Citação do dia :
“Sorria sempre ao acordar. Livre-se logo dessa obrigação.’
(W. C. Fields )
Citação do dia
PROPHETIA
“Sanctificados annos alumiados
aqui e alli homens e animaes extranho
signal vindo do céo offerecendo aas
columnas da afflicção deante do
propheta que apparecerá entre estrellas
em fórma de allianças e abysmos
dos captiveiros supplicados por
matal-os no valle cahido delles mesmos
supportado mez a mez por paes e mães fructos
de costellas que alguem poz em
recta harmonia comvosco e comnosco
ainda nelles a bocca se attenta o
bastante deante do extrangeiro que
ha de crear um logar para se viver.”
( Eduardo Miranda )
Citação do dia :
“Vai principiar.
Eu digo aos amigos: Tenham confiança em mim! Tenham confiança em mim, porque eu já tenho confiança em mim!
Mas, pensando melhor, eu devia dizer-lhes: Amigos! não tenham confiança em mim, porque eu já tenho confiança em mim. Criais vós também confiança em vós.”
( Almada Negreiros )
Dia trinta e um do mês passado publiquei um poema do Carlos Drummond de Andrade em homenagem aos 100 anos de seu nascimento . Hoje a homenagem é a um outro poeta que cometeu suicídio há exatos trinta anos : Torquato Neto .
Piauiense , ele era um grande admirador do poeta mineiro , tanto é que chegava a segui-lo pelas ruas do Rio de Janeiro .
Algumas de suas principais obras contêem citações de Drummond , como a letra da canção “Let’s Play That” ( musicada por Jards Macalé ):
“quando nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando aminha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
let’s play that”
( Torquato Neto )
que é um homenagem a primeira estrofe do “Poema de sete faces” :
“Quando nasci um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: “Vai, Carlos! ser gauche na vida.”
( Carlos Drummonde de Andrade )
outra obra do poeta de Teresina em que vemos a influência do poeta de Itabira é “Marcha a Revisão” ( publicada em forma reduzida no jornal Última Hora em 08/10/1971 )que traz a perplexidade com o labirinto semântico descoberto por Drummund em “Procura de poesia” :
“Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.”
( Carlos Drummonde de Andrade )
“MARCHA À REVISÃO
1- SUGESTA
Quando eu a recito ou quando eu a escrevo, uma palavra – um mundo poluído – explode comigo & logo os estilhaços desse corpo arrebentado, retalhado em lascas de corte & fogo & morte (como napalm), espalham imprevisíveis significados ao redor de mim: Informação. Informação: há palavras que estão no dicionário & outras que eu posso inverter, inventar. Todas elas juntas & à minha disposição, aparentemente limpas, estão imundas & transformaram-se, tanto tempo num amontoado de ciladas. Uma palavra é mais que uma palavra, além de uma cilada. Elas estão no mundo como está o mundo & portanto as palavras explodem bombardeadas. Agora não se fala nada, um som é um gesto, cuidado. Vida toda Linguagem, cf. Mário Faustino que era daqui & um dos maiores & quem quiser consulte. No princípio era o Verbo, existimos a partir da Linguagem, saca? Linguagem em crise igual a cultura e/ou civilização em crise – e não o reflexo da derrocada. O apocalipse, aqui, será apenas uma espécie de caos no interior tenebroso da semântica.Salve-se quem puder.
(& no entanto é preciso & até que já faz muito tempo & esse tempo todo não se conta com palavras iguais a números & o tempo passa & as palavras crescem bombardeadas de significados novos & diferentes & há o hospício da sintaxe como um receio & os dias passam & crescem mais garras & o câncer dos metais em brasa ao final da segunda fornada & eu sei que é muito difícil resistir mas é preciso & além de ser preciso é perigoso & é divino & maravilhoso).
2- COLAGEM
A Escola Superior de Guerra (“Sorbonne”’para os íntimos: a tradição culturalista em linha reta), aceita & emprega a realidade – a divisão do mundo em duas áreas opostas, antagônicas , de interesses conflitantes permanentemente em choque – e nos assegura a participação efetiva em uma dessas frentes de combate chamada (por causa dos pontos cardeis) de Ocidental. Mas eu estou lidando com palavras & digo que assim também se dá com elas , quando as executamos: uma sintaxe de guerra fria contemporiza, adia a decisão de um conflito que já existe desde a linha divisória do gramado (pastai meninos!); contemporiza, adia mas não exclui e pelo contrário – a possibilidade de um confronto decisivo, final. Um mundo – uma palavra – é um conceito dividido. É preciso cuidado & não dá mais pé porque o bolo está podre & atomizado & depois da tempestade já não temos mais tempo de levantar a questão de uma nova Torre de Babel sintática: ela já explodiu sua possibilidade, seus alicerces, suas palavras. As palavras inutilizadas são armas mortas (a linguagem de ontem impõe a ordem de hoje). A imagem de um cogumelo atômico informa por inteiro o seu próprio significado, suas ruínas: as palavras arrebentadas, os becos, as ciladas, etc, etc, ad infinitum.
3 – P.S.
Quanto a mim é isso e aquilo: não estou nada tranqüilo mas estou muito tranqüilo & penseiro esperando o trem via Intelsat. Marco um compasso & passo a limpo: o escuro é límpido sob o sol do meio-dia. Fumando espero enquanto esse lobo não vem: escrevo, leio, rasgo, toco fogo & vou ao cinema. Informação? Cuidado, amigo. Cuidado contigo, comigo. Imprevisíveis significados. Partir para outra, partindo sempre. Uma palavra: Deus & o Diabo.”
( Torquato Neto )
Contudo seria muito simplista reduzir a obra de Torquato Neto apenas as influências de Drummond. Foi talvez o tropicalista mais culto ( era o que conhecia mais profundamente a obras dos modernistas ) , tanto que uma das citações suas prediletas ( inserida na letra de “Geléia Geral” ) é frase “alegria é a prova dos nove” de Oswald de Andrade.
Foi também jornalista e ator do curta-metragem “Nosferatu no Brasil”de Ivan Cardoso e dirigiu outro curta intitulado “O Terror da Vermelha”.
É engraçado que apesar de seu nome ser desconhecido pela juventude , quase todo mundo sabe de cor a letra de “Go Back” que os Titãs musicaram naquela onda que fizeram nos vinte anos de sua morte , em 1982 , quando foi relançado seu livro “Os últimos dias de paupérria” e sairam artigos na imprensa .
Neste domingo não vi nada no Estado, na Folha de São Paulo, no O Globo ou no Jornal do Brasil … é gozado , os cem anos do nascimento de Guilherme de Almeida também não mereceram destaque na impensa que prefere noticiar dança , sociologia e grupos de rock que ninguém conhece em seus cadernos culturais. Que pena.