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UMA VISITA AO HARRY’S BAR

Um dos sonhos de todo o freqüentador de bar que conhece do assunto é um dia tomar um dry-martini no Harry’s Bar de Veneza, um dos lugares mais clássicos do planeta, lugar freqüentado por Orson Welles, Hemingway, Maria Callas, John Huston, etc…
Pois bem, fomos lá… a seguir meu relato… o da minha fiel escudeira virá logo a seguir:
É um lugar pequeno, que talvez por seu caráter mitológico faz com que ninguém se sinta descontraído… todos se observam… parece um bar frequentado por espiões de várias potências, (tal qual Lisboa na Segunda Guerra)…
Inicialmente não gostei de que os guardanapos de papel não tivessem o timbre do Harry’s Bar, pois planejava escrever neles mensagens aos meu amigos, para depois colocá-los em envelopes e mandar via correio…
Minha fiel escudeira pediu um Bellini, já eu fui do tradicional dry-martini… quando chegou à mesa a segunda decepção… ao invés da taça com a azeitona, veio em um copo cilíndrico com cerca de seis centímetros de diâmetro por oito de altura e que é o pior: sem azeitona… mas estava uma delícia e como o tira-gosto era uma porção de azeitonas deu para saboreá-las enquanto bebericava a preciosa iguaria sem prejuízo no paladar… depois descobri que aquele dry-martini era no estilo Hemingway (ver o relato da minha fiel escudeira)
Considero-me uma pessoa bastante flexível que transita dos botecos e restaurantes mais simples aos mais requintados, das feijoadas nas quebradas da Estrada do M’Boi Mirim aos pratos de alta gastronomia nos restaurantes requintados no Vale do Loire… Avaliação: Não é um bar onde há alegria e descontração… talvez os lugares que eu julgava que eram chiques não fossem realmente chiques e em ambientes assim todos tem que parecer engessados e sem vida… ou talvez isto seja apenas um sintoma da pós-modernidade…

a seguir o depoimento da minha fiel escudeira…

Como é sabido, estamos em Veneza.
Hoje a tardinha, voltando de um passeio por Murano e pelo Lido descemos do vaporetto na Piazza San Marco e decidimos com um certo temor, tomar um drinque no mítico Harry’s Bar.
O bar é totalmente fechado, da rua não se vê absolutamente nada de seu interior, o que aumentou mais ainda nossa curiosidade e tensão.
Respiramos fundo e abrimos a porta. (pensei no melhor estilo espanhol: “que venga el toro pero que venga em bifes”).
Primeira impressão: lugar pequeno, cheio, nada de mais.
Pedimos uma “tavola per due, per favore”. Nos acomodaram numa mesa e o garçom nos entregou o pequeno cardápio. Sem olhar o tal cardápio, de cara, pedimos os clássicos do local: Belinni e Dry Martini. Rapidamente chegaram os drinques preparados perfeitamente.
Começamos então a observar mais atentamente o local e seus convivas.
Pessoal pouco a vontade, sem intimidade com o local, pouca espontaneidade e muitas caras e bocas.
Segunda impressão: lugar de ver e ser visto.
Gente chegando sem parar, atrás de nós uma mesa com cinco italianos. Um com cara de veneziano e os outros parecendo ser sicilianos (meda!) Todos com expressão de pouquíssimos amigos. Nas outras mesas haviam casais bem vestidos, outros nem tanto, gente moderna e chineses, claro!
E mais gente chegando, pessoas elegantes, pessoas vindo das compras com suas sacolas Louis Vuitton e Balenciaga. Gente mais jovem, se cumprimentando com um certo entusiasmo, mas tudo meio ensaiado.
De repente sentimos o bar parar. Silêncio. Adentra ao local uma senhora de uns setenta anos linda, super elegante e com cara de diva de cinema do naipe de Catherine Deneuve. Com ela dois senhores ingleses igualmente elegantes com seus blazers do mais refinado tweed e uma senhora mais velha também inglesa.
Comentamos: Esses ingleses fazem parte da roda de pôquer da rainha, certeza….
Eles mal chegaram e o gerente apareceu para fazer as honras da casa.
O bar estava cheio e não havia mesa para quatro pessoas disponível.
E o bar continuou parado, todo o mundo olhando para a trupe que acabara de chegar.
Enquanto isso na mesa dos cinco italianos com caras de poucos amigos, ouvimos uma voz de comando. Todos se levantaram, o mais velho se dirigiu a um dos ingleses e disse que seria uma honra oferecer sua mesa para eles. Os italianos pagaram a conta e se mandaram.
Em poucos segundos rearranjaram a mesa, colocaram toalha, taças, talheres, guardanapos de pano, etc. e tal. Tudo diferente das outras mesas. E a trupe da senhora diva e os ingleses se instalaram.
Veio o gerente e perguntou em inglês: “o que vocês gostariam de beber?”
A senhora diva respondeu: “Actually, I ‘ve been drinking just sparkling water.”
O gerente sugeriu: “ We make a really good Martini”… pausa…. “Hemingway style, of course”
Bom, daí para frente o bar voltou a respirar e nós também.
Não sabemos quem eram essas pessoas que conseguiram parar o Harry’s.
Com certeza são pessoas especiais.
Terceira e última impressão: lugar de gente importante e aspirantes , drinque bem feitos, onde a maioria não se sente a vontade. No tempo do Hemingway com certeza era bem mais divertido!

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