
Este é o convite da maior mostra que fiz : cerca de cinquenta obras minhas ficaram expostas no Centro Cultural São Paulo ( vergueiro ) entre 14 a 25 de Janeiro de 1988 … quem viu , viu …
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Este é o convite da maior mostra que fiz : cerca de cinquenta obras minhas ficaram expostas no Centro Cultural São Paulo ( vergueiro ) entre 14 a 25 de Janeiro de 1988 … quem viu , viu …
Tagged desenhosCitação do dia :
SEI DOS CAMINHOS
Sei dos caminhos que chegam
Sei dos que se afastam
Conheço como começa
Como termina o que faço
Só não cheguei como chegar
Ao nosso próximo passo
Ontem meu bem
Contei até cem
Hoje já não sei
Hoje já não sei
Ontem meu bem
Contei até três
Hoje eu só pensei
Hoje eu só pensei
Sei que me encontro sozinho
Sei também quando me acho
Sei tudo o que você acha
O buraco é mais embaixo
Foi um achado te achar
Perdido acho diacho
Meu bem porque não vens que tem
Ontem eu pensei
Ontem eu pensei
( Alice Ruiz e Itamar Assumpção )
POEMA DE LOS DONES
Nadie rebaje a lágrima o reproche
esta declaración de la maestría
de Dios, que con magnífica ironía
me dio a la vez los libros y la noche.
De esta ciudad de libros hizo dueños
a unos ojos sin luz, que sólo pueden
leer en las bibliotecas de los sueños
los insensatos párrafos que ceden
las albas a su afán. En vano el día
les prodiga sus libros infinitos,
arduos como los arduos manuscritos
que perecieron en Alejandría.
De hambre y de sed (narra una historia griega)
muere un rey entre fuentes y jardines;
yo fatigo sin rumbo los confines
de esta alta y honda biblioteca ciega.
Enciclopedias, atlas, el Oriente
y el Occidente, siglos, dinastías,
símbolos, cosmos y cosmogonías
brindan los muros, pero inútilmente.
Lento en mi sombra, la penumbra hueca
exploro con el báculo indeciso,
yo, que me figuraba el Paraíso
bajo la especie de una biblioteca.
Algo, que ciertamente no se nombra
con la palabra azar, rige estas cosas;
otro ya recibió en otras borrosas
tardes los muchos libros y la sombra.
Al errar por las lentas galerías
suelo sentir con vago horror sagrado
que soy el otro, el muerto, que habrá dado
los mismos pasos en los mismos días.
¿Cuál de los dos escribe este poema
de un yo plural y de una sola sombra?
¿Qué importa la palabra que me nombra
si es indiviso y uno el anatema?
Groussac o Borges, miro este querido
mundo que se deforma y que se apaga
en una pálida ceniza vaga
que se parece al sueño y al olvido.(*)
(*)POEMA DOS DONS
Ninguém rebaixe a lágrima ou rejeite
Esta declaração da maestria.
De Deus, que com magnífica ironia
Deu-me a um só tempo os livros e a noite.
Da cidade de livros tornou donos
Estes olhos sem luz, que só concedem
Em ler entre as bibliotecas dos sonhos
Insensatos parágrafos que cedem
As alvas a seu afã. Em vão o dia
Prodiga-lhes seus livros infinitos,
Árduos como os árduos manuscritos
Que pereceram em Alexandria.
De fome e de sede (narra uma história grega)
Morre um rei entre fontes e jardins;
Eu fatigo sem rumo os confins
Dessa alta e funda biblioteca cega.
Enciclopédias, atlas, o Oriente
E o Ocidente, centúrias dinastias,
Símbolos, cosmos e cosmogonias
Brindam as paredes, mas inutilmente.
Em minha sombra, o oco breu com desvelo
Investigo, o báculo indeciso,
Eu, que me figurava o paraíso
Tendo uma biblioteca por modelo.
Algo, que por certo não se vislumbra
No termo acaso, rege estas coisas;
Outro já recebeu em outras nebulosas
Tardes os muitos livros e a penumbra.
Ao errar pelas lentas galerias
Sinto às vezes com vago horror sagrado
Que sou o outro, o morto, habituado
Aos mesmos passos e aos mesmos dias.
Qual de nós dois escreve este poema
De uma só sombra e de um plural?
O nome que assina é essencial,
Se é indiviso e uno este anátema?
Groussac ou Borges, olho este querido
Mundo que se deforma e que se apaga
Numa empalidecida cinza vaga
Que se parece ao sonho e ao olvido.
