaisseau,
Pour fuir ce rétiaire infâme; il en est d’autres
Qui savent le tuer sans quitter leur berceau.
Lorsque enfin il mettra le pied sur notre échine,
Nous pourrons espérer et crier: En avant!
De même qu’autrefois nous partions pour la Chine,
Les yeux fixés au large et les cheveux au vent,
Nous nous embarquerons sur la mer des Ténèbres
Avec le coeur joyeux d’un jeune passager.
Entendez-vous ces voix charmantes et funèbres,
Qui chantent: «Par ici vous qui voulez manger
Le Lotus parfumé! c’est ici qu’on vendange
Les fruits miraculeux dont votre coeur a faim;
Venez vous enivrer de la douceur étrange
De cette après-midi qui n’a jamais de fin!»
À l’accent familier nous devinons le spectre;
Nos Pylades là-bas tendent leurs bras vers nous.
«Pour rafraîchir ton coeur nage vers ton Electre!»
Dit celle dont jadis nous baisions les genoux.
VIII
Ô Mort, vieux capitaine, il est temps! levons l’ancre!
Ce pays nous ennuie, ô Mort! Appareillons!
Si le ciel et la mer sont noirs comme de l’encre,
Nos coeurs que tu connais sont remplis de rayons!
Verse-nous ton poison pour qu’il nous réconforte!
Nous voulons, tant ce feu nous brûle le cerveau,
Plonger au fond du gouffre, Enfer ou Ciel, qu’importe?
Au fond de l’Inconnu pour trouver du nouveau!
( Charles Baudelaire )
A VIAGEM
A Máxime du camp
I
A quanta criança os mapas e as figuras ama,
O mundo é igual ao seu apetite profundo.
Deus meu, que é grande o mundo à vela em áurea chama!
Aos olhos da saudade, ah que é pequeno o mundo!
Partimos de manhã, fronte que o sonho alaga,
Ávido o coração de desejos e mágoas,
Íamos a seguir, pelo ritmo da vaga,
Ninar nosso infinito ao finito das águas:
Uns, beatos de fugir de uma pátria qualquer;
Outros, do horror de seus berços de azedume,
E astrólogos a arder no olhar de uma mulher
De tirânica Circe, e de amargo perfume.
Por não mudar em feras, trazem a alma cheia
De espaço e de esplendor e de céu com lampejos;
Esta neve que os morde, este sol que os cobreia
Apagam lentamente as impressões dos beijos.
Mas por certo só são na verdade viajantes
Os que só partem por partir como um balão,
Ligeiros corações na Fortuna confiantes,
E sem saber por que, dizem vamos e vão!
Os seus desejos são como nuvens informes,
E sonham como sonha o canhão o conscrito
Ignotas lassidões e volúpias enormes,
Cujos nomes jamais ao mundo há de ser dito.
II
Somos valsa de pião, somos salto de bola;
Ao homem em vigília ou quando o sono nasce
Sempre a curiosidade arrasta e desconsola,
Como um anjo cruel que as estrelas lanhasse.
Fortuna singular de fim sempre em mudança,
E estando sempre ausente, está em todo lugar!
Em que o homem que jamais nela perde a esperança
Só vive a perseguir e quase a delirar.
A nossa lama é trirreme a procurar Içaria;
Sobre a ponte uma voz percute: “abre o olho!”
E, da gávea, outras voz grita, ardorosa e vária:
“Amor!, Glória! Ventura!” Inferno! Era um escolho!
Cada ilhota que vê o homem pela vigia
É Eldorado a surgir feito promessa vã!
Mas a imaginação que se perde na orgia
Só descobre um recife ao nascer da manhã.
Ó pobre sonhador de religiões tão quiméricas!
É preciso prender ou deixar solto ao largo,
O marinheiro ebriado, inventor das Américas,
Cuja miragem torna o pego mais amargo?
Os pés postos na lama, o velho vagabundo,
Sonha, o nariz ao ar, paraíso fagueiro;
E vê o seu olhar uma Cápua no mundo
Toda vez que uma vela ilumina um pardieiro.
III
Oh viajantes do espanto! Ah, que nobres histórias
Lemos em vosso olhar de marinhos mistérios!
Os escrínios mostrai, que trazeis nas memórias,
De jóias a irradiar feitas de astros etéreos!
Queremos viajar sem vapor e sem vela!
