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{ Tag Archives } literatura

Citações do dia:

 

“Montmartre

E os moinhos do frio

As escadas atiram almas ao jazz de pernas nuas

 

Meus olhos vão buscando

Como gravatas achadas

 

Nostalgias brasileiras

São moscas na sopa de meus itinerários

São Paulo de bondes amarelos

E romantismos sob árvores noctâmbulas

 

Os portos de meu país são bananas negras

Sob palmeiras

Os poetas de meu país são negros

Sob bananeiras

As bananeiras de meu país

São palmas calmas

Braços de abraços desterrados que assobiam

E saias engomadas

O ring das riquezas

 

Brutalidade jardim (*)

Aclimatação

 

Rue de La Paix

Meus olhos vão buscando gravatas

Como lembranças achadas.”

 

( Oswald de Andrade – Memórias Sentimentais de João Miramar )

 

(*) Reparem que o termo “Brutalidade Jardim”  foi novamente utilizado,desta vez como citação, na letra que Torquato Neto fez para a canção “Geléia Geral”, musicada e gravada por Gilberto Gil no álbum da Tropicália

 

“É a mesma dança na sala

No Canecão, na TV

E quem não dança não fala

Assiste a tudo e se cala

Não vê no meio da sala

As relíquias do Brasil

Doce mulata malvada

Um LP de Sinatra

Maracujá, mês de abril

Santo barroco baiano

Super poder de paisano

Formiplac e céu de anil

Três destaques da Portela

Carne seca na janela

Alguém que chora por mim

Um carnaval de verdade

Hospitaleira amizade

Brutalidade, jardim (…)

 

( Gilberto Gil – Torquato Neto / Geléia Geral )

 

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edmartins1

Meu avô com Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.

edmartins2

Meu avô com Érico Veríssimo.

edmartins3

Meu avô com Sérgio Buarque de Hollanda e Ciccillo Matarazzo.

Ganhei do meu sogro o livro “À MESA DO VILARIÑO” de Fernando Lobo, com prefácio de Guilherme Figueiredo – Editora Record – 1991. Em uma passagem deste genial livro, em que o compositor e jornalista relembra a sua trajetória, ele descreve um encontro com o meu avô, o editor José de Barros Martins, leia este trecho:

“Que dia mais sem graça aquele no Vilariño. Garoava lá fora, e muita gente não havia chegado (…). Paulinho Mendes Campos não queria uísque. Preferiu cerveja, e havia uma tremenda falta de assunto.
_ Vamos pra São Paulo – sugeriu o Poeta.
– Aracy de Almeida está lá – afirmei – me telefonou dizendo que está a maior zorra. (…)
Fomos os dois. No Santos Dumont não havia problema, era comprar a passagem e seguir. Tudo era mais fácil do que é hoje. Vôo suave e São Paulo aos nossos pés. Logo estávamos no Hotel Excelsior, onde Aracy estava, e nos preparávamos para uma noite de muito Oásis, comidinhas gostosas no Fasano e fim de noite no Gigetto, com passagem no clubinho que era o Clube dos Artistas. Ali, a patota paulista era filiada ao nosso bloco: Luís Coelho, Clóvis Graciano, o editor Martins que estava editando o livro de Caymmi com ilustrações de Graciano. Naquela noite conheci o pintor Rebolo. Era uma figura engraçada, um pouco chapliniana, dessas a gente quer bem logo de saída. Chegaram os meninos do Estadão, os Mesquitas, e quando a noite foi crescendo tivemos que traçar nossos rumos, pois no clubinho não havia comida e ele fechava cedo. Carlão Mesquita sugeriu que fossemos encontrar Sílvio Caldas num lugar chamado Chicote. Tinhamos o direito a ouvir o maior cantor do Brasil e saborearmos umas cavaquinhas como tira-gosto, e talvez no fim de noite Sílvio apresentaria alguma criação culinária.”

( Fernando Lobo )

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Acabei de ler “As Armas Secretas” de Júlio Cortázar. Fiquem com um fragmento:

– O problema é que eles se acham uns sábios- diz de repente. – Eles se acham muito sábios porque juntaram um montão de livros, e comeram todos. Isso me faz dar risada, porque na verdade são boa gente e vivem convencidos de que o que estudam e o que fazem são coisas difíceis e profundas. No circo é a mesma coisa, (…), e com a gente é a mesma coisa. As pessoas acham que algumas coisas são o máximo da dificuldade,e por isso aplaudem o trapezista, ou me aplaudem. Eu não sei o que imaginam, que eu estou ma arrebentando para tocar bem, ou que o trapezista rompe os tendões cada vez que dá um salto. Na verdade as coisas verdadeiramente difíceis são outras tão diferentes, tudo que a gente acha que pode fazer a qualquer momento. Olhar, por exemplo, ou compreender um cão ou um gato. Essas são as dificuldades, as grandes dificuldades.

