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ACONTECEU NAQUELE BAR

Ele poderia ter escolhido outro caminho , mas resolveu passar em frente ao antigo bar que freqüentava na época da faculdade … fazia muito tempo que não voltava… parou o carro , e resolveu andar algumas quadras a pé , só para passar lá e verificar como estava …
O bar continuava o mesmo , as grades que delimitavam o bar ainda eram as mesmas : pedaços de dormentes fincados no piso sustentando correntes … lá dentro também pouca coisa mudara , talvez a cor das paredes fosse outra , mas ainda estavam aquelas mesas e cadeiras metálicas com os logotipos das indústrias de cerveja … esta , por sinal deveria estar morna ( como sempre fora ) mas com pedaços de gelo grudados do lado de fora ( para das a impressão que estava “trincando de gelo” ) … também ainda devia ter X-Trambique ( um delicioso sanduíche a base de pão francês , copa , cebola crua e queijo prato derretido ) ou a tradicional calabresa frita no álcool …
Ele reparou porém que os garçons mudaram , não havia mais o Oscar o garçon principal , um maluco que depois tornou-se escritor , nem o Etivíldio com seu cabelo Jackson Five …
Mas para ele a única coisa diferente mesmo que estava vendo , era a ausência de uma turma de frequëntadores , de cinco pessoas que iam religiosamente lá na hora do almoço discutir os rumos da arquitetura e das artes no brasil : ele mesmo e seus quatro amigos : Sávio Cacciaccinni, Fúlvio Dicaravaggio, Sancho Ruiz Maldini e Hildon Risério ( os dois primeiros pintores, os dois últimos escultores ) …
Começou a lembrar das discussões exaltadas , de como eles pretendiam revolucionar as artes , de como tinha absoluta certeza de que todos eles iriam entrar para a história e que aquele bar seria conhecido como o local em que aqueles gênios freqüentavam , que aquela esquina viraria ponto de afluxo de ônibus de turismo … Porém nada daquilo acontecera , os amigos viraram profissionais liberais ( arquiteto , publicitário ou chefes-de-cozinha ) e ele trabalhava na mediocridade do funcionalismo público …
“ – Onde foi que erramos” era o ele que perguntava a si mesmo estarrecido … resolveu entrar e pedir uma cerveja preta , e ficou pensando , e quanto mais ele pensava mais indignado ficava “- Por que nós nunca fizemos sucesso ? Nós que éramos os Donos da Arte no Brasil , Por que fracassamos ?”
Pediu outra cerveja e naquele intervalo de tempo em que alguém espera o garçon trazer o pedido , ele teve um estalo : se lembrou das teorias de Arthur Schopenhauer e percebeu que na verdade as pessoas são aquilo que elas querem ser … ou seja : aquelas reuniões eram preparatórias para que todos fossem o que são , pessoas comuns vivendo uma vida decente com as suas famílias , o “Homem Comum Enfim” que James Joyce tanto preconizou … então ele percebeu o sentido de tudo aquilo e deu uma enorme gargalhada !!!

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