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TÁCTICA Y ESTRATÉGIA

Mi táctica es
mirarte
aprender como sos
quererte como sos

mi táctica es
hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible

mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
pero quedarme en vos

mi táctica es
ser franco
y saber que sos franca
y que no nos vendamos
simulacros
para que entre los dos
no haya telón
ni abismos

mi estrategia es
en cambio
más profunda y más
simple
mi estrategia es
que un día cualquiera
mo sé cómo ni sé
con qué pretexto
por fin me necesites.

( Mário Benedetti )

Domingo passado faleceu este grande escritor da República Oriental do Uruguay. Uma coisa que poucos sabem é que ele fez uma ponta em um filme de Eliseo Subiela chamado “El Lado Obscuro del Corazón”(*)… a cena é clássica: Oliverio (Dario Grandinetti), um jovem poeta entra em prostíbulo em Montevidéu, pede uma cerveja e vai dançar um bolero com Anna (Sandra Ballestreros), uma prostituta. Depois os dois voltam ao balcão e Olivério começa a declamar o poema retromencionado … no final do poema Anna toma a palavra e declama a úlima estrofe e diz:
– Tática e Estratégia, Mário Benedetti. Vais me levar a alguma parte?
– Você gosta de Mário Benedetti? – Oliverio pergunta surpreso.
– Não vim aqui para falar de literatura, aqui é um cabaré, não um clube literário.
– Desculpe-me, vamos para sua casa?
E os dois saem de cena … logo depois aparece o própio Mario Benedetti, interpretando um oficial alemão da marinha mercante, e declama um poema na lingua tedesca para outra mulher da vida…
Esta é uma daquelas cenas que por si só, valem mais que dezenas destes filmes medíocres que abundam nas locadoras…

(*) Este título também é homenagem a um outro poema de Benedetti e foi traduzido por mim em 27/06/2003…veja aqui.

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Citação do dia:

Pouco me importa que minha obra seja lida agora ou na posteridade. Posso bem esperar um século por leitores, quando o próprio Deus esperou seis mil anos por um observador. Eu triunfo! Roubei o áureo segredo dos egípcios! Entregar-me-ei à minha embriaguez sagrada!

( Edgar Allan Poe )

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“Estou ficando louca?, pensei. Foram esses a loucura e o medo de Arthur Gordon Pym? Estou recuperando o juízo numa velocidade vertiginosa? As palavras estalavam dentro de minha cabeça, como se uma giganta estivesse gritando dentro de mim, mas do lado de fora o silêncio era total. A oeste, o sol se punha, e as sombras, lá embaixo, no vale, se encompridavam e o que antes era verde agora era verde-escuro, e o que antes era marrom agora era cinza-escuro ou negro.
Vi então uma sombra diferente, como a que as nuvens projetam quando se movem depressa por um grande prado, se bem que essa sombra não fosse projetada por nenhuma nuvem no extremo oriental do vale. Que era isso? Perguntei-me.
(…) E soube que a sombra que deslizava pelo grande prado era uma multidão de jovens, uma inacabável legião de jovens que se dirigia a algum lugar.
(…) Caminhavam para o abismo. Creio que soube disso desde o primeiro momento que os vi.
Sombra ou massa de crianças, caminhando indefectivelmente para o abismo.
Depois ouvi um múrmúrio que o ar frio do entardecer no vale levantava em direção às encostas e as escarpas, e fiquei estupefata.
Estavam cantando.”

