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{ Tag Archives } literatura

Trocadilho do dia:

To the vast go to the game!

( James Joyce )

Em tradução literal seria : “O vasto vai ao jogo!” ou “O imenso vai à brincadeira!” , ou seja uma epifania ( manifestação da Divindade em cenas cotidiana ) … Stephen Dedalus , um personagem de Ulisses ( livro do mesmo autor ) definiu Deus como um grito de crianças jogando futebol …
Tentei escrever sobre o sentido ( ou um dos sentidos da frase ) , mas a que se refere o trocadilho ???
A resposta está nos “comentários” .

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Citação do dia :

DONA ENGRÁCIA E O JAPONÊS

O Lixo não estava corretamente posicionado na calçada, o que causou inúmeros transtornos naquela tarde gris, para desagrado de todos os que por ali passavam. O Visconde a tudo assistia impávido, colosso e silenciosamente, como, de resto, era do seu feitio, esquecido que estava de rios, montanhas, cafezais e fazendas, O trem se perdia no horizonte entre nuvens de fumaça e poeira. Todos entendiam. Estava aberta, desde maio, a temporada de caça à raposa, aquele canídeo tão requisitado nas mais aristocráticas rodas sociais da época. Foguetes espocavam ao longe entre o casario perdido na serrania. Os jornais noticiaram todos os fatos e foi um escândalo como de há muito não se tinha notícia. Ao final, o que se soube foi que o japonês tinha viajado para Arapongas pra comprar um caminhão de cebolas de Guarapuava como acabou, de fato, comprando. Ocorre, porém, que, para desgosto do vendedor, um tal de Dondinho, picareta de marca maior, o japonês pagou com um cheque sem fundos. Foi a partir daí que tudo se complicou. O sogro da moça não gostou e foi falar com o doutor Deocleciano, que na época respondia pelo II/fOplI-2, sub-região 4, o qual ficou de adotar as medidas cabíveis. O medcânico (um médico que entende de mecânica) atestou que o caso era de diferencial empenado o que exigia uma internação em oficina especializada em desempenamento de diferenciais. É claro que o acontecido resultou em sérios atritos entre o Gualberto e o Juvenal, irmãos que de fraternos pouco tinham. A arma do crime nunca foi encontrada embora a autoridade de plantão tenha aberto rigoroso inquérito para apurar tudo, até as últimas conseqüências e duela a quiém duela. Ledo e Ivo engano, Limitaram-se a apagar a luz difusa do abajur lilás e tudo acabou em lasanha de brócolis, como sempre acontece em casos que tais. Entrementes, na primeira semana do mês de maio, o mês das rosas, das noivas, dos namorados, da independência e da santa quaresma com suas auspiciosas reflexões evangélicas a nave espacial partiu rumo ao desconhecido. Levava no seu bojo as esperanças de toda a humanidade ao sul do paralelo 38, do lado esquerdo de quem entra, segunda porta à direita, ao lado do guichê do protocolo. Dona Nédia adiantou que não queria nem saber, mas tudo com muita educação e usando palavras meigamente insinuantes. Em seguida, e como era de se prever, o inevitável aconteceu e o processo acabou sendo enviado para a Corregedoria, ali na Conde de Sarzedas 45l, terceiro andar, sala 8, falar com o senhor Taborda, um cavalheiro nem gordo nem magro, aí pelos 50 anos, portando guarda-chuvas (chovia muito, daí o guarda- chuva estar no plural), de óculos com aro de tartaruga e padecente de azia crônica. Mas boa pessoa. A nave deixou a galáxia, atravessando antes os anéis de Saturno os brincos de Plutão, os colares de Vênus e os braceletes de Marte. Todos muito elegantes e gentis, embora extremamente formais. O Taborda era muito gostado na repartição. Todos diziam que era demais de simples e conversava com todo mundo. Agora, nada de intimidades, tapinhas nas costas, cotoveladas amistosas, cutucões na barriga essas coisas. Isso não !!!!, bradava Taborda entre um e outro gole da branquinha da fazenda do coronel Chicão. Azedo, muito azedo, estava o suco. Também, bradou a Neuminha, o imbecil do Maykhon comprou laranjas verdes !!! A partir daí ninguém mais se entendeu esquecendo completamente o japonês que estava lá fora com o seu caminhão e suas cebolas encharcadas pelas águas de março que cumpriam sua rotina de fechar o verão. Noves fora, nada. É o que você pensa cabra safado. Em minha casa você não entra mais não, e muito menos com esse terno de brim amarelo e esse pandeiro desafinado em ré sustenido menor. Não me ofenda. Dona Engrácia, silenciosa e paciente, continuava repicando os sinos da Catedral de Notre Dame de Paris. Nascida em Muzambinho, nas Minas Gerais, mudou-se para Três Corações e lá viveu até ser transferida, a pedidos, pelo senhor secretário. Uma lástima. A partir daí dona Engrácia nunca chegou a entender bem tudo o que se passava e, pelo-sim-pelo-não, nas horas vagas freqüentava os botecos da rive gauche enquanto rezava o terço e metodicamente sorvia seu absinto de todos os dias. Santa senhora, a dona Engrácia. Sua canonização é tida como certa e nos corredores e ante-salas da Santa Sé não se fala noutra coisa. O decreto papal deve sair no Diário Oficial do Vaticano por estes dias. Louve-se, no entanto, o alto espírito público de sua excelência o senhor Secretário Adjunto Carimbador Interino Adido que, num rasgo de generosidade e descortino de como deve agir a autoridade nos momentos de crise, mandou distribuir um litro da melhor colônia Royal Briar (Um produto Elizabeth Arden – London – Paris and New York) para cada um dos habitantes de Manhuaçu, incluindo as duas zonas, a urbana e a rural. Na verdade, a rural estava inteirona, faltando apenas trocar os pneus e retificar o motor. Mas mesmo assim todos aplaudiram e, imediatamente, passaram a correr listas para levantar fundos e frentes destinados a erguer uma estátua eqüestre em homenagem a sua altíssima excelência. Sem o cavalo, pra ficar mais em conta. E não era pra menos, tal a penúria da pobre e desditosa empresa. Pobrema deles, disse o Barcelos. E assim foi feito, para espanto e alegria de todos os povos e gentes. Falta de juízo. Respeito é bom e eu gosto. É o que você acha e há gosto pra tudo. Óóóóólhaaa. Olha u quê, ô cara, ta me estranhando, é ? Rapadura é doce mas não é mole É a mãe. Deixa disso, guarda essa arma Zé. Num bata nele que eu conheço ele. Esse cabra dizx que é valente purque bate sempre na sua muié. Sua, dele, muié, bem entendido. Não, não, num é isso que eu tava querendo dizê, óxent. A muié qui ele bate é a muié lá dele, taentendendo ? Bom. Também sou assim, esquentado. Ua veis, no forró de Sinhaninha em Caruaru, eu mais cumpadi Mane Bento matemo dois sordado quatro cabo e um sargento. Êita forró ajeitado. E assim, ao som desta característica musical saem do ar as ondas poderosas e sonorosas da sua Rádio Clube de Cambará, porometendo voltar ao ar amanhã no horário matinal com sua porogaramação sertaneja. Encerramos assim mais um dia de tarabalho e dedicação a vocês amigos ouvintes, que são a razão da nossa existência como entretenedores de toda esta vasta e generosa população norte-paranaense. Voltaremos amanhã com a mesma alegria e a mesma disposição se Deus assim o peremitir. E Ele há de querer, porque é amigo e, acima de tudo, é Pai. Boa Noite, Cambará, Boa Noite, Paranazão velho de guerra, Boa Noite, Barasil. Bom Dia Japão. É, porque quando é meia noite aqui é meio dia lá. Tchauzão.

( José Moralez )

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Citação do dia:

What can´t be coded can be decorded if an ear aye sieze what no eye ere grieved for. (*)

(*) O que não pode ser codificado pode ser descordificado se um ouvido-olho capta o que olhouvido algum exfligiu.

