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NARRATIVAS INQUIETAS – Joseph Conrad – Editora Perspectiva – Tradução: Alcebiades Diniz Miguel

Este livro apresenta duas faces menos conhecidas de Conrad: contista e dramaturgo.

Vamos começar pela última, Joseph Conrad dramaturgo… na verdade o escritor nunca escreveu diretamente para o teatro… o que fez foram adaptações de seus contos para as artes cênicas… neste volume temos dois exemplos: “Anne Gargalhada” e “Mais Um Dia”, a última uma transcrição do conto “Amanhã” presente na mesma edição… é muito interessante ler o conto – que é uma visão alternativa da estória bíblica do filho pródigo – e sua adapatação para o teatro depois.

Com relação ao Joseph Conrad contista, temos que observar que ao contrário de contistas famosos com Poe, Borges ou Cortázar que fazem contos curtos  com um climax  que vai se amenizando, os contos de Conrad são longos a tensões vão se desenvolvendo ao longo da narrativa.

Uma das faces de Conrad que mais aprecio é a sua visão geopolítica, … Neste aspecto “Il Conde: Uma Narrativa Patética”, “Um Anarquista: Um Conto de Desespero”, e “Karain – Reminiscências” são exemplares… o primeiro profetizando o surgimento da máfia, o segundo mostrando o trabalho escravo na Guiana Francesa e os movimentos anarquistas franceses, e o terceiro explorando as contradições entre a cultura do colonizador e loucura dos povos primivos, e por falar em loucura, esta permeia outros dois contos: “Os Idiotas” e “Amanhã”…

Porém na minha humilde opinião “O Retorno” é o ponto máximo do livro… aqui nada de mares, rios e florestas tropicais conradianas, aqui o conto se passa em uma residência londrina e o enredo é uma simples briga de casal… nada de ação… aqui o crescimento da tensão narrativa é estruturado por uma sucessão de silêncios e ruídos, de claros e escuros, de rostos mutiplicados por espelhos, enfim, cinema na forma de literatura… e tanto assim que foi adaptado para a grande arte no filme Gabrielle de Patrice Chéreau… Agora, nesta questão de rostos mutiplicados por espelhos, fico pensando… será que este aspecto do conto não influenciou aquele pequeno pedaço do capítulo 12 do Ulisses de James Joyce, onde o enlutado jovem senhor Dignam para ao observer um cartaz de boxe em uma vitrine onde “dos espelhos dois jovens senhores Dignam de luto observavam silenciosamente embasbacados…”? Ou voltando a falar de cinema: será que este truque de imagens refletidas em espelhos presente neste conto de Conrad, não influenciou a cena final do filme “A Dama de Shangai” de Orson Welles?  

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