(Roberto Bolaño)

Quem ler “O Amuleto” (livro do qual retirei o fragmento citado acima) perceberá que Bolanõs cita o (único) romance de Edgar Allan Poe, “Narrativa de Arthur Gordon Pym”, e nesta citação se desvenda uma das chaves do livro: Tanto a protagonista do livro do chileno-mexicanizado, Auxilio Lacouture, quanto o personagem do Bostoniano- baltimorizado, Arthur Gordon Pym, passam dias enclausurados (ela acuada no banheiro da Faculdade de Filosofia e Letras na Cidade Do México em 1968, diante da invasão de policiais no campus universitário) ele no porão do navio Grampus (ele foge dos pais clandestinamente, escondido no porão de um navio, porém este navio sofre um motim e o amigo que iria tirar ele de lá demora pra burro); ela comendo papel higiênico, ele couro de sapato, e no final de ambas obras, ambos protagonistas afrontam abismos terríveis nos finais de ambas obras!!!
(reparem também na metáfora entre a juventude mexicana e a cruzada das crianças
Li recentemente, além destes livos, uma pequena obra prima de Herman Melville: “Baterbly” … Genial: um copista que em um escritório de advocacia dizia diante das ordens do chefe: “prefiro não fazer” !!!

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CItação do dia:

“For eyes we have no models in the remotely antique. It might have been, too, that in these eves of my beloved lay the secret to which Lord Verulam alludes. They were, I must believe, far larger than the ordinary eyes of our own race. They were even fuller than the fullest of the gazelle eyes of the tribe of the valley of Nourjahad. Yet it was only at intervals –in moments of intense excitement –that this peculiarity became more than slightly noticeable in Ligeia. And at such moments was her beauty –in my heated fancy thus it appeared perhaps –the beauty of beings either above or apart from the earth –the beauty of the fabulous Houri of the Turk. The hue of the orbs was the most brilliant of black, and, far over them, hung jetty lashes of great length. The brows, slightly irregular in outline, had the same tint. The “strangeness,” however, which I found in the eyes, was of a nature distinct from the formation, or the color, or the brilliancy of the features, and must, after all, be referred to the expression. Ah, word of no meaning! behind whose vast latitude of mere sound we intrench our ignorance of so much of the spiritual. The expression of the eyes of Ligeia! How for long hours have I pondered upon it! How have I, through the whole of a midsummer night, struggled to fathom it! What was it –that something more profound than the well of Democritus –which lay far within the pupils of my beloved? What was it? I was possessed with a passion to discover. Those eyes! those large, those shining, those divine orbs! they became to me twin stars of Leda, and I to them devoutest of astrologers. (…)
And thus how frequently, in my intense scrutiny of Ligeia’s eyes, have I felt approaching the full knowledge of their expression –felt it approaching –yet not quite be mine –and so at length entirely depart! And (strange, oh strangest mystery of all!) I found, in the commonest objects of the universe, a circle of analogies to theat expression. I mean to say that, subsequently to the period when Ligeia’s beauty passed into my spirit, there dwelling as in a shrine, I derived, from many existences in the material world, a sentiment such as I felt always aroused within me by her large and luminous orbs. Yet not the more could I define that sentiment, or analyze, or even steadily view it. I recognized it, let me repeat, sometimes in the survey of a rapidly-growing vine –in the contemplation of a moth, a butterfly, a chrysalis, a stream of running water. I have felt it in the ocean; in the falling of a meteor. I have felt it in the glances of unusually aged people. And there are one or two stars in heaven –(one especially, a star of the sixth magnitude, double and changeable, to be found near the large star in Lyra) in a telescopic scrutiny of which I have been made aware of the feeling. I have been filled with it by certain sounds from stringed instruments, and not unfrequently by passages from books.” (*)

( do conto “Ligéia” de Edgar Allan Poe )

