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{ Monthly Archives } dezembro 2004

“CASO CLÍNICO

O Destino é o acaso atacado de mania de grandeza.”

( Mário Quintana )

Acabo de voltar da mostra “Cinema Brasileiro : a vergonha de uma nação” que vai até o final de semana que vem , na Sala Cinemateca … a idéia é passar os filmes brasileiros que estão praticamente excluídos da cinematografia oficial … assisti “O Quinto Poder” um projeto de Carlos Pedregal dirigido por Alberto Pieralisi : uma potência estrangeira tenta dominar Pindorama através de propaganda subliminar . No início da fita os membros da organização secreta só falam em alemão , um bêbado que estava assistindo se levantou dizendo “Eu vou embora , eu não entendo inglês !!!”… nisto um personagem diz : “A partir de agora só falaremos em português , para não levantar suspeitas” : gargalhada geral !!! parecia que ele estava falando com o cara da platéia …

A montagem de Ismar Porto e a fotografia de Ozen Sermet antecipam idéias que apareceriam anos mais tarde em filmes como “O Bandido da Luz Vermelha” ( cenas de manchetes de jornais sensacionalistas misturados com cenas de rebelião popular ) ou “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” ( perseguição de veículos no caminho do Corcovado ) … É interessante também que a obra foi rodada no governo Jango , e mostra pessoas hipnotizadas pela mensagem subliminar gritar : -“Vamos fazer a revolução !!!” enquanto o mocinho diz : – “Que revolução ??? que besteira é esta ???” … ou seja , o autor anteviu o golpe de 64 … No final o mocinho com o auxílio do exército ( um jipe e um caminhão com meia dúzia de gatos pingados ) consegue salvar o Brasil do temível plano de dominação …

Já o outro filme que vi “A Psicose de Laurindo” de Nilo Machado justifica o título da mostra … Assistam !!!

UM CIDADÃO COMUM

Sempre subindo a ladeira do nada,

Topar em pedras que nada revelam.

Levar às costas o fardo do ser

E ter certeza que não vai ser pago.

Sentir prazeres, dores, sentir medo,

Nada entender, querer saber tudo.

Cantar com voz bonita prá cachorro,

Não ver “PERIGO” e afundar no caos.

Fumar, beber, amar, dormir sem sono,

Observar as horas impiedosas

Que passam carregando um bom pedaço

da vida, sem dar satisfações.

Amar o amargo e sonhar com doçuras

Saber que retornar não é possível

Sentir que um dia vai sentir saudades

Da ladeira, do fardo, das pedradas.

Por fim, de um só salto,

Transpor de vez o paredão.

( Torquato Neto )