Fazei para amainar o tédio das prisões
Por nossa alma passar, tesos como uma tela,
Horizontes de amor, vossas recordações.
O que pudestes ver enfim?
IV
“Nós vimos vaga
Como a estrela também; e o árido litoral;
E não obstante tanta amargura pressaga,
Por vezes como aqui vimos tédio fatal.
“Mas o triunfo do sol sobre o mar furta-cor,
A glória da cidade ao sol quase no poente,
Nos nossos corações punham o inquieto ardor
De mergulhar num céu reflexo atraente.
“Panorama não há, sem país opulento
Em que possa caber o misterioso encanto
Do esboço que nas nuvens delineia o vento
E que o desejo faz que amemos tanto, tanto!
“- O desejo da força o prazer sempre atiça.
Desejo, árvore velha e que o prazer vigora
Mas que no entanto cresce, espessando a cortiça,
Teus ramos querem ver de perto o sol da aurora!
Hás de sempre crescer árvore mais vivaz
Que o cipreste? – Mas nós já colhemos também
Umas ilustrações ao vosso álbum voraz,
Irmãos que belo achais o que de longe vem.
Nós pudemos saudar ídolos com a trompa;
Tronos sempre a brilhar de painéis luminosos;
Palácios de pintor que de feérica pompa,
Ao banqueiros serão os sonhos mais ruinosos;
E costumes que são aos olhos uma orgia;
Mulheres a esplender nas unhas e nos dentes,
E prudentes jograis que a áspide acaricia.”
V
E após, e após enfim?
VI
“Cérebros inocentes!
“Para não esquecer a coisa capital,
Vimos por tudo e sem nunca a haver procurado,
Pela imensa extensão da escala mais fatal,
A tediosa visão do perpétuo pecado:
“A mulher, serva hostil, tão orgulhosa e estúpida,
Amando-se sem rir e sem nenhum fastio;
O homem servo da serva, alma lasciva e cúpida,
Que num esgoto desemboca feito um rio;
“O algoz no seu prazer, o mártir no seu dano;
O festim que perfuma o sangue e que Tempra;
O vinho do poder enervando o tirano,
E o povo a delirar ao chicote que o espera;
“Diversas religiões iguais à nossa em suma,
Todas galgando o céu enfim; e a ânsia divina
Como busca um donzel doce leito de pluma,
Procurando a volúpia em pregos ou em crina;
“A humanidade falsa e a quem o gênio ébria,
E como antigamente agora delirante,
Gritando para Deus em furiosa agonia:
– “Eu te maldigo, ó meu Senhor, meu semelhante!”
E os que prudentes são, amantes da demência
Ao fugir do tropel que a sorte uniu enfim,
E procurando no ópio a enorme sonolência!
– Tal é do globo inteiro o eterno boletim.”
VII
Saber amargo o que se pode obter na viagem!
O mundo, hoje pequeno e quase sem remédio,
Hoje, ontem, amanhã, nos faz ver nossa imagem:
Sempre um oásis de horror num deserto de tédio!
É preciso partir? Ficar? Queres ficar, pois fica:
Parte, se for preciso. Um corre, outro se esgueira,
O inimigo a enganar, de vigilância iníqua,
O Tempo! E muitos são estes que sem canseira,
Correm como o Profeta ou o Judeu errante.
Nem neve nem vagão hão de poder bastar
Para fugir do gladiador tão ultrajante.
Há os que o matam enfim sem sair do lugar.
E após o ponta-pé que o Tempo nos destina
“Avante!” poderemos gritar um momento,
Da maneira que outrora íamos para a China,
Olhos fixos ao largo e cabelos ao vento,
Iremos embarcar sobre os mares sombrios
Tal jovem passageiro e cheio de prazer.
Não ouvis esta voz, de funéreo amavio,
Que canta: “Por aqui! Vós que quereis comer
“Ó Lótus perfumado. É só aqui que se apanha
O fruto de ilusão que vos enche de fome;
Viestes vos embriagar desta doçura estranha
Que há neste entardecer que o Tempo não consome?”
A essa voz familiar revela-se a visão;
Os Pílades além mostram braços vermelhos.
“Para Electra navega o pobre coração!”
Disse aquela a que já beijamos os joelhos.
VIII
Ó Morte, ó capitão! Deixemos este cais!
Este país é o tédio! Ah, soltemos a vela!
Se o firmamento e o mar são negrumes fatais
O nosso coração, se clarões se constela!
