Citação do dia :
“Eu assinalo apenas as horas felizes , exatamente como um relógio de sol.”
( Orson Welles )
Citação do dia :
“Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que ideia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
Constituição íntima das coisas “…
“Sentido íntimo do Universo” …
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em coisas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das coisas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina).
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.”
( Alberto Caeiro – heterônimo de Fernando Pessoa )
Acabo de ler “Canhoteiro – O homem que driblou a glória” escrito por Renato Pompeu . O livro não se resume na biografia do futebolista ( apelidado de “O Mágico” , “Mandrake” , “O Cantiflas” , etc. ) que em uma só jogada driblou seu marcador ( Idário , do alvi-negro de Parque São Jorge ) 14 vezes , ou que como dizia o jornalista Sérgio Baklanos :
“…após tomar o café, dava um golpe no pires e a xicrinha voava pelos ares, aninhando-se num pé do atleta. Ele ficava passando a xicrinha de pé para pé até que, na última embaixada, a lançava de volta para cima do pires na mão de Canhoteiro, de pé e exatamente por sobre o círculo de descanso esculpido no pires.” ( página 102 ).
Enriquecendo o relato da carreira do ponta-esquerda são-paulino , que ganhou apenas um título ( o de Campeão Paulista de 1957 ) , Renato Pompeu descreve o processo de mudança no meio de transporte coletivo da paulicéia ( que do bonde passa para o ônibus ) ; o isolamento que a cidade enfrentava em relação ao resto do país ( os seus jogadores de futebol e seus cantores de rádio só faziam sucesso na capital , pois até o interior do estado só ouvia as rádios cariocas ) ; o comportamento social da época ; as inovações táticas do futebol , etc ; para finalmente fazer um belo paralelo entre o craque que “não cumpriu o sonho de ser campeão mundial” ( Canhoteiro fez pouco caso da seleção e permitiu que Zagalo tomasse o seu lugar e se sagrasse campeão do mundo na Copa de 1958 ) com São Paulo que “não cumpriu o sonho de inserir o Brasil no Primeiro Mundo” …
Se era assim há quarenta anos, imagine hoje , quando os dois times que disputarão a final do campeonato paulista não são da capital ( um é de Jundiaí e o outro é de São Caetano ) …
Para finalizar uma outra homenagem a Canhoteiro , a canção que abre o disco de Fagner e Zeca Baleiro :
“CANHOTEIRO
Um anjo torto
Um canhoteiro
Um São José de Ribamar
Um bailarino
Um brasileiro
Um Paraíba
Um Ceará
Um pé de ouro
Um peladeiro
Mata no peito e beija o sol
Balão de couro
Bola de efeito
Mas que perfeito é o futebol
Corre dispara pára ginga e zás
(Corre dispara pára ginga e jazz)
Mais um zagueiro vai pro chão
Esse já era não levanta mais
Outros virão
Finta canhota voa samurai
Lá vai a bola bala de canhão
Seu pé direito é a bomba que distrai
O esquerdo é o coração
Um belo drible
Decide o jogo
No grande baile do futebol
Só um artista
Um canhoteiro
Acende a tarde inventa o sol”
( Fagner/Zeca Baleiro/Fausto Nilo/Celso Borges )
“A vida não tem significado , é uma história , cheia de som e de fúria , contada por um louco.”
( Shakespeare )
QUEM FOI , FOI …
Houve na choperia do Sesc Pompéia durante três dias , um evento denominado CATARSE … só compareci no sábado ( se soubesse que seria tão bom , iria todos os dias … ) Por lá rolou : Canto de Cozinha , Paulo Padilha , Show dos Texugos , Sérgio Molina , Histórias do Sr. K por Marcos Ferreira , Moisés Santana , Ceumar , Cláudia D , Miriam Maria , Projeto Cru , Sidão , Laura Finocchiaro , Makumbacyber e Ecodesfile …
Pessoas bonitas dançavam em ambiente descontraído , lembrando o antigo “Fábrica do Som” ( que era gravado no teatro ao lado ) : cantos de cadomblé , releituras de Sidney Magal , Camisa de Vênus , Renato e Seus Blue Caps , música experimental , sons percurssivos , pintura ao vivo , etc …
Além de ter encontrado o Paulo Padilha ( que vejo com alguma freqüência ) reencontrei Sérgio Molina ( que me substituiu como guitarrista no lendário conjunto “Dentro do Piano” ) e sua esposa Miriam Maria ( que foi minha contemporânea na faculdade ) … na saída comprei os CDs deles : ouçam !!!
Ontem teve o tradicional encontro de artistas na residência de um polêmico trio : o designer Javé Nardini , a sua esposa Giedre e seu filho Chiquinho … apareceram lá os artistas : Carlos Rezende , Fábio Casarini , Flávio P.T. de Carvalho , Ricardo Woo e eu .
Conversas e conversas sobre pintura … cerveja e grappa … as cerâmicas da anfitriã em profusão … o projeto de tapete do anfitrião …
Hoje fui conferir o painel de Sol LeWitt que Resende e Woo executam juntamente com outros artistas na residência de um famoso magnata …
Não é este da foto , mas é tão criativo quanto …
Veja um pouco mais aqui.
PARA CONFERIR , VER & OBSERVAR …
Nesta semana fui a duas exposições : a primeira foi “O Preço da Sedução – do Espartilho ao Silicone” no Instituto Itaú Cultural ( Av. Paulista nº 149 , terça à sexta : 10 às 21 hs , sábados e domingos : 10 às 19 hs – até dia 30/05 ) que mostra as diversas formas da sedução feminina em fotos , revistas antigas ( folheei exemplares antigos de “O Cruzeiro”, “Fatos & Fotos”, “Realidade”, etc ) , pinturas , objetos , roupas … é interessante notar o realce dado no objeto de sedução como algo que torna ridículo sua usuária : desde o espartilho que no passado causava deformações ósseas , ao silicone que hoje recalchuteia seios e nádegas , passando por objetos bizarros como um chapéu dos anos 40 com duas pombinhas empalhadas , servindo de enfeite em meio a laçarotes acizentados … Mas o melhor é que há quadros muito bons , oriundos de coleções particulares : entre outros , dois do Flavio de Carvalho que não me lembro ter visto antes , alguns do Ismael Nery , do Di Cavalcanti , um do Samsor Flexor , um da fase Pop do Geraldo de Barros e uma pintura do Wesley Duke Lee denominado “Garota de Ipanema” que para mim é o destaque da mostra …
A segunda exposição foi : “Universos Sensíveis : As Coleções de Eva e Ema Klabin” na Pinacoteca do Estado ( Praça da Luz nº 2 ( terça a domingo 10 às 18 hs – até 02/05 ) : que apresenta um apanhado geral da história da arte : de Tintoreto à arte egípcia , de Franz Post à arte chinesa , de Botticelli à arte pré-colombiana , de Brecheret à arte africana , de Lasar Segall à arte grega … é uma pena que as gravuras de Rembrant estejam terrivelmente mal iluminadas ( uma das piores coisas para o pintor é ver suas obras com iluminação deficiente , o mestre holandês deve estar se revirando na cova ) . Depois , como de costume : a tradicional visita ao acervo da Pinacoteca para rever pinturas de Pancetti , Volpi , Maurício Nogueira Lima , Geraldo de Barros ( o pintor-xará ) , Samsor Flexor , Flávio de Carvalho , etc …