“CASO CLÍNICO
O Destino é o acaso atacado de mania de grandeza.”
( Mário Quintana )
Acabo de voltar da mostra “Cinema Brasileiro : a vergonha de uma nação” que vai até o final de semana que vem , na Sala Cinemateca … a idéia é passar os filmes brasileiros que estão praticamente excluídos da cinematografia oficial … assisti “O Quinto Poder” um projeto de Carlos Pedregal dirigido por Alberto Pieralisi : uma potência estrangeira tenta dominar Pindorama através de propaganda subliminar . No início da fita os membros da organização secreta só falam em alemão , um bêbado que estava assistindo se levantou dizendo “Eu vou embora , eu não entendo inglês !!!”… nisto um personagem diz : “A partir de agora só falaremos em português , para não levantar suspeitas” : gargalhada geral !!! parecia que ele estava falando com o cara da platéia …
A montagem de Ismar Porto e a fotografia de Ozen Sermet antecipam idéias que apareceriam anos mais tarde em filmes como “O Bandido da Luz Vermelha” ( cenas de manchetes de jornais sensacionalistas misturados com cenas de rebelião popular ) ou “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” ( perseguição de veículos no caminho do Corcovado ) … É interessante também que a obra foi rodada no governo Jango , e mostra pessoas hipnotizadas pela mensagem subliminar gritar : -“Vamos fazer a revolução !!!” enquanto o mocinho diz : – “Que revolução ??? que besteira é esta ???” … ou seja , o autor anteviu o golpe de 64 … No final o mocinho com o auxílio do exército ( um jipe e um caminhão com meia dúzia de gatos pingados ) consegue salvar o Brasil do temível plano de dominação …
Já o outro filme que vi “A Psicose de Laurindo” de Nilo Machado justifica o título da mostra … Assistam !!!
UM CIDADÃO COMUM
Sempre subindo a ladeira do nada,
Topar em pedras que nada revelam.
Levar às costas o fardo do ser
E ter certeza que não vai ser pago.
Sentir prazeres, dores, sentir medo,
Nada entender, querer saber tudo.
Cantar com voz bonita prá cachorro,
Não ver “PERIGO” e afundar no caos.
Fumar, beber, amar, dormir sem sono,
Observar as horas impiedosas
Que passam carregando um bom pedaço
da vida, sem dar satisfações.
Amar o amargo e sonhar com doçuras
Saber que retornar não é possível
Sentir que um dia vai sentir saudades
Da ladeira, do fardo, das pedradas.
Por fim, de um só salto,
Transpor de vez o paredão.
( Torquato Neto )