Citação do dia :
“Il y a de la place au soleil pour le tout le monde , surtout quand tout le monde veut rester à l’ombre.” (*)
(*) Há lugar ao Sol para todos , sobretudo quando todos querem ficar na sombra.
( Jules Renard )
Dica de site e blogs : O site Atitude Arquitetura da arquiteta e grande amiga Ana Paula Alípio e sua sócia , é bem interessante , com um olhar aguçado sobre o espaço a ser vivenciado … Com relação aos blogs tem o Dito Assim Parece à Toa do Jayme Serva , freqüentador do famoso Bar do Alberto ( o mesmo do blog Carne Crua ) e o Salón Comedor da Sílvia Curiati … ela eu não conheço , porém escreve muito bem …
O BROTINHO SIOUX DE ARARAQUARA
Se perguntarmos a algum jovem de Araraquara ( cidade do interior paulista ) sobre uma loira que costumava vestir-se de índia norte-americana , provavelmente ele não saberá informar nada, porém se indagarmos às pessoas que viveram lá na década de setenta ouviremos as mais variadas estórias , embora pouquíssimos saibam que Beatriz Tavares adotava o estilo “Brotinho Sioux” devido sua identificação com o filme Blue Soldier ( em Pindorama chama-se “Quando É Preciso Ser Homem” ), em que a personagem interpretada por Candice Bergen é uma deusa platinada que foi raptada pelos peles-vermelhas e passou a defender os valores dos índios … ela tenta retornar à civilização mas um novo ataque dos índios a deixa a sós com o único sobrevivente da sua guarda de escolta … aí começa o romance que termina tragicamente , com o soldado sendo preso por deserção olhando para aquela mulher em prantos em meio a aldeia devastada : o filme , embora se baseasse em um fato histórico ( O Massacre de Sand Creek ) era uma metáfora a guerra do Vietnã , aliás a TV nunca exibiu o filme na íntegra , pois as cenas do exercito americano massacrando a aldeia são muito contundentes…
Pois bem , no dia posterior em que assistira a fita na Sessão Coruja , Beatriz teve um estalo e resolveu “virar” Sioux ( embora dias depois enjoasse desta tribo e passasse a se designar Comanche , Delvare ou Navajo, jamais Apache , tribo que odiava , embora não soubesse dizer o porquê ).
Sete meses após aquela data em que começara a trajar roupas indígenas , a nossa amiga , vagueando pela cidade , notou um garoto estranho , com cerca de cinco anos que vestia o uniforme da cavalaria americana e conduzia um pastor alemão – “Meu Deus , ele acha que é o cabo Rusty e que aquele pobre cão é o Rin-tin-tin !!!” Pensou a nossa protagonista …
Voltou para casa apressada , mas ao olhar para os freqüentadores do bar da esquina , deparou com homem usando um boné de pele de castor que bebia cerveja com um outro vestido de índio : – “Já sei , Daniel Boone e seu amigo Mingo !!! Será que todos nesta cidade resolveram me imitar ???” raciocinou atônita …
No dia seguinte mais personagens da televisão : um menino vestido de Willie Robson ( Perdidos no Espaço ) , uma loira oxigenada de odalisca ( Jeanny É Um Gênio ) , um emboaba se achando o Dr. Spock ( Jornada nas Estrelas ) , um bóia-fria com um macacão vermelho com o nome escrito sobre o lado esquerdo do peito : Kobawski ( Vinte Mil Léguas Submarinas ) , além daquele garotinho vestido de Cabo Rusty que chorava , pois alguém fantasiado de vigilante rodoviário roubara seu pastor alemão …
Beatriz Tavares não titubeou : pegou seu Maverick amarelo e seguiu para Jaú em alta velocidade … na metade do caminho naquela encruzilhada em que , para à esquerda você vai para Trabiju e para a direita segue para Boa Esperança do Sul , deparou com moço bem aparentado vestindo uma roupa feita em tecido metálico que a todo instante mudava de cor : azulado , arroxeado , avermelhado , alaranjado , amarelado , esverdeado … O estranho pedia carona sentado a beira do caminho … ela parou …
– Ainda bem que você não passou direto , você não está totalmente perdida , uma vez que está idiotizada pelos personagens do cinema e não pelos da televisão … Vou apresentar-me : sou Exlvz Evhgxw , cidadão de Calipso , um planeta distante … Sou um desertor … Vim com os discos voadores , aqueles terríveis objetos não identificados que percorrem os céus do seu país … Você não imagina , mas observando o seu comportamento , o nosso comandante teve a idéia de controlar Araraquara , enviando vibrações eletro-magnéticas que penetrasem na retina das pessoas , se alojando no campo infra-ótico do insconsciente e fazendo-as se comportarem como seus astros prediletos dos seriados da televisão … após o instante em que todos passarem a se vestir e se comportar como os personagens televisivos , nossas naves irão alterar os seriados da TV , através de edição virtual em modo de transmissão semelhante ao via satélite , de forma que todos cidadão araraquarenses serão tele-controlados …
– Você está louco ??? Por que é que os habitantes do planeta Calipso iriam querer controlar Araraquara ???
– Isto será só o começo , depois de Araraquara , será Dourado , São Carlos , Americana , Campinas , Jundiaí , São Paulo , Rio de Janeiro , Buenos Aires , Caracas , Cidade do México , Nova Iorque , Londres , Paris , Berlim , Moscou , Pequim e muitas outras cidades …
– Está bem me , você me convenceu , o que é que precisamos fazer para impedir esta loucura …
– Precisamos colocar um bloqueador especular na grutinha localizada na praça de Trabiju , você jamais imaginaria , mas aquele local tem a configuração geométrica precisa para o bom funcionamento deste aparelho , que fará com que as pessoas parem de imitar seus queridinhos da TV , isto será suficiente para que o nosso comandante pense que é muito complicado conquistar a Terra , e decida partir para dominar outro planetas … pelo que se pode ver , a impaciência e a ansiedade não são atributos somente terráqueos …
Ao contrário do filme , onde o desertor fracassa , na vida real Exlvz Evhgxw conseguiu deter o avanço das naves de um General Custer sideral e salvar Araraquara , Trabiju , Boa Esperança do Sul e todo o resto do planeta da tão temida invasão interplanetária … hoje vive com Beatriz Tavares em uma aldeia no Xingu , só que entre índios de verdade …
Hoje tomando uma cerveja com o pintor Fábio Casarini , ouvi um excelente conselho sobre o minha mania de criticar outros artistas ( afinal fazer arte em Pindorama por si só , já é um ato heróico ) … realmente o “Velho-das-figas” tem toda razão : não devemos ficar maldizendo nossos colegas artistas … na verdade eu já pensava da mesma maneira ( basta ver a citação de ontem do romano Ausônio ) , embora ainda não tivesse percebido …
AUTO-RETRATO OLHANDO O MAR RESPLANDESCENTE SOB O LUAR EM PUERTO MONT
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