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Hoje fui dar uma espiada na mostra sobre Rogério Sganzerla que começa a partir de amanhã no Itaú Cultural… como era o lançamento estava muito cheio, mas quando estiver mais calmo volto lá para ver tudo com mais atenção… além dos filmes, é claro!!!

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O ESTRANGEIRO

Nas primeiras vezes em que aquele homem foi ao Bar do Dimas, perto do Aeroporto
de Congonhas, ninguém reparou muito naquele homem de meia idade, entrava… pedia
um undenberg depois uma cerveja, lia o jornal Deutsche Zeitung, pagava e ia
embora… de vez em quando falava em voz baixa no celular… só repararam que ele
era estrangeiro… depois perceberam que ora atendia o celular em espanhol, ora
em alemão, ora em inglês, ora em francês e ora em outro idioma desconhecido… o
pessoal do bar achou estranho… porém quando souberam do rifle a coisa ficou
séria… descobriram que o estrangeiro alugara um galpão nas imediações do bar e
que sempre que entrava no galpão com um rifle em punho…quem contou foi o
carteiro que ao entregar uma encomenda estranhou o homem carregando aquele
troço… – “Que coisa mais estranha… este cara não sei não… deve ter alguma
coisa…”

Logo começaram a surgir conjecturas… alguém falou que ele devia ser um
ex-agente da DINA (a polícia secreta de Pinochet), outros achavam que ele era um
dos homens fortes da temível Escola de Mecânica da Armada (Instituição da
Marinha Argentina que se transformou em um centro de tortura), outros ainda
disseram que ele era uma daquele mercenários alemães que Klaus Barbie contratou
quando tentou instituir o 4º Reich na Bolívia,,, somente o Zé, que era o garçom
do boteco, que discordava dizendo: – “Que nada… este gringo não é nada
disso… não sei o que ele faz… só sei que este cara é um gênio!!!”

Na primavera daquele ano, foi solucionado o mistério… diversas reportagens nos
principais jornais destacaram a presença do maior gênio das artes plásticas
atuais na Bienal de Sâo Paulo: um alemão que para protestar contra as guerras no
Oriente Médio elaborou uma série de painéis onde perfurações de balas de fuzil
sobre enormes chapas metálicas formavam os logotipos das principais companhias
petrolíferas…

Passada a Bienal o estrangeiro deixou de frequentar o Bar do Dimas e regressou a
sua terra natal… O Dimas porém ficou uma pulga atrás da orelha e perguntou ao
seu único garçom:- “Zé, como é que você descobriu que no cara era um gênio???”

-“Ora, foi muito fácil… ninguém percebia, mas apesar de não saber alemão notei
que o gringo só lia aquele jornal de cabeça para baixo, ou de ponta-cabeça como
dizem os paulistas… ora um cara que lê o jornal desta maneira ou é um gênio ou
é uma besta… como o cabra falava várias linguas então só podia ser um gênio.

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Já saiu a nova TUDA. Como sempre muita coisa boa, como sempre com uma poesia inédita do Arnaldo Xavier, uma tradução que Eduardo Miranda fez do poeta turco Nazım Hikmet Ran, uma versão para o inglês do poema Carpe Diem de Mário Faustino feita também pelo Eduardo Miranda, uma crônica de Roniwalter Jatobá mais um mini-conto inédito meu, e um monte de outras obras muito boas, confiram!!!

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sonhobom

UM PREGUIÇOSO CREPÚSCULO ORIENTAL

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exile

A MELODIA SENSUAL SOBREPONDO A FRAGMENTAÇÃO NEURASTÊNICA

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Agora estou lendo a obra completa de Baudelaire, e estou fascinado com as críticas de arte que ele escreveu… para me aprofundar no assunto estou estudando a pintura de Delacroix, Ingres, Daumier, Géricault, Haussoullier, etc… É interessante a disputa entre artistas desenhistas e coloristas… vejam estas frases, uma de Ingres (defendendo o desenho) e outra de Delacroix (defendendo a pintura ):

“Uma coisa bem desenhada está sempre bem pintada.”
( Ingres )

