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{ Monthly Archives } agosto 2003

DUAS CANÇÕES DE DOMINGO

DOMINGOU

Da janela a cidade se ilumina 

Como nunca jamais se iluminou 

São três horas da tarde, é domingo 

Na cidade, no Cristo Redentor – ê, ê 

É domingo no trolley que passa – ê, ê 

É domingo na moça e na praça – ê, ê 

É domingo, ê, ê, domingou, meu amor

Hoje é dia de feira, é domingo 

Quanto custa hoje em dia o feijão 

São três horas da tarde, é domingo 

Em Ipanema e no meu coração – ê, ê 

É domingo no Vietnã – ê, ê 

Na Austrália, em Itapoã – ê, ê 

É domingo, ê, ê, domingou, meu amor

Quem tiver coração mais aflito 

Quem quiser encontrar seu amor 

Dê uma volta na praça do Lido 

O-skindô, o-skindô, o-skindô-lelê

Quem quiser procurar residência 

Quem está noivo e já pensa em casar 

Pode olhar o jornal, paciência 

Tra-lá-lá, tra-lá-lá, ê, ê

O jornal de manhã chega cedo 

Mas não traz o que eu quero saber 

As notícias que leio conheço 

Já sabia antes mesmo de ler – ê, ê 

Qual o filme que você quer ver – ê, ê 

Que saudade, preciso esquecer – ê, ê 

É domingo, ê, ê, domingou, meu amor

Olha a rua, meu bem, meu benzinho 

Tanta gente que vai e que vem 

São três horas da tarde, é domingo 

Vamos dar um passeio também – ê, ê 

O bondinho viaja tão lento – ê, ê 

Olha o tempo passando, olha o tempo – ê, ê 

É domingo, outra vez domingou, meu amor

( Gilberto Gil e Torquato Neto )

PORQUE HOJE É DOMINGO

Ei você do jeito triste

faz de conta que mudou

A alegria ainda existe

porque hoje é domingo e já raiou

Ei voce do terno escuro

quanto tempo trabalhou

pense menos no futuro

porque hoje é domingo e já raiou

E a moça arranjou um namorado

e a roça se abriu sorriu pro ar

e a banda tocou mais um dobrado

e é tanto biquini a beira mar

E o homem flutua pelo espaço

e a escola de samba desfilou

Chorou no riso do palhaço

porque hoje é domingo e já raiou

E meu povo o tempo avança

e a semana terminou

Riso solto e pé na dança

porque hoje é domingo e já raiou !

( Antônio Adolfo e Tibério Gaspar )

A DAMA MISTERIOSA DE ALGUM BAIRRO DA ZONA SUL

JOSÉ GERALDO EM RITMO DE AVENTURA

No final de semana passado , visitei duas exposições e fui em duas festas realizadas em residências de pintores . Bom , vamos por partes … Para começar visitei “O Retorno dos Gigantes” no MAM ( Parque do Ibirapuera ) … quase que não fui nesta mostra … é que eu não simapatizo com a vertente neo-expressionista …mas dentre engôdos & enganações ( em menor número do que esperava ) surgem pintores como Antonius Höckelmann , cujo traço em carvão expressivamente conciso , me remete às criações de Flávio P. T. Carvalho ( não confundir com o famoso Flávio de Carvalho ) ; Helmut Middendorf com “Eletric Night” ( dispersão sobre tela ) em que o pintor compensa a imperfeição da forma com uma escolha de cores brilhante ( procedimento também utilizado em “Postdamer Strasse”de Karl Horst Hödicke ) … é como um cantor que mesmo não tendo uma voz potente , escolhe um repertório decente … Gostei também da pintura de Rainer Fetting “Van Gogh o Retorno dos Gigantes” em que a expressão acentuadamente e expressivamente maligna dos rostos me lembrou a fase antiga de um certo pintor denominado Fábio Casarini … Destaque também para as aquarelas de Walter Dahn ( desenhos dourados ) . Saindo do MAM , dirigi-me à OCA para apreciar a exposicão “Art Revolution : A Bigger Splash” …

