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ERZA POUND POESIA – Editora Cobalto – Introdução, organização e notas: Augusto de Campos 

Finalmente foi publicada em Pindorama uma coletânea com as poesias de Erza Pound… se pensarmos que os poemas longos mais importantes do modernismo (*) são “Homage to Sextus Propertius”, “Hugh Selwyn Mauberley” de Pound e “The Waste Land” e “The Hollow Man” de T.S. Eliot, é de se espantar que desde 1981 tenham sido publicadas aqui duas coletâneas de Eliot (**) e somente no final de 2024 tenha saído uma coletânea de Pound.

Antes do texto, gostaria de comentar a edição pelas imagens: temos fotografias de Pound realizadas por Arnald Genthe, Walter Mori, Wesley Duke Lee, Décio Pignatari (entre outros), fac-símiles das cartas que ele enviou ao grupo Noigandres e até uma vortografia (***) de Erza Pound realizada por Alvim Cobum em1917.

Quanto ao texto, temos um bom apanhado da poesia de Erza Pound, traduzidos por Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Mário Faustino e José Lino Grunewald, dos longos poemas retromencionados a poemas curtos como o famoso “Numa Estação do Metrô” (****) e principalmente 17 Cantares (fragmentos de Os Cantos), completados por ensaios, tanto como o texto introdutório escrito por Augusto de Campos, quanto os textos que seu irmão Haroldo escreveu, um sobre a visita ao apartamento de Erza Pound em Veneza, outro logo após a morte de mesmo, quando compara a obra do poeta ao Templo Malatestiano edificado em Rimini por Leon Battista Alberti.

Pound utiliza uma linguagem associativa baseada no ideograma chinês ao invés do discursso poético linear, uma cosmovisão épica sem um fio narrativo. Tal qual o ideograma chinês no qual a posição dos signos determina o significado, a justaposição de temas gera a informação, temos por exemplo, no terceiro canto os temas de Inês de Castro, El Cid e a cidade de Veneza… o que teria a ver uma coisa com a outra? Na minha visão, se considerarmos que Inês de Castro foi coroada depois de morta e que o cadáver de El Cid foi amarrado em um cavalo para afugentar os mouros (sugerindo que ele não morrera), podemos inferir daí que Veneza seria uma cidade cadáver… (será que foi por isso que Erza Pound está enterrado em San Michele in Isola, aquela ilha-cemitério veneziana?)

Não é uma literatura fácil, para compreender o poeta, temos que entender também o Erza Pound critico e tradutor, seja nos Personae, poemas em que outros poetas ditam sua linguagem através de Pound, seja nos Os Cantos.

Aliás, sobre Os Cantos, segue uma declaração do próprio autor:

“Não haverá nenhum plano, nenhuma crônica de acontecimentos, nenhuma lógica do discurso, apenas dois temas, a descida ao Hades de Homero, uma Metamorfose de Ovídio, e misturadas a eles, figuras históricas medievais e modernas.” 

Mas o que tornou Erza Pound o mais importante nome da literatura do século XX foi além de sua obra como poeta, crítico e tradutor, a sua contribuição para a publicação de outros artistas como T.S. Eliot, James Joyce, Yeats, Marianne Moore, Cummings, William Carlos Williams, etc. Hemingway, também ajudado por ele, disse que Pound destinava um quinto do seu tempo para a própria obra e o restante para promover as obras dos seus amigos…

Finalmente, não posso deixar de lado a sua lamentável adesão ao fascismo, o que o levou a prisão como traidor por ter transmitido programas de radio apoiando Mussolini… Porém enquanto Erza Pound foi colocado em uma jaula para animais (gorilla cage) em Pisa e depois transferido para uma prisão em solo norte americano, membros do exército nazista e cientistas do Reich foram trabalhar livremente nos Estados Unidos, ou seja, muitas vezes o artista é perseguido, enquanto que cientistas e militares que cometeram os mesmos erros são perdoados…

Mas enfim, esta coletânea é espetacular… entretanto espero que publiquem aqui uma biografia dele, bem como livros que expliquem detalhadamente sua obra.

(*) Somente agora, está se verificando a importância das mulheres na poesia modernista, com a descoberta de Mina Loy, Hope Mirrlees e Nancy Cunard, que escreveram três poemas longos magníficos: “Songs to Joannes”, “Paris:A Poem” e “Parallax”, respecivamente, publicados aqui no livro TRÊS POETAS MODERNÍSSIMAS – Editora 34 – Organização, tradução, ensaios e notas de Álvaro A. Antunes.

(**) T. S. ELIOT POESIA – Editora Nova Fronteira – Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira – 1981/ T.S. ELIOT POEMAS – Companhia das Letras – Organização, tradução e posfácio de Caetano W. Galindo – 2018.

(***) Fotografia abstratizande obtida através de três espelhos aclopados.

(****) IN A STATION OF THE METRO

The apparition          of these faces          in the crowd    :

Petals                           on a wet, black        bough.

NUMA ESTAÇÃO DE METRÔ

A visão              destas faces        dentre a turba     :

Pétalas              num ramo úmido         escuro.

(Tradução: Augusto de Campos)

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