( Jorge Luis Borges – tradução : Josely Vianna Baptista )

ACONTECEU NO SUPER-MERCADO
Aquele carrinho de supermercado repleto de mercadorias era , definitivamente , a gota d’água … Charles de Larbeau , não suportava mais sua mulher Jeanne … bastava ela começar a falar demais que ele imediatamente começava a tamborilar sobre o encosto da cadeira , sinal para que ela calasse a boca … se ela demorava na banca de jornal folheando revistas de jardinagem , bastava um estalo de dedos dele para que ela baixasse a cabeça e colocasse a publicação no lugar … enfim , todo este comportamento de Charles não era gratuito : há vinte anos atrás ela perdera a única filha do casal nas ruas de Paris … entrou em uma boutique no Faubourg Saint-Honoré e esqueceu a criança do lado de fora … quando saiu com as compras , nada da filhinha … A partir daí o nosso protagonista passou a desdenhar de sua cara metade … mas , o que mais o irritava era fazer o supermercado com ela … criticava o seu consumismo …
Naquela tarde ficara no estacionamento ouvindo a “Sinfonia Inacabada” de Schubert , dentro do carrão importado e ao entrar no supermercado viu o tal carrinho …
– Quanta porcaria !!! O que é isto ??? O que é esta laranjona ???
– É pomelo , a fruta de que é feito aquele suco que você tanto gostou no café da manhã do nosso hotel em Bariloche , lembra ???
Ele não disse nada …ficou por um momento olhando para o teto , observando as luminárias fluorescentes corretamente dispostas … depois num gesto de fúria , lançou o pomelo pelos ares e acertou um chute conhecido no meio futebolístico por “sem-pulo” …
O fruto acertou o rosto de uma linda garota ( que usava um vestido lilás com detalhes em verde-turquesa ) , ela para não cair no chão apoiou-se em uma prateleira derrubando as mercadorias pelo chão … O alvoroço fez com que os seguranças chegassem ao local e imobilizassem Charles com golpes de jiu-jitsu …
A garota do vestido lilás vendo seu agressor naquele estado , percebeu que em seu dedo mindinho havia um anel com uma esmeralda em forma de escaravelho , e então gritou :
– Soltem este homem !!! Ele é meu pai !!!
– Charlote , é você ??? Disse Jeanne …
– Sim mamãe , sou eu !!! Nossa , como vocês estão diferentes … só reconheci papai por causa do anel …
Charles , depois de se refazer do entrevero , olhou para Jeanne e citando seu xará Baudelaire disse :
– Ah ! meu caro anjo ! Quanto lhe sou grato pela minha habilidade !
Enqüanto choramingamos em meio a uma série de interpéries tropicais , a escritora Suzana Cano manda de Ibiza , poemas como este :
Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar,
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en el mar. (*)
(*) Caminhante, são tuas pegadas
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz do caminho o andar,
Ao andar se faz o caminho,
e a voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
senão as estrelas do mar.
( Antonio Machado – Tradução – José Geraldo de Barros Martins )
Citação do dia :
“O bem aventurado senhor disse : Existe uma figueira-de bengala que tem suas raízes para cima e seus galhos para baixo e cujas folhas são os hinos védicos . A pessoa que conhece esta árvore é o conhecedor dos Vedas.”
( Bhagavad-gitã , texto 1 , capitulo 15 )
É curioso como esta imagem de uma árvore com raízes nos céus e folhas na terra , reaparece na “árvore dos sephiroths” dos cabalistas … caminhos diferentes levando as mesmas idéias …
Uma das primeiras citações deste blog foi do poeta , romancista , dramaturgo e pintor José de Almada Negreiros , depois vieram outras , mas só agora comento sobre a suas pinturas … o motivo disto é que quando estive em Lisboa não consegui ver a sua obra mais famosa : O Retrato de Fernando Pessoa … finalmente consegui : está exposto no MAM na mostra “Cinco Pintores da Modernidade Portuguesa” … é surpreendente : dentre os retratos de pessoas famosas , somente o de Nietzsche feito por Edward Munch me causou impacto semelhante … há também o esboço do painel “Começar” , o quadro “Maternidade” e diversos auto-retratos …
Além de Almada , estão expostas obras de Maria Helena Vieira da Silva , Amadeo de Souza-Cardoso , Joaquim Rodrigo e Paula Rego . Na verdade , achei que seria o acervo da Fundação Calouste Gulbelkian , mas me enganei … muitas peças são de acervos particulares : ou seja quadros que dificilmente veremos de novo … por isto não percam !!!