(*) “Para os olhos, não encontramos modelos na remota antiguidade. Podia ser, também, que naqueles olhos de minha bem-amada repousasse o segredo a que alude Lorde Verulam. Eram, devo crer, bem maiores que os olhos habituais de nossa raça. Eram mesmo mais rasgados que os mais belos olhos das gazelas da tribo de Nourjahad. No entanto, era somente a intervalos, em movimentos de intensa excitação, que essa peculiaridade se tornava mais vivamente perceptível em Ligéia. E, em tais momentos, era a sua beleza – pelo menos assim surgia diante de minha fantasia exaltada – a beleza de criaturas que se acham acima ou fora da terra, a beleza da fabulosa huri dos turcos. As pupilas eram do negro mais brilhante, veladas por longuíssimas pestanas de azeviche. As sobrancelhas, de desenho levemente irregular, eram da mesma cor. Toda a “estranheza” que eu descobria nos olhos era de natureza distinta da forma, da cor ou do brilho deles e devia ser, decididamente, atribuida à sua expressão. Ah, palavra sem significação, e simples som, por trás de cuja vasta latitude entrincheiramos nossa ignorância de tanta coisa espiritual. A expressão dos olhos de Ligéia. . . Quantas e quantas horas refleti sobre ela! Quanto tempo esforcei-me por sondá-la, durante uma noite inteira de verão! Que era então aquilo – aquela alguma coisa mais profunda que o poço de Demócrito – que jazia bem no fundo das pupilas de minha bem-amada? Que era aquilo? Obsessionava-me a paixão de descobri-lo. Aqueles olhos, aquelas largas, brilhantes, divinas pupilas tornaram-se para mim as estrelas gêmeas de Leda e eu para elas o mais fervente dos astrólogos.
E assim, quantas vezes, na minha intensa análise dos olhos de Ligéia, senti aproximar-se o conhecimento completo de sua expressão! Senti-o aproximar-se, e contudo não estava ainda senhor absoluto dele, e por fim desaparecia totalmente! E (estranho, oh, o estranho de todos os mistérios!) descobri nos objetos mais comuns do universo uma série de analogias para aquela expressão. Quero dizer que, depois da época em que a beleza de Ligéia passou para o meu espírito e nele se instalou como num relicário, eu deduzia de vários seres do mundo material, uma sensação idêntica a que me cercava e me penetrava sempre, quando seus grandes e luminosos olhos me fitavam.
Entretanto, nem por isso sou menos paz de definir essa sensação, de analisá-la, ou mesmo de ter dela uma percepcão integral. Reconheci-a, repito-o, algumas vezes no aspecto duma vinha rapidamente crescida, na contemplação de uma falena, duma borboleta, duma crisálida, duma corrente de água precipitosa. Senti-a no oceano, na queda dum meteoro. Senti-a nos olhares de pessoas extraordinariamente velhas. E há uma ou duas estrelas no céu (uma especialmente, uma estrela de sexta grandeza dupla e mutável, que se encontra perto da grande estrela da Lira) que, vistas pelo telescópio, me deram aquela sensação. Sentindo-me invadido por ela ao ouvir certos sons de instrumentos de corda e, não poucas vezes, ao ler certos trechos de livros.”

Obs.: Vejam como Poe foi precursor tanto de Borges quanto de Machado de Assis, entre outros… se alguém ler o trecho final deste fragmento do conto “Ligéia” e não souber que seu autor foi o gênio de Baltimore, vai achar que quem escreveu foi o brujo de Palermo, quanto ao Bruxo do Cosme-Velho, (que chegou até a traduzir “O Corvo”), será que os olhos de Ligéia não prenunciam os olhos de Capitu???

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Citação do dia:

“Poe concebia Deus como um poeta. O universo, portanto, era uma criação artística, um poema composto por Deus. Sendo o universo um poema, a reação apropriada a ele deveria ser estética e as criaturas de Deus se harmonizariam com Ele na medida em que sua imaginação se enlevasse pela beleza e harmonia da sua criação. E não adorar a beleza, não considerar divino o conhecimento poético seria dar as costas a Deus e cair na desgraça.
Segundo o mito do cosmos de Poe, o planeta Terra fez justamente isso. Caiu e se distanciou de Deus por exaltar a razão científica acima da intuição poética, e por fiar-se no fato material em vez do conhecimento visionário. Os habitantes da Terra então se corromperam pelo racionalismo e pelo materialismo; suas almas adoeceram; e Poe vê essa doença do espírito humano contaminando a natureza física. Os bosques e prados e águas da Terra perderam assim sua beleza original e deixaram de expressar a imaginação de Deus; a paisagem privou-se da perfeição primeira de sua composição, na mesma proporção em que os homens perderam sua capacidade de perceber o belo.
Sendo a Terra um planeta em desgraça, a vida sobre ela é necessariamente um tormento para o poeta… e sua alma é oprimida por tudo o que há ao seu redor.
… Seu único recurso é abandonar qualquer preocupação com as coisas terrenas e dedicar-se o mais exclusivamente possível a visões extraordinárias com a esperança de, em lampejos, encontrar a beleza paradisíaca que é o pensamento de Deus.”

