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{ Monthly Archives } agosto 2002

Uma das poesias de William Blake que mais admiro é A Poison Tree ( Uma árvore Venenosa , ou Uma Árvore de Veneno ) . Como todos vocês devem saber , ele também era um excelente gravurista e ilustrava seus poemas e escritos de forma sublime . Amanhã publicarei uma releitura da ilustração que ele fez para a supracitada poesia . Vejam a gravura original clicando aqui.

A versão em lingua lusitana foi obtida no site do Benjamin Britten .

A Poison Tree

I was angry with my friend:

I told my wrath, my wrath did end.

I was angry with my foe:

I told it not, my wrath did grow.

And I water’d it in fears,

Night and morning with my tears;

And I sunned it with smiles,

And with soft deceitful wiles.

And it grew both day and night,

Till it bore an apple bright,

And my foe beheld it shine,

And he knew that it was mine.

And into my garden stole

When the night had veil’d the pole,

In the morning glad I see

My foe outstretch’d beneath the tree. (*)

( William Blake )

(*) Uma árvore de veneno

Eu zanguei-me com o meu amigo:

Eu soltei a minha cólera, a minha cólera acabou.

Eu zanguei-me com o meu inimigo:

Eu não a soltei, a minha cólera aumentou.

E eu banhei-a em receios,

Noite e dia com as minhas lágrimas;

E iluminei-a com sorrisos,

E com suaves astúcias enganosas.

E ela cresceu dia e noite,

Até que uma maçã brilhante suportou,

E o meu inimigo o seu brilho contemplou,

Mas ele sabia que ela era minha.

E saltando dentro do meu jardim roubou,

Quando pela noite o tronco escondido ficou,

E de manhã eu vejo, divertido,

O meu inimigo, debaixo da árvore, estendido.

( Tradução : Maria de Nazaré Fonseca )

O ANJO GUARDIÃO ( desenho realizado em 1992 – caneta hidrográfica sobre papel )

Citação do dia :

estabelecer conexões o mais ime-

diatamente possível com o mais

próximo ou bem você está osten-

tando sua careta usufruindo os

privilégios da morte ou bem você

está se esgueirando entre os mau-

soléus correndo sempre o risco de

resvalar na trincheira das covas se

eles constroém a parede sua mis-

são é infiltrar-se pelas ranhuras

com a instintiva incautela de um

réptil que estivesse sempre no no-

vo.

( Rogério Duarte )

Estudo para o painel que eu fiz para a residência da família Villares .

Dica de blog : É o Stripped , que mostra um erotismo cult , realizado por uma ex-strip girl , que cansada do batente nova-iorquino resolveu regressar para Pindorama país do futuro e relatar sua maneira de observar o mundo …

Dica de livro : Música de Câmara ( Chamber Music ) de James Joyce . Só o episódio de como este título foi escolhido já vale , vejam como Chester G. Anderson narra o episódio : “Joyce e Gogarty levaram o manuscrito – um poema em cada folha de papel pergaminho – para ser lido a uma viúva alegre chamada Jenny . Além disso levaram algumas garrafas de cerveja Guinness , e isso logo fez com que a viúva usasse seu penico ( chamber pot ) , por trás de um biombo . Enquanto a ouviam urinar , Gogarty saudou-a como crítica , e Joyce aplaudiu-lhe a escolha do título , com certeza consciente de que muitos dos poemas eram passíveis de interpretações relacionadas não apenas a qualidade musical , mas também a sua imagística de micção , de fornicação ( chambering ) e de falsa lascívia do onanismo . Eram como ele disse em Finnegans Wake , ‘shamebred music’ “.

VENHA PRA SÃO PAULO VER O QUE É BOM PRA TOSSE

Citação do dia : “Presque tous les hommes sont esclaves par le raison que les spartiates donnaient de la servitude des Perses , faute de savoir prononcer le syllabe non . Savoir prononcer ce mot e savoir vivre seul sont les deux seuls moyens de conserver sa liberté et son caractére”(*)

(*) Quase todos os homens são escravos pela razão que os espartanos davam para a seridão dos persas , a incapacidade de pronunciar a palavra não . Saber pronunciar essa palavra e saber viver sozinho são os dois únicos meios de se conservar a liberdade e o caráter .

( Chamfort )

Citação do dia :

“As barcas afundadas . Cintilantes

Sob o rio . E é assim o poema . Cintilante

E obscura barca ardendo sob as águas .

Palavras eu as fiz nascer

Dentro da tua garganta .

Úmidas algumas , de transparente raiz :

Um molhado de línguas e de dentes .

Outras de geometria . Finas , angulosas

Como são as tuas

Quando falam de poetas , de poesia .

As barcas afundadas , minhas palavras .

Mas poderão arder luas de eternidade .

E doutas , de ironia as tuas

Só através da minha vida vão viver .

( Hilda Hilst )

UMA MULHER CHAMADA LEONORA

Naquela escaldantemente calorenta manhã de dezembro , Jacinto Pirilo acordou sobressaltado : bebera uma jarra de manhatan e não se lembrara de nada do que conversara com Leonora Dora León , sua nova namoradinha . A mania de beber coquetéis em jarras ( ao invés do diversos copos e taças propícios para tal fim ) era talvez uma forma de resgatar a sensação de infância de tomar jarras de limonadas e laranjadas … Aliás desde que tivera uma visão transcendental ao rodar um antigo pião , nosso protagonista passou a ter obsessão por tudo que recordasse os seus tempos de criança …

O telefone chorou e chorou novamente … Era ela … marcaram um encontro para as seis da tarde na Ladeira da Memória … Por que lá ? Vai saber …

Depois de ter tomado seu chá com rodelas de limão siciliano , Jacinto Pirillo passou a escrever um artigo sobre as traduções do poema “O Corvo” de Edgar Allan Poe , no qual primeiramente discorria sobre a beleza da original … gostava partircularmente do início da segunda estrofe : “Ah , distinctly I remember it was the bleak December, / And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor” . Comparava depois , os diversos tradutores em lingua portuguesa do famoso poema : Machado de Assis , Emílio de Meneses , Fernando Pessoa , Godin da Fonseca , Benedito Lopes , Alexei Bueno , etc , para chegar a conclusão que a melhor versão foi a de um jornalista de Belo Horizonte chamado Milton Amado …o iníco de sétima estrofe era uma preciosidade : “Abro a janela e eis que , em tumulto , a esvoaçar , penetra um vulto / – é um Corvo hierático e soberbo , egresso de eras ancestrais .”

Findo o artigo , ele reparou que a primeira palavra do poema era Once ( de : Once upon a midnight dreary ) a mesma usada para denominar o bairro portenho de onde viera sua namorada : o bairro Once , a região de Buenos Aires situada entre os bairros de Retiro e Palemo … A estranha coincidência deixou-o sobressaltado …

Almoçou fartamente e depois dormiu . A tarde se dirigiu para o Centro … Ao chegar sob o crepúsculo tropical no local combinado , viu Leonora Dora Léon se aproximar … do meio da enorme população de pombos que infestam a região central de São Paulo , surgiu um corvo que sobrevoou o ombro direito da beldade platina … ela trazia um CD do grupo de jovem guarda “The Ravens” que tinha uma versão em inglês da musica “Nunca Mais” ( Evaldo Braga / Cézão ) .

Citação do dia :

“dizer não

tantas vezes

até formar um nome”

( Alice Ruiz )