Com exeção a Turner e William Blake ( o último aliás , é o único integrante da História da Arte e também da História da Literatura ) , a ilha não possui pintores geniais tal qual o país da paella , a pátria do cassoulet ou a nação da lasanha … mesmo se analisarmos somente no âmbito da arte moderna , aquele pedaço de terra cercado por um mar de gin , não produziu um movimento como o construtivismo russo , o expressionismo abstrato norte-americano , o surrealismo ou o dadaísmo europeu … produziu pop-art , mas este não é um movimento tipicamente inglês , os yankees fizeram um pop-art mais consistente e mesmo o pop-art do país da feijoada é melhor … as obras de Gerchman , Tozzi e a fase de quadros de futebol de Maurício Nogueira Lima (*) , são um exemplo …

Porém tem muita coisa boa e não é a toa que Londres foi a metrópole cultural no final dos anos sessenta , basta recordar que Jimi Hendrix só fez sucesso quando saiu da nação da bandeira com listras e estrelas ( ou do estandarte estrelistrado ) …

Um fato paradoxal é que , embora não aprecie a arte conceitual , a obra que mais me encantou na oca foi “The Great Bear” ( A Ursa Maior ) de Simon Patterson : uma mapa do metrô de Londres em que os nomes das linhas foram substituídas por grupos de pessoas que desempenharam funções semelhantes , enquanto que , o nomes das estações foram substituídas por nome de pessoas famosas que pertenceram aos retro-mencionados grupos ; assim há : 1- Linha dos engenheiros ( estações : Ford , Robert Stephenson , etc . ) , 2 – Linha dos Luíses ( estações : Luís V , Luís VI , etc. ) , 3 – Linha dos Exploradores ( estações : Cabral , Odisseu ,Vasco da Gama , Captain Cook , Jacques Costeau , etc. ) , 4 – Linha dos Planetas ( estações : Mercúrio , Vênus , Marte , etc. ) , 5 – Linha dos Jornalistas ( estações com pessoas com nomes que não conheço ), 6 – Linha dos Futebolistas ( estações : Pelé , Maradona , Gordon Banks , Paul Gascoigne , etc. ) , 7 – Linha dos Músicos( estações : Vivaldi , Handel , etc. ) , 8 – Linha dos Atores ( estações : Walter Huston , John Huston , Angélica Huston , Jean Harlow, etc. ) , 9 – Linha dos Santos ( estações : São João , São Jorge , etc. ) , 10 – Linha dos Pintores Italianos ( estações : Ticiano , Piero de La Francesca , etc. ) , 11 – Linha dos Políticos Chineses ( estações : Li Xiannian , Mao Tse-Tung , etc. ) e 12 – Linha dos Comediantes ( estações : Jaques Tati , Buster Keaton, etc. ) …

Há também a brincadeira de Damien Hirst que reproduz embalagens de remédio em maior escala , só que com títulos de pratos do cardápio inglês como ; “Cornish Pasty” ou “Corned Beef” , fazendo uma espirituosa relação entre os conceitos de doença e de alimentação … E ainda as fotos de placas evocando heróis esquecidos de Susan Hiller ( pessoas que faleceram salvando criancinhas de um incêndio ou de um afogamento , em mil oitocentos e tanto )

Gostei também daquela litografia entitulada “Swingeing London 67” de Richard Hamilton , que mostra uma leitura pop da manchete de jornal que anuncia a prisão de um Rolling Stone ; da pintura vermelha praticamente monocromática de John Hoyland ; daquela pintura que mostra uma cabeça de touro empalhada em uma sala vazia com uma mesa sobre a qual repousa uma garrafa com um limão no gargalo cujo título é “Hemingway Never Ate Here” e finalmente declaro que até gostei de “A Bigger Splash” de David Hockney , embora confesse que nesta célebre tela , os elementos arquitetônicos me emocinam mais do que os pictóricos …

Não bastasse tudo isto , ainda vi no próprio atelier as mais novas aquarelas de Dudi Maia Rosa ( em uma pizzada no sábado ) e os mais recentes gouaches de Flávio P. T. Carvalho ( novamente não confundir com o famoso Flávio de Carvalho ) em um churrasco no domingo …

Amanhã se inicia mais outro fim-de-semana … e vamo-que-vamo !!!

