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Li este final de semana um texto de Jorge Luís Borges ( que ficou de fora das Obras Completas ) chamado “O Querer Ser Outro” . O escrito fala sobre um sujeito , chamado B que quer ser outro sujeito denominado N. Mas isto é impossível pois se B chegasse a se tornar N nenhum dos dois perceberia , pois nada restaria de B no momento em que ele incorporasse N .
Mas há uma solução : se considerarmos que :
“… uma pessoa não é outra coisa do que os momentos sucessivos que passam , que a série incoerente e descontínua dos seus estados de consciência . B (…) não é B . É , imaginemos : olhar distraído um farol + apressar o passo + reconhecer-se em um espelho de uma confeitaria + (…) + buscar a lua no céu + etc… A primeira consequência desta teoria é que B não existe . A segunda ( e melhor ) é que não existindo N tampouco , muito instantes da quase infinita série de B podem ser iguais aos de N . Vale dizer ; B em determinados momentos é N . Dois homens mortos de sede que provam o primeiro contato com a água – um nos arrabaldes de Ondurmán, em 1885; outro em Pampa de San Luis em 1860 – são literalmente o mesmo homem. Todas as pessoas absortas na venturosa audição de uma só música, são a mesma pessoa. Todos os amantes que se abraçaram com plenitude na amplidão do mundo, que se abraçam e se abraçarão são o mesmo casal: são Adão e Eva.
Ninguém é substancialmente alguém, mas qualquer um pode ser qualquer outro, em qualquer momento.”

( Texto de Jorge Luis Borges publicado no Diário El litoral de Santa fé em 1933 – tradução : José Geraldo de Barros Martins )

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