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{ Monthly Archives } janeiro 2005

Domingo é um bom dia para ouvir Jovem Guarda e boleros … Um dos meus boleros preferidos é “El Reloj” na voz de Lucho Gatica . O que me agrada é menos a melodia do que a letra , que possui certa profundidade filosófica , uma vez que versa sobre a possibilidade da inserção da eternidade em uma fração do tempo .

EL RELOJ ( Roberto Cantoral )

Reloj, no marques las horas

Porque voy a enloquecer

Ella se irá para siempre

Cuando amanezca otra vez

Nomás nos queda esta noche

Para vivir nuestro amor

Y su tic-tac me recuerda

Mi irremediable dolor.

Reloj deten tu camino

Porque mi vida se apaga

Ella es la estrella que alumbra mi ser

Yo sin su amor no soy nada.

Detén el tiempo en tus manos

Haz esta noche perpetua

Para que nunca se vaya de m’

Para que nunca amanezca.

Para que nunca amanezca…

MARIA OLIVIA PLURABELLE OUTRA VEZ

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Na onda da comemoração dos 400 anos de Dom Quixote , vi ( em DVD ) o “Dom Quixote” de Orson Welles . A película foi iniciada em 1955 no México (enquanto Sérgio Leone filmou seus faroestes na Espanha , Welles filmou uma parte da estória de Cervantes na terra de Montezuma ) e só foi montada depois da morte do diretor ( da mesma forma que “Tudo é Verdade” ) seguindo um roteiro previamente deixado. O enfant-terrible do cinema americano gostava de filmar os clássicos : “Othelo” e “Macbeth” de Shakespeare ,” o Processo” de Kafka … O gosto por filmar grandes obras da literatura devia ser uma tendência dos grandes de sua geração : John Huston filmou “O Falcão Maltês” de Dashiell Hasmmett , “Moby Dick” de Hermann Melville , “A Bíblia” , “À Sombra do Vulcão” de Malcom Lowry , “Os Vivos e os Mortos” de James Joyce …

Na obra de Welles , Dom Quixote e Sancho Pança estão interagindo com a Espanha do final da década de 50 ( o diretor afirmava que o cavaleiro andante já era anacrônico em 1605 , quando já existia a pólvora ) … Quixote tenta parar uma jovem que vem pilotando uma lambreta ( uma “besta” na nova linguagem ) dizento para o monstro ( máquina ) libertar a donzela … ela , desce do veículo , o enxota do caminho e segue viagem … e assim vai se passando a estória entremeada de trechos fiéis ao livro , até que os dois personagens se perdem e Sancho ( interpretado magistralmente por Akim Tamiroff ) tenta procurar pelo cavaleiro Andante na Festa de São Firmino e em uma Tourada ( estes trechos foram filmados na Espanha ) e fica perguntando para as pessoas se elas não viram um sujeito alto , magro e barbudo … No final eles se reeencontram e ao avistar uma máquina moderna Dom Quixote decide voltar para sua aldeia : qual era a máquina ??? O Avião ??? Uma Câmera Cinematográfica ??? O Computador ??? A Televisão ??? O Automóvel ??? O Foguete ??? Isto eu não conto para não perder a graça … Assistam : Um filme de Welles respira cinema , cada enquadramento , cada traveling , cada cena , se justifica por si só … Assistam !!!

P.S. : Este confronto entre Dom Quixote e a modernidade aparece também na música homônima cantada pelos Mutantes :

DOM QUIXOTE

(Arnaldo Baptista / Rita Lee)

A vida é um moinho

É um sonho o caminho

É do Sancho, o Quixote

Chupando chiclete

O Sancho tem chance

E a chance é o chicote

É o vento e a morte

Mascando o Quixote

Chicote no Sancho

Moinho sem vinho

Não corra me puxe

Meu vinho meu crush

Que triste caminho

Sem Sancho ou Quixote

Sua chance em chicote

Sua vida na morte

Vem devagar

Dia há de chegar

E a vida há de parar

Para o Sancho descer

E os jornais todos a anunciar

Dulcinéia que vai se casar

Vê, vê que tudo mudou

Vê, o comércio fechou

Vê e o menino morreu

E os jornais todos a anunciar

Armadura e espada a rifar

Dom Quixote cantar na TV

Vai cantar pra subir

EU PRECISAVA TANTO CONVERSAR COM DEUS

Remexendo em minhas coisas , achei esta poesia que escrevi entre 1984 e 1986 .

happyscórdia

cordas harmônicas

cordões de carnaval

orquestrações imensas

triste bocejo atonal

negros cisnes

a deslizar suavemente

em minhas agonizantes lágrimas

( de crocodilo )

Recentemente descobri uma poesia feita por meu pai , no site do extinto programa Musikaos , entitulada “Odeio Domingo” . Confira aqui.

A FEITICEIRA TRANQUILA DE BARRANQUILLA

Faleceu ontem um dos grandes artistas sul-americanos : Jesús-Rafael Soto , um venezuelano ( Ciudad Bolívar ) , que indignado com o fato das pessoas passarem pouco tempo apreciando um quadro ( em comparação com o tempo que passam em um concerto de música clássica ), começou a introduzir o TEMPO na apreciação de uma obra de arte , ou seja criou efeitos óticos que para serem percebidos , necessitam que o espectador se movimente enquanto observa uma série de elemantos simétricos , justapostos em cores diferentes , ou seja : ele fez MÁGICA !!!

Na semana passada o Instituto Rio Branco extinguiu o estudo do idioma de Shakespeare como matéria eliminatória para a formação de futuros membros do Itamaraty .

Já haviam feito o mesmo com o idioma de Victor Hugo, anos atrás … sem contar com o idioma de Cervantes que nunca foi obrigatório.

Pelo andar da carruagem , daqui a pouco , nossos ilustres diplomatas estarão agindo como o bandeirante Domingos Jorge Velho , que se comunicava apenas em nheengatu ( a língua falada no Brasil de então , um idioma criado pelos jesuítas que adaptaram o tupi às regras gramaticais do latim ) e em 1697 impressionou o bispo de Olinda por precisar de intérprete porque não sabia português .

O bom Bezerra da Silva

Deve pro céu ir embora

Mas como velho sambista

Não vai ascender agora