Acabo de ler “Canhoteiro – O homem que driblou a glória” escrito por Renato Pompeu . O livro não se resume na biografia do futebolista ( apelidado de “O Mágico” , “Mandrake” , “O Cantiflas” , etc. ) que em uma só jogada driblou seu marcador ( Idário , do alvi-negro de Parque São Jorge ) 14 vezes , ou que como dizia o jornalista Sérgio Baklanos :
“…após tomar o café, dava um golpe no pires e a xicrinha voava pelos ares, aninhando-se num pé do atleta. Ele ficava passando a xicrinha de pé para pé até que, na última embaixada, a lançava de volta para cima do pires na mão de Canhoteiro, de pé e exatamente por sobre o círculo de descanso esculpido no pires.” ( página 102 ).
Enriquecendo o relato da carreira do ponta-esquerda são-paulino , que ganhou apenas um título ( o de Campeão Paulista de 1957 ) , Renato Pompeu descreve o processo de mudança no meio de transporte coletivo da paulicéia ( que do bonde passa para o ônibus ) ; o isolamento que a cidade enfrentava em relação ao resto do país ( os seus jogadores de futebol e seus cantores de rádio só faziam sucesso na capital , pois até o interior do estado só ouvia as rádios cariocas ) ; o comportamento social da época ; as inovações táticas do futebol , etc ; para finalmente fazer um belo paralelo entre o craque que “não cumpriu o sonho de ser campeão mundial” ( Canhoteiro fez pouco caso da seleção e permitiu que Zagalo tomasse o seu lugar e se sagrasse campeão do mundo na Copa de 1958 ) com São Paulo que “não cumpriu o sonho de inserir o Brasil no Primeiro Mundo” …
Se era assim há quarenta anos, imagine hoje , quando os dois times que disputarão a final do campeonato paulista não são da capital ( um é de Jundiaí e o outro é de São Caetano ) …
Para finalizar uma outra homenagem a Canhoteiro , a canção que abre o disco de Fagner e Zeca Baleiro :
“CANHOTEIRO
Um anjo torto
Um canhoteiro
Um São José de Ribamar
Um bailarino
Um brasileiro
Um Paraíba
Um Ceará
Um pé de ouro
Um peladeiro
Mata no peito e beija o sol
Balão de couro
Bola de efeito
Mas que perfeito é o futebol
Corre dispara pára ginga e zás
(Corre dispara pára ginga e jazz)
Mais um zagueiro vai pro chão
Esse já era não levanta mais
Outros virão
Finta canhota voa samurai
Lá vai a bola bala de canhão
Seu pé direito é a bomba que distrai
O esquerdo é o coração
Um belo drible
Decide o jogo
No grande baile do futebol
Só um artista
Um canhoteiro
Acende a tarde inventa o sol”
( Fagner/Zeca Baleiro/Fausto Nilo/Celso Borges )
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