BILLY BUDD – Herman Melville – Tradução: Bruno Gambarotto – Editora Grua
Embora seja uma obra menos conhecida do autor de “Moby Dick”, “Barterbly” e ”Benito Cereno”, bem como de apresentar uma trama bem mais simples que estes escritos, “Billy Budd” é uma novela que depois de lida, revela camadas ocultas e significados inesperados, após o texto ser devidamente digerido.
A trama se passa em um navio de guerra inglês, H. M. S: Bellipotent, no período entre a revolta armada em Nore, em1797, conhecida como “O Grande Motim” e aquela que talvez seja o maior triunfo da marinha britânica, “A Batalha de Trafalgar”, em 1805, ou seja, uma época na qual os comandantes da esquadra inglesa, assombrados com o que ocorrera na França um pouco antes (a queda da Bastilha ocorreu em 1789) estavam empenhados na manutenção da disciplina…
Neste contexto,a interação entre os três personagens – Billy Budd, o marinheiro bonitão e simpático, querido pelos companheiros; o capitão Edward Fairfax Vere, experiente, resoluto e ao mesmo tempo apreciador de bons livros, respeitado pela tripulação; e o mestre-d’armas (responsável pela disciplina dos marinheiros) John Claggart, que embora eficiente, ingressara na marinha em idade avançada (o que os marinheiros atribuíam a uma vida pregressa) – leva a novela a um desenlace que antecipa um gênero que seria criado muito tempo depois pelo cinema norte-americano: um julgamento, no qual os argumentos das diversas partes , bem como o veredito proferido, são a parte mais importante da obra.
Aqui fica o comentário de Leon Howard no livro “Herman Melville” (coleção escritores norte americanos – Livraria Martins Editora – tradução da minha querida avó, Edith Pestana Martins):
“ ‘Billy Bud’ tem quase tantos significados para quantos leitores quanto Moby Dick e talvez pelas mesmas razões. Este livro tem a ambivalência oculta de qualquer obra de arte que se desenvolva pela acreação e não pelo desígnio, a ambiquidade que é encontrada em qualquer tentativa inteligente e honesta para resolver o profundo problema da conduta humana, e a força que um autor só transmite à sua obra quando conseque capturar em seu próprio ser as principais tensões de sua idade. Pois o problema que angustiou Melville em Billy Bud não foi o problema do conhecimento, que tanto o preocupou na mocidade. Foi o problema do homem. É ele um ser social responsável pelo bem estar da sociedade a que pertence? Ou é ele, um indivíduo moral independente, responsável para com sua consciência privada por sua culpa ou inocência?”
Mais um adendo: reparem na diferença no qual o personagem Billy Bud é descrito na narrativa, no jornal de assuntos navais e na balada popular. Onde estará a verdade? Será que a narrativa não é mentirosa? Será que o Billy Bud “verdadeiro” é o do jornal? Ou será o da canção popular?
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