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O CÃO E O FRASCO

“- Meu belo cão , meu cãozinho , meu querido totó , vem cá , vem respirar um excelente perfume comprado no melhor perfumista da cidade .

E o cão , agitando a cauda , o que é , suponho , entre esses pobres seres , o sinal correspondente ao riso e ao sorriso , aproxima-se e , curioso , mete o nariz úmido no frasco destampado ; porém subitamente , recuando de susto , late contra mim , à feição de reprimenda .

– Ah , miserável cão ! Se eu te houvesse oferecido um embrulho de excremento , decerto o cheirarias com delícia e talvez o tivesses devorado . Assim , ó indigno companheiro de minha triste vida , tu te assemelhas ao público , a quem nunca se devem apresentar perfumes delicados , que o exasperam , mas imundíces cuidadosamente escolhidas .”

( Charles Baudelaire – Tradução Aurélio Buarque de Holanda Ferreira )

Muitos podem considerar este pequeno poema em prosa , publicado em 1869 , reacionário ou elitista … Muitos poderão dizer que é coisa de dândi , ou de artistinha metido à vangarda … Porém creio que o velho poeta francês ainda tem razão , uma vez que bastou abrirem o Carandiru para a visitação que milhares de pessoas ( até de outros estados ) correram para ver … ver o quê ??? Sei lá … Poderiam ter ido à exposição de gravuras do Rembrant ( é de longe a melhor coisa exposta na paulicéia ) , ou ter ido para um parque , ou rezar no Mosteiro de São Bento ( aliás ao sair de lá você se depara com um lindo painel concretista pintado pelo Maurício Nogueira Lima ) , ou se quisessem fazer algo não gratuito , ir ver uma luta de boxe , cinema , show , teatro , circo , etc …

Mas não …o povo adora o baixo astral … a energia pesada … Se eu quisesse fazer carreira política , iria me eleger com a maior facilidade : iria propor a construção do “Museu da Desgraça” do “Museu da Descrença” e do “Museu da Desesperança” .

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