(*) No acervo da Pinacoteca do Estado ( andar superior ) , há um raro exemplar desta fase , que sempre me fascina …

Hoje conversei no telefone com o amigo e escritor Arnaldo Xavier , que volta a ativa depois de um período de convalescença … que Deus o ilumine ( com luz negra , é claro )

… Aqui vai um pequeno fragmento de um poema seu :

“MAS o Cruzeiro do Sul se ajoelha e bebe cinzas no Rio Prata Quentes ventos azeviches Amargas vontades Tristes trapos de Nietzsche Espelhos laicos espatifados Comidas melancólicas Iconoclasta desempregado de olhos fechados mascare A sua foice vermelho-amarela A sua colher murcha de mármore O seu barco causuístico coberto de moscas e estrelas Quando perfumado o sOl se esfarela Se pela manhã plantava nos ninhos muralhas À tarde tecia o desmanche das muralhas E à noite colhia os tijolos e os logos das muralhas”

( Arnaldo Xavier )

ESCOCESA

O meu primeiro e-mail intenacional , veio da Escócia . Aqui está a minha gratidão ao povo escocês .(*)

(*) “SCOTH WOMAN

The first international e-mail , has come from Scotland . Here is my gratefullness to the scotch people .”

Citação do dia :

“Then Nuvoleta reflected for the last time in her little long life and she made up all her myriads of drifting minds in one. She cancelled all her engauzements. She climbed over the bannistars; she gave a childy cloudy cry: Nuée Nuée! A lightdress fluttered. She was gone. And into the river that had been a stream (for a thousand of tears had gone eon her and come on her and she was stout and struck on dancing and her muddied name was Missisliffi) there fell a tear, a singult tear, the loveliest of all tears (I mean for those crylove fables fans who are ‘keen’ on the prettypretty commonface sort of thing you meet by hopeharrods) for it was a leaptear. But the river tripped on her by and by, lapping as though her heart was brook: Why, why, why! Weh, O weh! I’ se so silly to be flowing but I no canna stay!” (*)

(*) Então Nuvoletta refletiu pela última vez em sua leve e longa vida e minguou todas as miríades de pensamentos num só. Cancèulou todos os compromissos. Subiu pelos baluastros: gritou num núvil nominho ninfantil : Nuée! Nuée! Um tule onduleou. Ela passou. E dentro do rio que fora uma corrente (pois milhares de lágrimas tinham ido por ela e vindo por ela que era dada e doida pela dança e seu apelodo era Missisliffi) cai uma lágrima, minúltima lágrima, a mais leve de todas as lágrimas (falo para os fãs de fábulas de radioamor, lunávidos pelo ar vulgar de estrelas de celenovela) pois esta era a milágrima. Mas o rio escorregou lago por ela, sorvendo-a de um trago, como se mágua fosse água: Ora, ora, ora! Quem quer chora, quem não quer vai-se embora!

( James Joyce – Tradução : Haroldo de Campos )

Este desenho foi feito na década de oitenta , em nanquim e ecoline sobre papel , provavalmente na época em que começei a faze yoga …

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Numa tarde , no calor de uma discussão sobre a rivalidade entre a Poesia Concreta e a Poesia Praxis ( de Mário Chamie ) , alguém desceu a lenha nos irmãos Campos dizendo isso e aquilo … após uns instantes de silêncio , o poeta Arnaldo Xavier retrucou :

– “Acho Augusto e Haroldo de Campos extraordinários … Em um país de analfabetos , duas pessoas com uma produção literária tão vasta , deveriam ser louvadas …”

Não sei se foram estas mesmas palavras , mas a defesa que o escritor de Campina Grande realizou dos irmãos paulicéios não contém nada de inverídico …

Ontem fiquei sabendo que Haroldo de Campos morreu … Estava na esperança que ele traduzisse a “Odisséia” , já que acabara de traduzir a “Ilíada” …

Ainda não li “Galáxias” sua obra mais famosa , embora tenha ouvido alguns trechos declamados no vídeo “Galáxia Albina “de Julio Bressane … Defensor da ( boa ) produção dos artistas de Pindorama , Haroldo ( conjuntamente com seu irmão e o escritor Décio Pignatari ) apoiou os tropicalistas ( Caetano , Gil , Torquato , etc .) , o grupo de rock Titãs , Hélio Oiticica ( criou a expressão “asa-delta para o êxtase , para definir o “Parangolé” ) , o cinema marginal , e diversos outros geniais inventores …

