Hoje faz quarenta anos da partida de Torquato Neto… há trinta anos, quando entrei na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, houve uma homenagem aos dez anos da morte de Torquato com exposição de poemas e um show com Jards Macalé, Jorge Mautner e muitos outros… na época o meu grande amigo Milton Carlos Silvério escreveu a giz na parede da faculdade (entrada do estúdio 2) este poema (em prosa) de Torquato:
PESSOAL INTRANSFERÍVEL
escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. é o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela. nada no bolso e nas mãos. sabendo: perigoso, divino, maravilhoso. poetar é simples, como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena etc. difícil é não correr com os versos debaixo do braço. difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. difícil, pra quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes. e sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias, “herdeiro” da poesia dos que levaram a coisa até o fim e continuam levando, graças a Deus. e fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. citação: leve um homem e um boi ao matadouro. o que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi. adeusão.
(Torquato Neto)
Post a Comment