Verte-nos teu veneno, ele é que nos conforta!
Tanto o cérebro nosso é de fogo incendido,
No abismo mergulhar, Inferno ou Céu, que importa?
Para o novo encontrar no mais desconhecido!
( Tradução: Jamil Almansur Haddad )
BRISE MARINE
La chair est triste, hélas! et j´ai lu tous les livres.
Fuir! là-bas fuir !
Je sens que des oiseaux sont livres
D´être parmi l´écume inconnue et les cieux!
Rien, ni les vieux jardins reflétés par les yeux
Ne retriendra ce coeur qui dans la mer se trempe
O nuits ! ni la clarté déserte de ma lampe
Sur le vide papier que la blancheur défend
Et ni la jeune femme allaitant son enfant.
Je partirai ! Steamer balançant ta mâture,
Lève l´ancre pour une exotique nature!
Un Ennui, désolé par les cruels espoirs,
Croit encore à l´adieu suprême des mouchoirs!
Et, peut-être, les mâts, invitant les orages
Sont-ils de ceux qu´un vent penche sur les naufrages
Perdus, sans mâts, sans mâts, ni fertiles îlots…
Mais, ô mon coeur, entends le chant des matelots!
( Stéphane Mallarmé )
BRISA MARINHA
Tradução: Augusto de Campos
A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.
Fugir! Fugir!
Sinto que os pássaros são livres,
Ébrios de se entregar à espuma e aos céus imensos.
Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,
Impede o coração de submergir no mar
Ó noites! nem a luz deserta a iluminar
Este papel vazio com seu branco anseio,
Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio.
Eu partirei!
Vapor a balouçar nas vagas,
Ergue a âncora em prol das mais estranhas plagas!
Um Tédio, desolado por cruéis silêncios,
Ainda crê no derradeiro adeus dos lenços!
E é possível que os mastros, entre ondas más,
Rompam-se ao vento sobre os náufragos, sem mastros, sem mastros, nem ilhas férteis a vogar…
Mas, ó meu peito, ouve a canção que vem do mar!
( Tradução: Augusto de Campos )
Coloquei este dois poemas famosos por um motivo muito simples. Li um ensaio do Roberto Bolaño ( LITERATURA + ENFERMEDAD= ENFERMEDAD – do livro “El gaucho insufrible” Editora Anagrama ), que discorre sobre a relação entre estes dois poemas… percebemos que “Brisa Marinha” é uma espécie de resposta a “A Viagem”…
Reparem que no poema de Baudelaire a viagem começa bem, mas depois os viajantes estão desiludidos:
“Saber amargo o que se pode obter na viagem!
O mundo, hoje pequeno e quase sem remédio,
Hoje, ontem, amanhã, nos faz ver nossa imagem:
Sempre um oásis de horror num deserto de tédio”!
Nesta última imagem, Bolanõs vê um dos diagnósticos mais lúcidos da enfermidade do homem moderno: o oásis de horror no deserto de tédio: para sair do marasmo só o horror, ou seja só o mal.
Mas no final, resta uma opção ao horror e ao tédio: a procura do novo !!!
“No abismo mergulhar, Inferno ou Céu, que importa?
Para o novo encontrar no mais desconhecido!”
Já o outro poema, de Mallarmé, começa assim:
“A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.”
O poeta quer dizer que os prazeres da carne são efêmeros e que ao ler um livro ele já pode ter lido todos, afinal todos os livros são o mesmo livro…
Porém Mallarmé diz que o que resta é a viagem, mas porque é que propõe a viagem sabendo que ela já está condenada??? ( pelo poema de Baudelaire, inclusive ) : Mallarmé quer voltar ao começo e recomeçar…em um processo cíclico-viconiano…
Fiquem com um fragmento do ensaio do genial chileno-mexicanizado:
“Mas enquanto buscamos o antídoto ou o remédio, o novo, aquilo que só podemos encontrar no desconhecido, temos que seguir transitando pelo sexo, pelos livros e pelas viagens, ainda que sabendo que nos levam ao abismo, que é, casualmente, o único lugar onde poderemos encontrar o antídoto.”
( Boberto Bolaño – tradução José Geraldo de Barros Martins )
Tagged Citações, literatura
NA MINHA LIBRA, OS ESCORPIÕES PESAM-ME A SINA (*)
(*) Citação de Mário Faustino, que também nasceu em 22 de Outubro…
Tagged digigrafias





