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SOBRE CINEMA

Meu avô usava sempre a palavra “fita” para designar o que entendemos por ‘filme” . Pois bem , as duas últimas fitas que assisti trazem aspectos interessante no que tange a observação do heróico ato de vivenciar o cotidiano . Em “Vou Para Casa” ( Je Rentre à la Maison ) de Manoel de Oliveira assistimos uma crítica a mecanização dos afazeres diários , quando um personagem secundário fica momentaneamente mentalmente desestruturado porque a mesinha em que se sentava todos os dias para ler o jornal e tomar café , estava ocupada … temos também a cena quando o protagonista , interpretado por Michel Piccoli , abandona o set de filmagens , e vestindo o figurino do personagem ( no caso Buck Mullingan , do Ulisses de Joyce) entra em um bar e pede um vinho , não em sua lingua natal , mas no idioma do personagem ( o inglês ) , antes que o garçom o servisse , ele se retira ; entra outro freguês e ocupa o mesmo lugar , o garçon pergunta o que ele vai beber e vem a resposta : cerveja !!!

Tive o prazer de assistir uma palestra do supra-citado cineasta lusitano , na qual ele dizia que faz seus filmes bem parados , de propósito , pois hoje os meios de comunicação tornam a vida muito rápida , sendo que é preciso parar um pouco para refletir … Muito bem … A outra película que assisti , O Príncipe , de Ugo Giorgetti , contém um pequeno diálogo genial … Quando o protagonista , interpretado por Eduardo Tornaghi , recém chegado de Paris , vai visitiar seu sobrinho que está em uma clínica psiquiátrica , este , interpretado por Ricardo Blat , começa a descrever como está a capital paulistana ( pois seu tio estava fora de Pindorama há vinte anos ) , ele diz mais ou menos assim : “A cidade está violenta , mas pior que a violência é a mediocridade , a vulgaridade…”

Após a sessão , tomando um chopp , pensei : – Por que é que nenhum político se propõe acabar com tal mal ??? Imagine alguém que aparecesse no horário político da TV dizendo : “Para acabar com a mediocridade vote em fulano !!!” …eu votaria …

Vale ainda salientar que o referido personagem que proferiu está pérola de sabedoria era um professor de história , que inspirado nos escritos de Jorge Luis Borges , incita seus alunos a escrever uma nova história do Brasil , totalmente imaginária , mas nem por isso menos real : “Se Santos Dumont que inventou o avião e hoje está fora da história …é quase um personagem imaginário … porque então é que não inventamos personagens realmente imaginários para dar maior importância a história brasileira ???” ( esta frase também foi citada de memória , mas no filme é mais ou menos assim ) .

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