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EM MEMÓRIA DE UM GRANDE AMIGO

Já era domingo, e Josias Germano ainda não havia escrito a crônica em homenagem a seu grande amigo, Pedro Venâncio, que havia falecido há menos de duas semanas… um enfarte o levara e olha que seu amigo nadava todo o dia, não fumava, bebia pouco, se alimentava bem… porém o destino ninguém entende…

O nosso protagonista e a sua esposa Marília Olávia, tomaram um belo café da manhã: suco de maracujá, mamão, sanduíche de queijo, presunto crú no pão caseiro, chá com limão siciliano… porém ela observou que ele andara pensativo…

Ele estava indeciso… ora pensava em escrever uma crônica que falasse sobre a amizade com Pedro Venâncio sob uma perspectiva sequencial, ou seja, desde quando o conhecera no ginásio, as festas na juventude, a amizade com seus pais, seus irmãos, os casamentos, o trabalho na mesma empresa, o observar o crescimento de seus filhos, as conversas sobre viagens, literatura e futebol, a notícia sobre sua morte… ora pensava em escrever sobre, quando após missa de sétimo dia, ele e outros amigos Jaunyr, Ringo e Papagaio rumaram para um boteco de esquina no bairro da Aclimação para bebericar relembrando as estórias de Pedro Venâncio, frio intenso, uísque, cerveja e espetinhos, as lembranças das farras em comum, das viagens…

Depois do café-da manhã Josias Germano foi ao supermercado, comprou água com gás, cerveja de garrafa, laranja, mexerica morgot, melão gaia, batata asterix, escarola, maracujá, grapefruit, banana, pasta de dente… precisava ir buscar a cesta básica mensal no centro da cidade, mas antes resolveu parar no boteco da frente e tomar uma cerveja artesanal bem amarga… acabou bebendo uma “american india pale ale” feita em Pindorama… na ensolarada mesa de bar ele tentava pensar em um desfecho para a crônica, porém nada feito… então foi buscar a cesta básica.

Já na cozinha de sua casa, o nosso protagonista cortou uma peça de bife ancho em generosos pedaços enquanto bebia fartos goles de cerveja irlandesa… sua fiel escudeira então pegou o suplemento cultural que sai aos domingos no jornal, e resolveu ler para ele um poema de Omar Khayyám (traduzido por Luiz Antônio de Figueiredo):

“Vamos gozar, Amor, cada breve Momento!
Logo seremos Pó, levado pelo Vento!
Pó jazendo no Pó, e sob o Pó da tumba,
sem Vinho, sem Cantor, sem Música ou lamento!”

Então Josias Germano compreendeu… ele entendeu a lição dada pela partida de seu amigo, justamente aquele que não falava mal de ninguém e também do qual ninguém falava mal: perdemos muito tempo em picuinhas, grande parte de nosso pensamentos são destinados a besteiras… nos preocupamos com coisas que não fazem o menor sentido… precisamos viver, viver sem ter que pensar em coisas pequenas, viver sem nos desgastarmos em rotinas… viver cada momento: “Todo dia é dia D” como dizia Torquato Neto.

O nosso protagonista e sua fiel escudeira cortaram as batatas asterix e as dispuseram em uma assadeira com azeite, alho, sal grosso e alecrim… direto para o forno…também cortaram a escarola e fizerem um molho a base de azeite, vinagre de vinho, sal e pimenta do reino… grelharam os pedaços de bife ancho e comeram com a salada e as batatas, compreendendo que aquele era um momento único, que estas sãos as grandes coisas da vida, que aquele dia era o dia A, o dia B, o dia C e também era o dia D.

Então ele escreveu uma crônica sobre o seu almoço, pois apreciar cada pequeno momento da vida, descobrir uma epifania nas coisas mais simples era a melhor maneira de prestar homenagem ao seu grande amigo…

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