( Richard Wilbur )

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Acabei de ler “Os Lusíadas”… e gostei sobretudo do final, quando após ter descoberto o caminho das Índias, Vasco da Gama é levado por Vênus para a Ilha dos Amores, onde seus marinheiros são contemplados pelas ninfas com vinhos, manjares e outros prazeres … Lá é dado ao ilustre navegador a oportunidade de contemplar o funcionamento do universo (segundo a astronomia da época, a ptolomaica). Adoro estes momentos em que os personagens após enfrentarem agruras, alcançam um vislumbre do universo !!!
Aqui vão três fragmentos que selecionei, o primeiro (estrofe 14 do Canto VI) quando Baco (que quer atrapalhar as conquistas lusitanas) vai até o reino de Netuno, convencê-lo para mandar tempestades para afundar a heróica esquadra … o segundo fragmento (estrofes 79 e 80 do Canto X) é quando Vasco da Gama vislumbra a “máquina do mundo” e o terceiro (estrofe 145 do Canto X) é um desagravo de Luís de Camões contra os seus patrícios (antevendo assim a derrocada do Império Português) … É curioso que Camões, antes de morrer, vendo Portugal passar para o domínio espanhol (devido ao desaparecimento de Dom Sebastião em Alcácer-Quibir) escreveu para um amigo estas palavras: “Enfim, acabarei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado à minha pátria, que não me contentei de morrer nela, mas com ela”.
Aqui vão os fragmentos:

Pouca tardança faz Lieu irado
Na vista destas cousas, mas entrando
Nos paços de Neptuno, que, avisado
Da vinda sua, o estava já aguardando,
Às portas o recebe, acompanhado
Das Ninfas, que se estão maravilhando
De ver que, cometendo tal caminho,
Entre no reino d’água o Rei do vinho

(Os Lusíadas – estrofe 14 do canto VI)

Uniforme, perfeito, em si sustido,
Qual, enfim, o Arquetipo que o criou.
Vendo o Gama este globo, comovido
De espanto e de desejo ali ficou.
Diz-lhe a Deusa: «O transunto, reduzido
Em pequeno volume, aqui te dou
Do Mundo aos olhos teus, pera que vejas
Por onde vás e irás e o que desejas.

«Vês aqui a grande máquina do Mundo,
Etérea e elemental, que fabricada
Assi foi do Saber, alto e profundo,
Que é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
Globo e sua superfície tão limada,
É Deus; mas o que é Deus, ninguém o entende,
Que a tanto o engenho humano não se estende.

(Os Lusíadas – estrofes 79 e 80 do Canto X)

No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dhüa austera, apagada e vil tristeza.

(Os Lusíadas – estrofe 145 do canto X)

Para finalizar fiquem com a homenagem que Jorge Luís Borges fez ao poeta lusitano:

“A Luís de Camões

Sem cólera nem mágoa arromba o tempo
As heróicas espadas. Pobre e triste,
À nostálgica pátria regrediste
Para com ela morrer nesse momento,
O capitão, no mágico deserto.
Tinha-se a flor de Portugal perdido
E o áspero espanhol, antes vencido,
Ameaçava o seu costado aberto.
Quero saber se aquém da derradeira
Margem compreendeste humildemente
Que o império perdido, o Ocidente
E o Oriente, o aço e a bandeira,
Perduraria (alheio a toda a humana
Mudança) em tua Eneida lusitana.”

( Jorge Luis Borges)

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“Nenhuma emoção é mais forte do que entrar no quarto da mulher que dorme.”

