Estou lendo “Mamíferos” ( Companhia das Letras ) , o quarto romance escrito por Pierre Mérot , em que um personagem denominado “o tio” perambula de emprego em emprego enquanto enche a cara nos botequins parisienses . Nesta obra o autor discorre sobre a sexualidade, o consumo, o comunismo , a arte conceitual , entre outras coisas . Aqui vão alguns fragmentos :
“O que é uma editora? Em O Pêndulo de Foucault você encontra uma definição interessante: a atividade essencial de uma editora consiste em extraviar manuscritos. O tio, que teve a honra de exercer este cargo antes de ser demitido, está cem por cento de acordo com Umberto Eco. Essa definição merece ser completada, porém: além de extraviá-los, uma editora sente-se no dever de empilhá-los sem nunca lê-los. Também é uma espécie de teatro em que os oficiais de justiça entram por uma porta enquanto o dono sai pela outra.”
“Visto de certa altura, o bulevard periférico, que circunda Paris, vira uma coisa interessante. À noite tem faróis vermelhos num sentido, e no outro, faróis brancos. Os faróis vermelhos são os parisienses, os faróis brancos os moradores dos subúrbios. De manhã é o contrário. O extraterrestre que nos observar demoradamente constatará que somos uma espécie dotada de inteligência. À noite um bando alegre de trabalhadores volta para casa. Assobiam como em Branca de Neve e os sete anões De uma torre, avistam-se outra torres. Que lindo.
(…)A torre em que o tio trabalha é inteiramente composta de escritórios. Tem um nome bonito: chama-se Siamesa 1. E uma irmã bem ao lado: Siamesa 2. Tem um refeitório superpovoado num subsolo. Os neons são violentos. Os burocratas tem sorrisos artificiais. Os batons parecem feridas. As peles são macielentas. Até parece um abrigo atômico. De fato, o trabalho é uma catástrofe maior. A arquitetura é uma arte magnífica, social, cheia de esperança. Tem a ver diretamente com a vida cotidiana dos homens. No comum das vezes está na mão de assassinos.”
“O que é um bar noturno? Ou mais precisamente: o que é um bar noturno de bairro? É um estabelecimento que você freqüenta porque está mal e onde você percebe que os outros estão pior. Então você se sente particularmente bem por lá. É um hospital cheio de gente recebendo transfusões de alegria, um zoológico demasiado humano.”
( Pierre Mérot – tradução : Eduardo Brandão )
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