( James Joyce – tradução : Donaldo Schüler )

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Neste final de semana, o irmão de minha namorada , me presenteou com um livro de T.S. Eliot … Embora já houvesse citado aqui neste blog ( em novembro de 2004 ) um de seus poemas mais famosos ( “Os Homens Ocos” ) , não conhecia muita coisa da obra deste cidadão norte-americano que se naturalizou cidadão inglês …
Agora que estou tomando mais contato com a “poética da fragmentação” , mando para vocês um dos poemas do livro :

CONVERSATION GALANTE

I observe: “Our sentimental friend the moon!
Or possibly (fantastic, I confess)
It may be Prester John’s balloon
Or an old battered lantern hung aloft
To light poor travellers to their distress.”
She then: “How you digress!”

And I then: “Someone frames upon the keys
That exquisite nocturne, with which we explain
The night and moonshine; music which we seize
To body forth our own vacuity.”
She then: “Does this refer to me?”
“Oh no, it is I who am inane.”

“You, madam, are the eternal humorist,
The eternal enemy of the absolute,
Giving our vagrant moods the slightest twist!
With your air indifferent and imperious
At a stroke our mad poetics to confute -“
And —”Are we then so serious?” (*)

(*) CONVERSA GALANTE

Observo: “Nossa sentimental amiga, a Lua!
Ou talvez (é fantástico, admito)
Seja o balão do Preste João que agora fito
Ou uma velha e baça lanterna supensa no ar
Alumiando pobres viajantes rumo a seu pesar.”
E ela: “Como divagais!”

Eu, então: “Alguém modula no teclado
Este noturno raro, com que explicamos
A noite e o luar; partitura que roubamos
Para dar forma ao nosso nada.”
E ela: “Me dirá isso respeito?”
“Oh não! Eu é que vazios sou feito.”

“Vós, senhora, sois a perene ironia,
A eterna inimiga do absoluto,
A que mais de leve torce nossa tristeza erradia!
Com vosso ar indiferente e resoluto,
De um golpe cortais à nossa louca poética os seus mistérios …”
E ela: “Seremos afinal assim tão sérios?”

( T. S. Eliot – Tradução: Ivan Junqueira )

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Citação do dia :

NENHUMA DOR

Minha namorada tem segredos
Tem nos olhos mil brinquedos
De magoar o meu amor
Minha namorada, muito amada
Não entende quase nada
Nunca vem de madrugada
Procurar por onde estou
É preciso, ó doce namorada
Seguirmos firmes na estrada
Que leva nenhuma dor
Minha doce e triste namorada
Minha amada, idolatrada
Salve, salve o nosso amor

( Caetano Veloso / Torquato Neto )

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Citação do dia:

DATILOGRAFIA

 Traço, sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano, 
 Firmo o projeto, aqui isolado, 
 Remoto até de quem eu sou. 

 Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro, 
 O tique-taque estalado das máquinas de escrever. 
 Que náusea da vida! 
 Que abjeção esta regularidade! 
 Que sono este ser assim! 

 Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavaleiros 
 (Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância), 
 Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho, 
 Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve, 
 Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes. 

 Outrora. 

 Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro, 
 O tique-taque estalado das máquinas de escrever. 

 Temos todos duas vidas: 
 A verdadeira, que é a que sonhamos na infância, 
 E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa; 
 A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros, 
 Que é a prática, a útil, 
 Aquela em que acabam por nos meter num caixão. 

 Na outra não há caixões, nem mortes, 
 Há só ilustrações de infância: 
 Grandes livros coloridos, para ver mas não ler; 
 Grandes páginas de cores para recordar mais tarde. 
 Na outra somos nós, 
 Na outra vivemos; 
 Nesta morremos, que é o que viver quer dizer; 
 Neste momento, pela náusea, vivo na outra … 

 Mas ao lado, acompanhamento banalmente sinistro, 
 Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de escrever.