( Antônio Maria )

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Citação do dia:

“O Cônsul afinal baixou os olhos. Quantas garrafas desde então? Em quantos copos, quantas garrafas desde então sozinho ele se escondera? De repente ele as viu garrafas de aguardiente, de anís, de jerez, de Highlan Queen, e viu os copos, uma babel de copos – uma torre perfeita, como a fumaça do trem daquele dia, construída até o céu, que desmoronava, os copos tombavam se espatifavam rolavam morro abaixo pelos jardins do Generalife e as garrafas quebrando-se, garrafas de porto, tinto, blanco, garrafas de Pernod, Oxygènée, absinto, as garrafas esborrachando-se, jogadas fora, caíam com um baque surdo no chão dos parque, embaixo dos bancos, camas, cadeiras de cinema, escondiam-sem em gavetas de consulados, garrafas de Calvados aos cacos, ou estilhaçando-se numa explosão feérica, arremessados em monturos de lixo, lançadas ao mar, no Mediterrâneo, no Cáspio, no Caribe, garrafas flutuando no oceano, escoceses mortos nas serranias atlânticas – e ele agora via, cheirava todas elas, desde o começo, garrafas, garrafas, garrafas, e copos, copos, copos, de bitter, Dubonnet, Falstaff, Rye, Johnny Walker, Vieux Whiskey blanc Canadien, os aperitivos, os digestivos, os demis, os dobles, os noch ein Herr Ober, os et glas Arak, os tusen tak, as garrafas, as garrafas, as lindas garrafas de tequila e as cabaças, as cabaças, as cabaças, as milhões de cabaças de delicioso mescal… O Cônsul, sentado, não se mexia. Sua consciência soava amortecida pelo barulho da água. (…) De fato, como poderia ele esperar encontrar-se, começar de novo quando em algum lugar, numa destas garrafas, talvez perdidas ou quebradas, , num desses copos jazia para sempre a chave solitária da sua identidade?”

( Malcolm Lowry – tradução: Leonardo Fróes )

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Citação do dia:

“O Cônsul, chupando limão, sentiu o fogo da tequila descer por sua espinha como um raio que atinge uma árvore que, no mesmo instante, miraculosamente floresce.”

( Malcom Lowry – tradução: Leonardo Fróes )

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Citação do dia:

“Todavía hoy me cuesta cruzar el Pasaje Güemes sin enternecerme irónicamente con el recuerdo de la adolescencia al borde de la caída; la antigua fascinación perdura siempre, y por eso me gustaba echar a andar sin rumbo fijo, sabiendo que en cualquier momento entraría en la zona de las galerías cubiertas, donde cualquier sórdida botica polvorienta me atraía más que los escaparates tendidos a la insolencia de las calles abiertas. La Galerie Vivienne, por ejemplo, o el Passage des Panoramas con sus ramificaciones, sus cortadas que rematan en una librería de viejo o una inexplicable agencia de viajes donde quizá nadie compró nunca un billete de ferrocarril, ese mundo que ha optado por un cielo más próximo, de vidrios sucios y estucos con figuras alegóricas que tienden las manos para ofrecer una guirnalda…” (*)

(*) Ainda hoje me custa atravessar o Pasaje Güemes sem me enternecer ironicamente com a lembrança da adolescência à beira da queda; o antigo fascínio perdura, e por isso eu gostava de caminhar sem rumo determinado, galerias cobertas, onde qualquer espelunca sórdida e empoeirada me atraía mais do que as vitrinas expostas à insolência das ruas abertas. A Galerie Vivienne, por exemplo, ou o Passage des Panoramas com suas ramificações, seus becos quem acabam num sebo ou numa inexplicável agência de viagens onde talvez ninguém nunca tenha comprado uma passagem de trem, esse mundo que escolheu um céu próximo, de vidros sujos e gessos com figuras alegóricas que estendem a mão para oferecer uma grinalda…

( Júlio Cortázar – tradução: Glória Rodrigues )

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