( Júlio Cortázar – Tadução: Eric Nepomuceno )

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“A mestra não perguntou por nossos nomes , dados biográficos, currículos, nada disso. Tudo que ela queria saber era:
‘O que vocês sabem sobre bramanismo clássico?’
Isso lá é pergunta que se faça a recém-chegados? Eu, por exemplo, nunca pergunto aos estranhos que entram pela primeira vez na produtora: o que você acha da visão mitopoética, revolucionária e milenarista que Glauber Rocha oferece do terceiro mundo em ‘O Dragão da Maldade e o Santo Guerreiro’? Qual filme do Cassavetes com Gena Rowlands você acha melhor? ‘A woman under influence’? ou ‘Minnie and Moscowits’? Compare ‘Bang Bang’ do Andrea Tonacci com ‘O Bandido da Luz Vermelha’ do Sganzerla, da perspectiva desdramatizante e paródica da vanguarda marginal sessentista auto-reflexiva e pós bretchiana.”

( Reinaldo Moraes )

Pois bem, estou lendo “Pornopopéia” de onde tirei este fragmento… mas não pensem que esta obra-prima de Reinaldo Moraes só tem citações eruditas… muito pelo contrário… no livro o autor mostra seu talento através de pensamentos chulos, trocadilhos boçais, pornografia explícita e muitas outras coisas mais… literatura de primeira, confiram!!!

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Citação do dia:

“Eu suportaria melhor meu estilo de vida se não tivesse consciência de que (só mentalmente, claro) estou acima dessa vulgaridade. Saber que tenho em mim mesmo, ou tive, elementos suficientes para galgar outra possibilidade, saber que sou superior, não muito, à minha esgotada profissão, às minhas poucas diversões, ao meu ritmo de diálogo: saber tudo isso, sem dúvida, não contribui para minha tranqüilidade, antes faz com que eu sinta mais frustrado, mais inepto a me sobrepor às circunstâncias. O pior de tudo é que não aconteceram coisas terríveis que me cerceassem (…), que freassem os meus melhores impulsos, que impedissem meu desenvolvimento, que me atassem a uma rotina anestesiante. Eu mesmo fabriquei minha rotina, mas pelo caminho mais simples: a acumulação. A segurança de me saber capaz para algo melhor me deu o controle da postergação, que no fim das coisa é uma arma terrível e suicida. Daí que minha rotina jamais tenha tido caráter nem definição; foi sempre provisória, sempre constituiu um rumo precário, a ser seguido apenas enquanto durava a postergação, apenas para agüentar o dever da jornada durante esse período de preparação que por certo eu considerava imprescindível, antes de me lançar definitivamente à concretização do meu destino.”

( Mário Benedetti – tradução: Joana Angelica D’Avila Melo )

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Li recentemente “POEMA SUJO” que o grande poeta maranhense escreveu em Buenos Aires em 1975, enquanto estava exilado… fiquem com um fragmento:

“É impossível dizer
em quantas velocidades diferentes
se move uma cidade

a cada instante
(sem falar nos mortos
que voam para trás)
ou mesmo uma casa

onde a velocidade da cozinha
não é igual à da sala (aparentemente imóvel
nos seus jarros e bibelôes de porcelana)
nem à do quintal
escancarado às ventanias da época

e que dizer das ruas
de tráfego intenso e da circulação do dinheiro
e das mercadorias
desigual segundo o bairro e a classe, e da
rotação do capital
mais lenta nos legumes
mais rápida no setor industrial, e
da rotação do sono
sob a pele,
do sonho
nos cabelos?”

(Ferreira Gullar)

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Citação do dia:

“Estamos cercados pelos mortos que ocupam posições de poder porque, de maneira a obter esse poder, é necessário que morram. Os mortos são fáceis de encontrar – estão por toda a parte à nossa volta; a dificuldade está em achar os que estão vivos. Repare na primeira pessoa com quem cruzar na calçada lá fora – os olhos já não guardam qualquer cor; o modo de caminhar é brutal, desajeitado, feio; mesmo os cabelos parecem brotar de maneira doentia. Há ainda outros tantos sinais de morte: um deles é uma sensação de radiação, os mortos emitem verdadeiros raios, o fedor de suas almas, que podem arruinar o nosso apetite para o almoço caso o contato dure muito tempo.”

( Charles Bukowski – tradução: Pedro Gonzaga )

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SOBRE LEITURAS

“O senhor vai me dizer que a literatura não consiste unicamente em obras-primas mas está, sim, povoadas de obras ditas menores. Eu também acreditava nisso. A literatura é um vasto bosque e as obras-primas são os lagos, as árvores imensas ou estranhíssimas, as eloquentes flores preciosas ou as grutas escondidas, mas um bosque também é composto de árvores comuns, de matagais, de charcos, de plantas parasitas, de cogumelos e florezinhas silvestres. Eu me enganava. As obras menores, na realidade não existem. Quero dizer: o autor de uma obra menor não se chama fulaninho ou cicraninho. Fulaninho e cicraninho existem, disso não há dúvida, e sofrem e trabalham e publicam em jornais e revistas e de vez em quando publicam um livro que não desmerece o papel em que está impresso, mas esses livros ou esses artigos, se o senhor olhar com atenção, não são escritos por eles.
Toda obra menor tem um autor secreto, e o autor secreto é, por definição, um escritor de obras primas.”

