ACONTECEU NO SUPER-MERCADO
Aquele carrinho de supermercado repleto de mercadorias era , definitivamente , a gota d’água … Charles de Larbeau , não suportava mais sua mulher Jeanne … bastava ela começar a falar demais que ele imediatamente começava a tamborilar sobre o encosto da cadeira , sinal para que ela calasse a boca … se ela demorava na banca de jornal folheando revistas de jardinagem , bastava um estalo de dedos dele para que ela baixasse a cabeça e colocasse a publicação no lugar … enfim , todo este comportamento de Charles não era gratuito : há vinte anos atrás ela perdera a única filha do casal nas ruas de Paris … entrou em uma boutique no Faubourg Saint-Honoré e esqueceu a criança do lado de fora … quando saiu com as compras , nada da filhinha … A partir daí o nosso protagonista passou a desdenhar de sua cara metade … mas , o que mais o irritava era fazer o supermercado com ela … criticava o seu consumismo …
Naquela tarde ficara no estacionamento ouvindo a “Sinfonia Inacabada” de Schubert , dentro do carrão importado e ao entrar no supermercado viu o tal carrinho …
– Quanta porcaria !!! O que é isto ??? O que é esta laranjona ???
– É pomelo , a fruta de que é feito aquele suco que você tanto gostou no café da manhã do nosso hotel em Bariloche , lembra ???
Ele não disse nada …ficou por um momento olhando para o teto , observando as luminárias fluorescentes corretamente dispostas … depois num gesto de fúria , lançou o pomelo pelos ares e acertou um chute conhecido no meio futebolístico por “sem-pulo” …
O fruto acertou o rosto de uma linda garota ( que usava um vestido lilás com detalhes em verde-turquesa ) , ela para não cair no chão apoiou-se em uma prateleira derrubando as mercadorias pelo chão … O alvoroço fez com que os seguranças chegassem ao local e imobilizassem Charles com golpes de jiu-jitsu …
A garota do vestido lilás vendo seu agressor naquele estado , percebeu que em seu dedo mindinho havia um anel com uma esmeralda em forma de escaravelho , e então gritou :
– Soltem este homem !!! Ele é meu pai !!!
– Charlote , é você ??? Disse Jeanne …
– Sim mamãe , sou eu !!! Nossa , como vocês estão diferentes … só reconheci papai por causa do anel …
Charles , depois de se refazer do entrevero , olhou para Jeanne e citando seu xará Baudelaire disse :
– Ah ! meu caro anjo ! Quanto lhe sou grato pela minha habilidade !
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