A citação do dia foi uma sugestão de meu amigo Sillas, vejam só :
ORAÇÃO ANTE A ÚLTIMA TRINCHEIRA
Agora é o silêncio.
É o silêncio que faz a última chamada:
É o silêncio que responde:
– Presente!
Depois será a grande asa tutelar de São Paulo,
_ asa que é dia e noite e sangue e estrela e mapa _
descendo, petrificada, sob um sono que é vigília.
E aqui ficareis, Heróis-Mátires, plantados firmes,
para sempre, neste santificado torrão de chão paulista.
Para receber-vos, feriu-se ele da máxima
de entre as únicas feridas, na terra,
que nunca se cicatrizam,
porque delas uma imensa coisa emerge
e impõe-se que as eterniza.
Só para o alicerce, a lavra, a sepultura e a trincheira
se tem o direito de ferir a terra.
E, mais legítima que o alicerce,
que se eterniza na casa, a dar teto para o amor,
a família, a honra, a paz;
Mais legítima que a ferida da lavra,
que se eterniza na árvore,
a dar lenho para o leito, a mesa, o cabo da enxada,
a coronha do fuzil;
Mais legítima que a ferida da sepultura que se eterniza no mármore
a dar imagem para a saudade, o consolo,
a bênção, a inspiração;
Mais legítima que essas feridas
é a ferida da trincheira,
que se eterniza na Pátria,
a dar pura razão de ser da casa,
da árvore e do mármore.
Este cavado trapo da terra,
corpo místico de São Paulo
em que hora existis consubstanciados,
mais que corte de alicerce,
sulco de lavra, cova de sepultura,
é rasgão de trincheira.
E esta, perene, que povoais,
é a nossa última trincheira.
Esta é a trincheira que não se rendeu
a que deu à terra o seu suor,
a que deu à terra a sua lágrima,
a que deu à terra o seu sangue !
Esta é a trincheira que não se rendeu,
a que é nossa bandeira gravada no chão,
pelo branco do nosso Ideal,
pelo negro do nosso Luto,
pelo vermelho do nosso Coração.
Esta é a trincheira que não se rendeu,
a que, atenta, nos vigia,
a que, invicta, nos defende,
a que, eterna, nos glorifica !
Esta é a trincheira que não se rendeu,
a que não transigiu,
a que não esqueceu, a que não perdoou !
Esta é a trincheira que não se rendeu:
Aqui a vossa presença, que é relíquia,
transfigura e consagra no altar
para o vôo, até Deus, de nossa fé.
E, pois, ante este altar, alma de joelho,
a vós rogamos:
_ Soldados Santos de 32,
sem armas em vossos ombros, velai por nós !;
sem balas na cartucheira, velai por nós!;
sem pão em vosso bornal, velai por nós!;
sem água em vosso cantil, velai por nós!;
sem galões de ouro no braço, velai por nós!;
sem medalha sobre o cáqui, velai por nós!;
sem mancha no pensamento, velai por nós!;
sem medo no coração, velai por nós!;
sem sangue já pelas veias, velai por nós!;
sem lágrimas ainda nos olhos, velai por nós!;
sem sopro mais entre os lábios, velai por nós!;
sem nada a não ser vós mesmo, velai por nós!;
sem nada senão São Paulo, velai por nós!
( Guilherme de Almeida )
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