( Roberto Bolaño – tradução Eduardo Brandão )

Acabei de ler “2666”, de Roberto Bolaño (Editora Companhia das Letras – tradução: Eduardo Brandão – 852 páginas). É um livraço, embora para mim a obra-prima deste chileno mexicanizado seja “Os Detetives Selvagens”. O livro é dividido em cinco partes, mas todas as partes convergem para Santa Teresa (cidade fictícia que muitos identificam como Ciudad Juaréz, mas que geograficamente fica um pouco mais a oeste), onde ocorre uma série de assassinatos de mulheres. Numa das notas encontradas nos arquivos do escritor, há uma que afirma que existe um “centro oculto” de “2666” que se esconde debaixo do “centro físico” da obra. O “centro físico” é muito fácil de identificar: é obviamente Santa Teresa, quanto o “centro oculto” muitos acham que é a data fictícia de 2666. Eu acho que não, que o “centro oculto” do livro é a loucura… Há vários personagens loucos, no decorrer da estória (não vou citar estes episódios para não estragar a surpresa de futuros leitores); e o ponto central do livro, a série de assassinatos, só pode ser fruto de uma sociedade ensandecida, de uma época maluca… talvez a chave disso tudo é uma coisa que ninguém reparou (ou não me lembro que alguém tenha reparado): o personagem Olegário Cura Expósito (apelidado de Lalo Cura) é filho de uma índia que transou com dois estudantes perdidos pelo norte do México em 1976… Ou seja Lalo Cura poderia ser filho ou de Arturo Belano ou de Ulisses Lima (personagens de “Os Detetives Selvagens”), e deste fato poderíamos deduzir que La Locura (A loucura) dos anos 90 e início do século XXI seria fruto da geração “easy ryder” das décadas de 60 e 70… Será???

Li também neste feriado o conto “O Espelho” de Machado de Assis, que meu pai afirma que tem muitos pontos convergentes com o meu mais recente mini-conto, publicado abaixo… e agora me bateu uma terrível dúvida: será que o bruxo de Cosme Velho (Machado) e el Brujo de Palermo (Borges) não são os autores secretos deste “O Espelho” aqui publicado

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Citação do dia:

O dever, o trabalho, a função do poeta são colocar em evidência essas forças de movimento e de encantamento, esses excitantes da vida afetiva e da sensibilidade intelectual em ação que, na linguagem usual, são confundidos como sinais e meios de comunicação da vida comum e superficial. O poeta consagra-se e consome-se, portanto, em definir e construir uma linguagem dentro da linguagem…

( Paul Valéry )

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A citação do dia vem de um livro de um californiano filho de armênios chamado William Saroyan publicado pelo meu avô em 1947, leiam:

PRECE COMUM

As planuras, Senhor, todos os silêncios da mente, os corredores perdidos, os pilares, os lugares por onde caminhamos, os rostos que vimos e as vozes das criancinhas. Mas acima de tudo, os hieróglifos, a santidade, a figura talhada de pedra, a linha tão simples, a nossa linguagem, a curva articulada, digamos, da folha, do sonho e do sorriso, a mão que tomba, os membros que se tocam, amor de universos, nenhum temor à morte e alguma nostalgia. Sim, e a luz, nosso sol, Senhor, e o sol de homens desconhecidos, as manhãs perdidas no tempo de gigantes e pigmeus em toda parte, um homem chamado Bach, outro chamado Cezanne e os outros, de nomes perdidos, as multidões agora se reúnem em uma única, anônima, nosso rosto, o lamento de multidões anônimas, nossa forma, estatura, homens caminhando sob a luz, em muitos lugares, para começar na Ásia, Europa, África, e através do mar fluido da mente, Atlântico, rumo oeste para este lugar, América, os fuzileiros navais em parada, o sorriso do pálido Wilson, liberdade para a Lituânia, viva a Polônia, e os condados do Texas, melancias e miséria, nossas graças a vós, oh Senhor. Também para os numerais para que se possa arquivar a nossa dor em fichas: um para tristeza, dois para dor, três para a loucura e mil e dez mil e o reconhecimento da eternidade, anos alegres, a barba de Darwin, digamos os olhos de Einstein, presumamos, os dedos do grande pianista polonês e assumamos todas as coisas numericamente, a riqueza de Ford, de Mellon, a miséria de – pensemos em um nome digno – de Pound, digamos, ou ainda, do desconhecido, do jovem anônimo do Município de Clay, em Iowa, sozinho, sentado, escrevendo histórias para Deus e para o Saturday Evening Post – isto é, a idéia da coisa, o anonimato do horror, a solidão, esperando pela fama e uma breve nota, você, o nome, meu rapaz, você é famoso, um conto publicado no Post, graças, oh Senhor!

( William Saroyan – tradução: James Amado )

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