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TRISTES BOLEROS TROPICAIS

Era um casal estranho , pois ambos possuiam obcessões totalmente diversas : ela , Joelma Janete era fanática por alpinismo ( tanto no sentido esportivo quanto no social ) , enquanto ele , Boris Barrios , era fixado na história das Copas de Mundo de Futebol . Nossa protagonista , oriunda dos cortiços do bairro de Bela Vista , adorava subir montanhas , era destemida e jamais olhava para baixo , nem quando chegava ao topo de uma montanha , o que deixava os colegas de escaladas abismados “– Mas como ??? Você chegou até aqui …veja que vista linda …” costumavam dizer . Ela simplesmente lançava um olhar de desdém sorridente enquanto dizia , sem que os outros suspeitassem que seu gesto provinha de suas considerações sobre a sociedade de classes : “- Desculpe , mas não interessa …” .

Nosso protagonista , oriundo de uma família milionária de Acapulco , não torcia por time algum , tanto em solo brasileiro , quanto em sua pátria natal ( México ) , porém interessava-se em demasia em tudo o que fosse referente ao torneio quadrienal que reúne as principais seleções . Tal predileção originava-se provavelmente nas teorias sobre o individual ( representado pelas equipes tradicionais ) e o coletivo ( retratado pelos escretes nacionais ) que tanto o encantavam . Nas conversas sobre futebol , gostava de falar em seu português , quase sem sotaque : – ” Não me interessa saber sobre a atual zaga do Santos, os zagueiros alemães em 1974 eram Breitner e Vogts ; nem sei quem são os volantes do Palmeiras , mas na esquadra azzura em 1982 jogaram Oriali e Gentile ; os laterais do Corinthians : ignoro , porém no selecionado argentino de 1978 atuaram Olguin e Tarantini ; o ataque do São Paulo ? … o do escrete canarinho em 1970 , era Jairzinho , Rivelino e Tostão , se bem que o Paulo César Caju também jogou …” .

O que este casal tinha em comum ??? O gosto pelos boleros , gênero musical da terra de Boris Barrios e muito tocado nos cortiços em que Joelma Janete passara a infância .

O casamento não se consumou . Um dia o nosso amigo mexicano ficou muito comovido com a estória de uma ruiva , que parou de ter interesse pela espécie humana , pois se decepcionara com o jogo que o selecionado peruano resolveu entregar o ouro e a prata ( o bronze ganhamos ) , naquela copa que aconteceu do outro lado do Rio da Prata . Era uma triste estória … além do mais ela dançava boleros com maior desenvoltura e cantava “Sabor a Mi” do princípio ao fim …

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