Hoje fiquei pensando na depressão dominical que acomete muitas pessoas por terem , no dia seguinte, mais uma vez iniciar uma semana de trabalho … talvez , por estar em férias , possa observar o fenômeno de uma maneira neutra . … Por fim , cheguei a conclusão de que , o que não deprime estas pobres almas não é só a árdua labuta, mas principalmente o fato de que todo o domingo fica a sensação que no dia seguinte teremos que vestir o “eu socialmente aceito” , para sobreviver na mediocridade do ambiente profissional … para amenizar este sofrimento aqui vai uma poesia de um precursor do pré-modernismo :
“CANÇÃO DE TODOS
Duas almas deves ter…
É um conselho dos mais sábios:
Uma, no fundo do Ser,
Outra, boiando nos lábios!
Uma, para os circunstantes,
Sôlta nas palavras nuas
Que inutilmente proferes,
Entre sorrisos e acenos:
(…)
Alma que se enche e transborda
Que não tem porquê nem quando,
Que não pensa e não recorda,
Não ama, não crê e não sente,
Mas vai vivendo e passando,
No turbilhão da corrente,
Través intrincadas teias,
Sem prazeres e sem mágoas,
Fugitiva como as águas,
Ingrata como as areias.
(…)
A outra alma, pérola rara
Dentro da concha tranqüila,
Profunda, eterna e tão cara
Que poucos podem possuí-la,
(…)
Alma profunda e sombria,
Que ao fechar-se em cada dia,
Sob o silêncio fecundo
Das horas graves e calmas,
Te ensina filosofia
Que descobriu pelo mundo,
Que aprendeu nas outras almas.
Duas almas tão diversas
Como o poente das auroras:
Uma, que passa nas horas;
Outra, que fica no tempo.”
( Raul de Leôni )
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