Não bastasse , ainda traduziu James Joyce , Goethe , Erza Pound , Dante , Mallarmé , Maiakovski , poesia chinesa e japonesa , trechos da Biblia entre outros , para os leitores emboabas …

Haroldo instituiu o Bloomsday ( comemoração a 16 de junho de 1904 , dia em que se passa o “Ulisses” de Joyce ) nas datas festivas paulistanas … No importante ano em que fiz a minha viagem à Dublin e que o São Paulo F. C. ganhou seu primeiro mundial inter-clubes , 1992 Haroldo de Campos , ganhou o troféu Jabuti , prêmio este , idealizado pelo poeta Mário da Silva Brito e instituído pelo meu avô , José de Barros Martins , quando foi presidente da Câmara Brasileira do Livro …

Um escritor de tal magnitude merece mais …deveriam construir uma estátua da estatura do “Borba Gato” de Júlio Guerra … uma estátua enorme do Haroldo segurando um livro , um ícone para espantar a burrice , para que as pessoas que passassem de automóvel se sentissem culpadas por não estarem em casa lendo e se instruíndo …

Aqui vai um pequeno trecho de sua transcriação do Gênesis e mais dois poemas :

Esta a gesta do céufogoágua / e da terra

enquanto eram criados///

No dia / de os fazer / Ele-O Nome-Deus /

terra e céufogoágua

( Gênesis – tradução Haroldo de Campos )

***

céu: pistilos

faíscas do sagrado

sob um ponteiro de diamante

escrever no vidro

sentenças de vidro

in

visíveis

( Haroldo de Campos )

Provença : Motz e L. Son

contra uma luz

sem falha

o olho

se esmeralda

o olho

(contra uma luz

sem falha)

se esmigalha

o olho de esmeralda

à luz: migalha

(que esmigalha)

e concrescia a luz

som de cigarra

( Haroldo de Campos )

Para entitular este desenho , irei utilizar a citação publicada no presente blog em 21 de Fevereiro de 2003 .

“Cinzenta, caro amigo, é toda teoria,

Verdejante e dourada é a árvore da vida”

( Johann Wolfgang Goethe – tradução : Alberto Maximiliano )

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Citação do dia :

“Minha cultura geral permitia-me fazer uma idéia aproximada do conceito de um ‘ano-luz’ . (…) Sendo assim , um ano-luz chegaria a cerca de 9,5 trilhões de quilômetros , de modo que a excentricidade de nosso sistema solar perfaria trinta mil vezez mais e o diâmetro total da esfera oca galática mediria mil anos-luz .

Não , ele não era incomensurável , e dessa forma podia ser medido . E no entanto , que se deve dizer de tal incumbência imposta à inteligência humana ? Confesso que por índole aquilo que é irrealizável e superimponente apenas me leva a encolher os ombros em sinal de renúncia , mas também de certo desdém . A admiração da grandeza , o entusiasmo que sentimos em face dela e até o arrebatamento irresistível que ela nos causa criam , sem dúvida alguma , um prazer da alma . Mas somente podem ocorrer sob condições concebíveis , terrenas e humanas . As pirâmides são grandes ; grande também é o monte Branco , e o interior da catedral de São Pedro também o é , a não ser que se prefira reservar esse atributo ao mundo moral e espiritual , à sublimidade do coração e do pensamento . Os dados da criação cósmica não passam de um bombardeio atordoador do nosso intelecto com cifras providas de duas dúzias de zeros enfileirados à maneira de caudas de cometas e que apenas fingem ter ainda algo com medidas e com a razão . Em toda essa monstruosidade , não há nada em que eu e meus semelhantes posamos descobrir bondade , formosura ou grandeza , e nunca compreenderei as hosanas que certas pessoas emitem perante as assim chamadas ‘obras de Deus’, contanto que se trate de Física Universal . Será que se deva qualificar de obra de Deus um fenômeno diante do qual se pode tanto dizer ‘E daí’ como ‘Hosana’ ? .”

( Thomas Mann – tradução : Herbert Caro )