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{ Monthly Archives } julho 2012

COMEMORAÇÃO PRA INGLÊS VER

I

Joe J. Ocker Junqueira respirou aliviado quando adentrou a sala de embarque do aeroporto de Heathrow, com a chegada das Olimpíadas, Londres, (sua cidade natal) estaria insuportável… cheia de atletas, turistas e repórteres, então decidiu realizar seus sonho: conhecer São Paulo… e mais precisamente estar nesta cidade para a comemoração da Revolução Constitucionalista de 1932…

Joe J. Ocker Junqueira nascera na Inglaterra, filho de brasileiros exilados durante a ditadura, sendo que tanto o avô paterno quanto o avô materno haviam lutado na Revolução Constitucionalista, motivo pelo qual achava esta guerra mais importante do que a Segunda Guerra Mundial… para ele as batalhas de Itararé, Cunha, Garganta do Embaú e Atibaia eram mais importantes que Stalingrado, Midway, El Alamein e Kursk… a única coisa que ele lamentava a este respeito era que ninguém tinha feito um quadro, um filme ou uma música inspirado na Revolução de 32 como Candido Lopez pintara a Guerra do Paraguai ou os Rolling Stones que fizeram Gimmie Shelter criticando a Guerra do Vietnâ… (War, children, it’s just a shot away/It’s just a shot away).

Joe J. Ocker Junqueira falava português, mas o máximo que se atrevera em terras de lingua portuguesa foi uma estadia em Sintra… agora era diferente, iria enfim conhecer o país de seus antepassados, o estado pelo qual seus avôs pegaram em armas e a cidade que sempre sonhou conhecer e sobre o qual tinha tanto estudado. Era interessante pois ele conhecia a São Paulo através de filmes: O Grande Momento (Roberto Santos), São Paulo S/A (Luis Sérgio Person), “O Bandido da Luz Vermelha” (Rogério Sganzerla) , “Cidade Oculta” (Chico Botelho) e varios filmes de Carlos Reichenbach…

II

Joe J. Ocker Junqueira se hospedou em um grande hotel junto ao Viaduto Tutóia, no Paraíso, pois era perto do obelisco comemorativo a Revolução de 32 que existe no Parque do Ibirapuera, de modo que no dia 9 de Julho ele poderia ir caminhando até o obelisco….

Duas coisas impressionaram Joe J. Ocker Junqueira, a primeira foram as comidas: crescera comendo a comida que seus pais (por sinal exímios cozinheiros) preparavam: coxinhas, empadinhas, cuzcuz paulista, virado, etc… agora ele podia comer outras coxinhas, outras empadinhas e compará-las com as que sempre comera… adorou a empada do restaurante Itamarati (lugar muito frequentado por um de seus avôs), experimentou a famosa coxinha do bar Veloso e os bolinhos de bacalhau de um simpático bar que ficava ao lado de seu hotel…

Outra coisa que o deixou impressionado foi o nome das ruas:

Guaramomis, Tupiniquins, Aicás, Anapurus, Nhambiquaras, Maracatins, Jurupis, Juquis, Iraé, Açocê, Chibarás, Moema… Jamaris, Jurema, Jandira, Jurucê, Aratãs, Iraí, Moaci, Miruna, Imarés, Carinás, Chanés, Pamaris, Maturi, Maicuru, Apamas, Mucajai, Juruti, Ibirapuera, Arapanés, Jauaperi, Inhambu, Ibijaú, Ararapi, Carajuá, Sumaré, Caeté, Campevas, Iperoig, Apiacás, Apinajés, Aimberê, Caiowá, Cajaíba, Piracuama, Caiubi, Tucuna, Cotoxó. Mutuparana, Ambuás,

Para alguém que morava na St. John´s Wood Road, em Westminster, aqueles montes de ruas com nomes indígenas era um deleite… “É uma pena que James Joyce não conhecesse estes nomes, seriam muito interessantes se fossem inseridos no Finnegans Wake”

III

Na manhã de 9 de Julho, Joe J. Ocker Junqueira acordou ansioso, comeu o café da manhã apressadamente e rumou para o Obelisco do Ibirapuera… lá viu uma comemoração linda… pessoas marchando caracterizadas com fardas semelhantes as utilizadas na época, cantando o Hino da Revolução Constitucionalista, enquanto que famílias agitavam várias bandeiras paulistas… no meio de tudo ele viu alguns ex-combatentes… que sabem não teriam lutado ao lado de seus avôs… mas dentres estes personagens se destacava um velhinho, e então ele percebeu no brilho do olhar daquele velhinho revolucionário, a força das pessoas que lutaram, lutam e lutarão por um país melhor…

VI

Na tarde de 9 de julho, Joe J. Ocker Junqueira foi visitar o túmulo de seus avôs, e diante de cada tumba leu em voz alta (com certo sotaque) o poema “A Nossa Bandeira” de Guilherme de Almeida…

“Bandeira da minha terra,
Bandeira das treze listas:
São treze lanças de guerra
Cercando o chão dos paulistas!”

depois foi até um bar provar mais alguns petiscos e experimentar outras marcas de cerveja brasileira… na mesa do bar ele se lembrou do olhar do velhinho ex-combatente, percebeu que o ancião era de uma geração de pessoas que tinham ideais, que tinham coisas mais interessantes para se preocupar do que ter uma barriga de tanquinho ou se o celular é um smartphone… percebeu que na comemoração que assitira pela manhã, só havia poucos velhinhos, ou seja a geração de seus avôs já estava quase extinta… Joe J. Ocker Junqueira se sentiu como um exilado, um exilado no tempo, um exilado que vivia no meio de uma geração mediocre, uma geração que bebia uísque com energético ouvindo dance, trance e hip-hop… mas percebeu também que não dava para lutar contra isto, mas já que era para viver em uma época injusta e absurda então ele deveria viver em uma cidade igualmente injusta e absurda…então ele refletiu olhou ao redor e percebeu que aquela seria a sua cidade daí por diante…

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