( Álvaro de Campos – heterônimo de Fernando Pessoa )

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“E como em cada grão de areia escreve Deus suas palavras para quem as souber ler, com os papagaios aprende-se que nestas terras, e mesmo neste mundo, muito são os que falam, mas poucos os que sabem o que dizem.”

( José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta)

Este é um fragmento do livro “Terra Papagalli” ( escrito pelos autores retro-mencionados ) que ganhei de presente do amigo Fábio “Dazfygaz” Casarini … Trata-se dos relatos ( fictícios, é clar o) de Cosme Fernandes que veio a se tornar o Barão de Cananéia e contém ainda um bestiário ( Liber Monstrorum de Diversis Generibus ) nos quais são descritos os estranhos animais de nossa fauna; um pequeno e breve dicionário da língua que fala os Tupiniquins (onde descobri que “Emboaba” significa “mão peluda”) e dez mandamentos para viver bem na Terra dos Papagaios, dentre os quais destaco o segundo :

“SEGUNDO MANDAMENTO PARA VIVER BEM NA TERRA DOS PAPAGAIOS

Disso que vos contei acima, acho que se pode tirar mais um aprendizado das usanças que tem essa gente e é isto que, quando aparecer alguma dificuldade, mesmo que seja de simples solução, é preciso fazer alarde, espetáculo e pompa, pois nesta terra, mais vale o colorido do vidro que a virtude do remádio.”

( José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta)

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Saiu a revista PIAUÍ , com artigos de Rubem Fonseca, Ivan Lessa, Danuza Leão, e outros mais …
Uma das coisas mais interesantes que li, foi um artigo sobre o papagaio. Leiam um fragmento :

“Se os Estados Unidos ostentam a águia como símbolo, a França o galo e o Chile o condor, o Brasil tem o papagaio como tradução ornitológica da nacionalidade. À diferença destes outros países, o papagaio não figura nos escudos, nos selos, nas medalhas, ou em outros sinais pelos quais o Estado anuncia a sua presença. (…)
“Terra Papagalli” foi um nome que concorreu com o de “Brasil”, e até com certa vantagem, nos anos que seguiram à Descoberta. Se tivese vingado, nosso país seria conhecido hoje por um nome de bicho, como a República dos Camarões, e nós seríamos os “papagaienses”, ou “papagaianos”, o que talvez soasse de mau gosto, mas de modo algum despropositado.’

( Roberto Pompeu de Toledo )

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FIQUEM ESPERTOS

No dia 26 deste mês o MAM de São Paulo inaugura uma homenagem ao meio-século da primeira mostra de Arte Concreta. Com certeza estarão expostas obras do grande mestre Maurício Nogueira Lima … e também do xará Geraldo de Barros , entre outros grandes pintores concretistas.
Hoje em brilhante entrevista publicada na Folha , Augusto de Campos descreve a formação do movimento concreto , versa sobre a trajetória da pintura concreta ao pop-art e ao op-art , fala sobre a reação emboaba ao surgimento da poesia concreta , relata suas impressões à incorporação da tecnologia na arte … e analisa muitas outras questões …
Aqui vai um fragmento da entrevista :

“Acho que sempre haverá um ‘pequeno segmento da raça’ (expressão de Pound) para responder ao desígnio mallarmaico de dar ‘um sentido mais puro às palavras da tribo’. Mas a massificação cultural é um fato iniludível da ‘overpopulation’, do baixo nível de escolaridade, da exaustão mental provocada pelos trabalhos forçados do ganha-pão achapadante.
A poesia, se não resolve, consola o ser humano de sua miserabilidade, de sua incognoscência, das precariedades de seu design ‘imperfeito’. Dá-lhe quem sabe a ilusão de estar um pouco acima. E seu desvalor econômico, o seu fracasso anti-populista, num mundo obcecado pelo lucro pelo sucesso, lhes conferem uma força ética impar.”

(Augusto de Campos )

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citação do dia :

A SOMBRA SOU EU

A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-me tudo a seguir-me
E finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir minha sombra comigo:
estou sempre às portas da via
sempre lá, sempre às portas de mim!

( José de Almada Negreiros )

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