“Quando os tons são justos, os traços se desenham por si.”
( Delacroix )

E vejam finalmente a solução que Baudelaire dá ao problema:

“Portanto, é possível ser ao mesmo tempo colorista e desenhista, mas em certo sentido. Assim como um desenhista pode ser colorista com as grandes massas, assim também um colorista pode ser desenhista com uma lógica plena do conjunto de linhas; porém uma dessas qualidades sempre absorve o detalhe da outra.”
( Baudelaire)

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ranchofun

O CÉU EMBAIXO DAS NUVENS, A TERRA EMBAIXO DO ASFALTO

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Assis, no interior do estado de Sâo Paulo

Parque Infantil em El Bolsón, Chubut, Argentina

Praça em El Bolsón, Chubut, Argentina

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violinos

NO CÉU DE UMA CIDADE DO INTERIOR

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Citação do dia:

LA VOIX

Mon berceau s’adossait à la bibliothèque,
Babel sombre, où roman, science, fabliau,
Tout, la cendre latine et la poussière grecque,
Se mêlaient. J’était haut comme un in-folio.
Deux voix me parlaient. L’une, insidieuse et ferme,
Disait: «La Terre est un gâteau plein de douceur;
Je puis (et ton plaisir serait alors sans terme!)
Te faire un appétit d’une égale grosseur.»
Et l’autre: «Viens! oh! viens voyager dans les rêves,
Au delà du possible, au delà du connu!»
Et celle-là chantait comme le vent des grèves,
Fantôme vagissant, on ne sait d’où venu,
Qui caresse l’oreille et cependant l’effraie.
Je te répondis: «Oui! douce voix!» C’est d’alors
Que date ce qu’on peut, hélas! nommer ma plaie
Et ma fatalité. Derrière les décors
De l’existence immense, au plus noir de l’abîme,
Je vois distinctement des mondes singuliers,
Et, de ma clairvoyance extatique victime,
Je traîne des serpents qui mordent mes souliers.
Et c’est depuis ce temps que, pareil aux prophètes,
J’aime si tendrement le désert et la mer;
Que je ris dans les deuils et pleure dans les fêtes,
Et trouve un goût suave au vin le plus amer;
Que je prends très souvent les faits pour des mensonges,
Et que, les yeux au ciel, je tombe dans des trous.
Mais la voix me console et dit: «Garde tes songes:
Les sages n’en ont pas d’aussi beaux que les fous!» (*)

(*) A VOZ

Meu berço ao pé da biblioteca se estendia,
Babel onde a ficção e ciência, tudo, o espolio
Da cinza negra ao pó do Lácio se fundia.
Eu tinha ali a mesma altura de um in-fólio.
Duas vozes ouvi. Uma, insidiosa, a mim
Dizia: “A Terra é um bolo apetitoso à goela;
Eu posso (e teu prazer seria então sem fim!)
Dar-te uma gula tão imensa quanto a dela.”
A outra: “Vem! Vem viajar nos sonhos que semeias,
Além da realidade e do que além é infindo!”
E essa cantava como o vento nas areias,
Fantasma não se sabe ao certo de onde vindo,
Que o ouvido ao mesmo tempo atemoriza e afaga.
Eu te respondi: “Sim, doce voz!” É de então
Que data o que afinal se diz ser minha chaga,
Minha fatalidade. E por trás de telão
Dessa existência imensa, e no mais negro abismo,
Distintamente eu vejo os mundos singulares,
E, vítima do lúcido êxtase em que cismo,
Arrasto répteis a morder-me os calcanhares.
E assim como um profeta é que, desde esse dia,
Amo o deserto e a solidão do mar largo;
Que sorrio no luto e choro na alegria,
E apraz-me como suave o vinho mais amargo;
Que os fatos mais sombrios tomo por risonhos,
E que, de olhos no céu, tropeço e avanço aos poucos.
Mas a voz consola e diz: “Guarda teus sonhos:
Os sábios não os têm tão belos quanto os loucos!

( Charles Baudelaire – tradução: Ivan Junqueira)

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